Crise escolar
Crise escolar nas redes estaduais
Tristeza com os temporais. Pessoas desesperadas. Tristeza com tantos usuários do IPE correndo risco de não ter atendimento hospitalar. Preocupação com professores e escolas. Todo dia algum político diz orgulhosamente que a educação deve ser prioridade no país. Em ano de campanha eleitoral, todos repetem o refrão. Os dados disponíveis, porém, desmentem as declarações mais enfáticas e pomposas. No Brasil, educação não é prioridade. Na semana passada, manchetes sobre educação produziram um choque de realidade: “Redes estaduais de ensino já têm mais professores temporários do que concursado”; “Em 10 anos, escolas estaduais do país perderam um terço dos professores efetivos – Governos têm priorizado contratação de temporários; dados apontam que modelo precariza trabalho dos docentes e prejudica desempenho dos alunos”; “Número de professores concursados nas redes estaduais é o menor em dez anos, aponta estudo”; “Maioria dos professores das escolas estaduais são temporários”, etc.
O jornal O Globo resumiu: “Dados do Todos pela Educação mostram que entre 2013 e 2023 houve aumento de 126 mil professores temporários (55% de crescimento) e redução de cerca de 184 mil professores efetivos (36% de queda)”. A situação dos professores faz pensar numa bela e antiga canção, “pavão misterioso”, que diz “eles são muitos, mas não podem voar”. No caso, por terem as asas podadas. O argumento é sempre o mesmo: falta de recursos. Por trás dessa pretensa justificativa inquestionável escondem-se outras hipóteses, uma delas, certamente a mais forte, de natureza ideológica: a vontade de diminuir o tamanho dos Estado, de reduzir o funcionalismo, de ficar com a possibilidade de “demitir”, de operar como numa empresa privada.
Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, o CPERS-Sindicato está mobilizado por reajuste, em 79 anos de lutas incansáveis. Em março de 2024, o CPERS disponibilizou no seu site uma pergunta inquietante: “Se educação é prioridade, o que explica 49 mil jovens fora da escola no Rio Grande do Sul?” Imagino o governo murmurando: não faz pergunta difícil. No reino desencantado da educação básica pública a exceção vira norma. Roberto Simões, querido colega no PPGCOM/PUCRS, especialista em Relações Públicas, costumava dizer que quem dá missão, dá meios. Aprovou-se num Novo Ensino Médio, dando ao aluno a opção de escolher percursos. Muito bonito. Os meios não foram dados para todos. Virou uma ilusão, quando não uma enganação, com matérias bizarras.
Simulação de liberdade. Na direita, cada vez mais orgulhosa de suas posições engessadas e definitivas, sempre tem quem goste de comparar o Brasil, em termos de educação, com a Coreia do Sul, menos pelos investimentos feitos e mais por certo modelo impositivo de controle ao gosto dos saudosos da disciplina autoritária, que se confunde com autoridade. Com certeza a alternativa não está na Coreia do Norte. Não custa, porém, dar uma espiada nos países escandinavos. Ou na Alemanha e na França mesmo. Educação é coisa muito séria. Precisamos educar os nossos políticos para que parem de fazer pose e encarem a realidade. Está ruim. Se continuar assim, ficará pior.
FONTE: