Crie o impossível, cartada privatista
“Crie o Impossível” é mais uma cartada do governo para a privatização da educação
Em meio a um cenário caótico na educação estadual, na última sexta-feira (3), a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) foi uma das promotoras do evento “Crie o Impossível”, organizado pela ONG Embaixadores da Educação, que visa “inspirar” alunos(as) de Ensino Médio da rede pública.
Amplamente divulgado pela grande mídia gaúcha como “a maior aula aberta” do Brasil, o evento esconde em seu escopo uma propaganda descabida do novo Ensino Médio e seus ideais de empreendedorismo.
Durante a ação, onze palestrantes contaram suas trajetórias e como ao empreender, “venceram” na vida. O empreendedorismo, caminho para um mercado precarizado e sem garantias, consta nas competências gerais da reforma do Ensino Médio.
Com uma formação básica ainda mais esvaziada – História do Brasil, por exemplo, não aparece no currículo que é repleto de menções ao marketing – o que percebe-se é um ensino cada vez mais voltado para a vontade dos empresários e a criação de mão de obra barata. Os egressos do novo Ensino Médio formarão uma massa trabalhadora acrítica e apática, que não questionará a sua condição social.
Além da ONG Embaixadores da Educação e do Sebrae, diversas entidades representantes de movimentos que mascaram intenções privatistas, com ideais de filantropia e empreendedorismo social, estão por trás do “Crie o Impossível”.
O evento deixa claro o objetivo da gestão atual: repassar funções e responsabilidades que seriam do governo para instituições do terceiro setor. As próprias formações dos professores(as) que ministram o novo currículo já são promovidas pelo Sebrae, em um cenário onde o Sistema S ganha cada vez mais espaço na educação que deveria ser pública.
Até o momento, o CPERS tem conhecimento de um gasto em torno de R$ 171 mil de verba pública com o evento. Dinheiro esse que poderia estar sendo investido em alguma obra emergencial, dentre as várias necessárias na rede pública.
O que percebe-se é que o evento serviu para mostrar aos alunos(as) das escolas estaduais que um futuro empreendendo é mais valioso que o investimento em uma universidade.
Em recente reportagem publicada pelo Sindicato, conversamos com estudantes e educadores(as) das escolas piloto do projeto e a conclusão é somente uma: o Novo Ensino Médio se trata de uma reforma inadequada, apartada do contexto social e da realidade das instituições de ensino estaduais e coloca em risco o futuro dos estudantes.
“Na minha turma, alunos que estudavam desde o Ensino Fundamental pediram transferência para outra escola que ainda não implantou esse novo Ensino Médio. O principal motivo foi pela retirada de algumas disciplinas que são consideradas importantes para quem visa fazer um vestibular como o Enem”, explica a aluna do 3° ano do Ensino Médio do CE São Patrício, escola-piloto de Itaqui, Larissa Serres Espinosa.
O CPERS defende a revogação do novo Ensino Médio e a construção de uma nova proposta com ampla discussão do tema com a sociedade através da instalação de Conferências Municipais, Estaduais e Federais para a construção de uma proposta educacional nacional.
É urgente envolver toda a comunidade escolar, incluindo pais e alunos(as), na defesa de uma educação pública, gratuita e de qualidade, com gestão democrática e comprometida com a formação integral do cidadão.
Para criar o impossível, é preciso uma política real de redução das desigualdades, com investimentos constantes na manutenção e qualificação dos equipamentos públicos que compõem a rede, bem como na valorização dos educadores(as).