Crise do MEC e equipe do Inep
Crise do MEC: Equipe do Inep começa a entregar cargos após demissão de coordenadora de avaliação de cursos de graduação
Respeitada no meio acadêmico, Sueli Macedo Silveira coordenava a área desde 2016. Exoneração foi determinada pelo ministro Milton Ribeiro
Paula Ferreira, Melissa Duarte e Renata Mariz 28/04/2021
BRASÍLIA — Depois da exoneração da coordenadora-geral de Avaliação dos Cursos de Graduação e Instituições de Ensino Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Sueli Macedo Silveira, seus subordinados diretos, que ocupavam cargos comissionados na área, começaram a pedir para deixar o setor. Segundo fontes, até o momento, quatro pessoas já teriam colocado o cargo à disposição por não concordarem com a saída da pedagoga, muito respeitada no ambiente acadêmico.
Servidora de carreira, Silveira estava no setor de avaliação desde 2008 e, oito anos depois, assumiu a coordenação da área, que também articula ações junto ao Conselho Nacional de Educação (CNE) e às secretarias do Ministério da Educação (MEC). Procurada pelo GLOBO, ela não quis comentar o caso. A exoneração, a pedido do ministro da Educação, Milton Ribeiro, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) nesta quarta-feira.
No lugar dela, assume a médica veterinária Helena Cristina Carneiro Cavalcanti de Albuquerque. Com doutorado e mestrado em Ciências Animais pela Universidade de Brasília (UnB), ela trabalhava na Diretoria de Programas e Bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superio (Capes) e, até 2018, foi coordenadora-geral de Programas Internacionais da fundação. As informações constam no Currículo Lattes dela.
O pastor e professor, Milton Ribeiro, tem promovido mudanças na gestão e na atuação do Inep. Entre os pontos de interesse dele, está a área antes ocupada por Silveira, responsável por avaliar instituições de ensino superior do Brasil, além de credenciar e reconhecer cursos de graduação. Considerada sensível dentro do instituto, o setor pode trocar a ordem das avaliações e também os avaliadores, o que pode ajudar o ministro a concretizar o desejo de modificar regras de avaliação das universidades particulares.
Procurado pela reportagem, o Inep não se manifestou até a publicação deste texto.
Neste mês, servidores do Inep publicaram carta em que afirmam que o instituto sofre pressão ideológica, diante das novas indicações desde o início do governo. Servidores também já fizeram críticas à contratação de pessoas de fora da autarquia para avaliar a educação infantil. Alinhado ao presidente, o ministro tem seguido a cartilha de Bolsonaro.
Esse não foi o primeiro atrito provocado por Ribeiro junto ao instituto, vinculado ao MEC. Em fevereiro, o ministro exonerou o então presidente do Inep, Alexandre Lopes, por divergirem quanto à nomeação para comandar a Diretoria de Avaliação da Educação Básica (Daeb), responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A última edição, realizada em meio ao avanço da pandemia, fracassou em meio ao recorde de abstenção de estudantes.
Ex-secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior do MEC, Danilo Dupas Ribeiro substituiu Lopes na presidência da autarquia federal. Um dos pontos que pesou para a nomeação dele foi o interesse do ministro na regulação do ensino superior privado.
Outro desgaste foi a escolha de Claudia Mansani Queda de Toledo para a presidência da Capes, que avalia a pós-graduação brasileira, além de divulgar produções científicas e gerenciar programas de cooperação internacional. A advogada e professora ocupava o cargo de reitora do Centro Universitário de Bauru (ITE Bauru), do qual sua família é fundadora, e onde Ribeiro e o advogado-geral da União, André Luiz Mendonça, se formaram em Direito. Com trechos copiados na dissertação de mestrado, Toledo admitiu a cópia, mas negou o plágio.