Crise na educação básica

Crise na educação básica

Crise na educação básica pode afetar mercado de trabalho por 20 anos

Despreparo dos futuros profissionais poderá ser entrave para aumentar produtividade e competitividade

Não há dúvida de que o momento que estamos vivendo deixará marcas por muitos anos. Seja na economia ou na saúde pública, não há solução rápida ou mágica para reverter os danos causados pela pandemia. E o mesmo desafio se aplica à educação e ao futuro do mercado de trabalho.

Antes do estouro do Covid-19 no Brasil, em fevereiro de 2020, uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que cinco em cada dez indústrias brasileiras alegavam dificuldade em contratar empregados por falta de qualificação. O maior obstáculo está no recrutamento de profissionais de nível técnico, gargalo indicado por 90% das 1.946 empresas que participaram do estudo.

O problema da qualificação profissional tem seu início na formação básica. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) mostra que 95% dos brasileiros têm alguma deficiência em sua base educacional. Com o fechamento das escolas durante a pandemia e as dificuldades de adaptação ao modelo online, a tendência é de agravamento no cenário, com o percentual de crianças de 10 anos ainda incapazes de entender um texto simples – a chamada faixa de “pobreza de aprendizagem” - saltando de 50% para 70% no Brasil.

A crise é ainda mais grave se considerarmos as perdas causadas pela falta de socialização dos estudantes. A convivência social é a base para a construção da autoconfiança, da independência e da capacidade de resolver problemas, competências fundamentais para a vida em sociedade e cada vez mais consideradas pelo mercado de trabalho. O peso desses fatores para o sucesso profissional é destacado pelo estudo de James Heckman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, que mostrou que profissionais que desenvolveram suas habilidades socioemocionais desde a primeira infância ganhavam, em média, três vezes mais.

Considerando a idade escolar entre os 6 e 17 anos, a geração formada durante a pandemia deverá ingressar no mercado de trabalho ao longo dos próximos cinco, dez ou quinze anos. E, então, o despreparo desses futuros profissionais poderá se tornar um entrave para o aumento de produtividade e competitividade de diversos setores da economia.

Flavia Rezende, sócia-diretora da Loures Consultoria




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