Crise para o direito das crianças
"A crise climática é uma crise para o direito das crianças", diz oficial do Unicef
Congresso Internacional de Jornalistas de Educação aborda o impacto de tragédias como a enchente que aconteceu no RS para os estudantes. Evento ocorre em São Paulo
O Congresso Internacional de Jornalismo de Educação acontece em São Paulo.
Isabella Sander / Agência RBS
A crise climática passou a ser vista de norte a sul do Brasil nos últimos anos. Para Danilo Moura, oficial de Clima, Meio Ambiente e Redução de Riscos de Desastres no Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), não basta olhar para o problema apenas quando ele está acontecendo.
— A crise climática é uma crise para os direitos das crianças. Já estamos vivendo em um planeta que tem um padrão meteorológico diferente do que existia há algumas décadas e precisamos entender como essa nova realidade interage com a vida de crianças e adolescentes e a de todo mundo — destaca o oficial.
Moura participou de uma mesa de debate sobre crise climática e educação, realizada nesta segunda (1º) no Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, em São Paulo. Além dele, estiveram presentes na mesa a secretária estadual de Educação do RS, Raquel Teixeira, e o professor Beto Fernandes Torres, da Secretaria Municipal de Educação de Benjamin Constant, no Amazonas. O evento é realizado pela Jeduca – Associação de Jornalistas de Educação.
O representante do Unicef ressalta que três em cada cinco crianças e adolescentes brasileiros já vivem expostos a múltiplos riscos climáticos. Entre os efeitos disso, está não apenas a existência de pessoas dessa faixa etária vivendo em abrigos, mas dificuldades de acesso à água, insegurança alimentar devido à falta de merenda e problemas de saúde, em função da poluição do ar, por exemplo.
— As políticas ambientais e climáticas não consideram as necessidades, as vulnerabilidades e as potencialidades específicas de crianças e adolescentes, enquanto as políticas setoriais de educação, saúde, segurança alimentar não consideram os impactos de longo prazo da crise climática. É um elemento que precisa ser integrado para podermos pensar em soluções de longo prazo — avalia Moura.
Contexto do RS
A secretária Raquel apresentou, durante o evento, o quadro verificado na educação do Rio Grande do Sul durante e após a enchente. No dia 5 de maio, o cenário era 608 escolas com infraestrutura danificada em quase todas as regiões, o que representa em torno de um quarto da rede estadual. Para lidar com a complexidade da situação, foi criado um mapa interativo que diariamente era alimentado com informações sobre as regiões e instituições. A situação das escolas foi elencada de cinco formas:
- Tipo 1: 1.263 escolas (54%) com prédio sem danos e comunidade pouco ou nada atingida
- Tipo 2: 535 escolas (23%) com prédio sem danos, mas com dificuldade de acesso ou sendo usado para ajuda humanitária, e com comunidade pouco atingida
- Tipo 3: 443 escolas (19%) com prédios com danos simples e comunidade consideravelmente atingida
- Tipo 4: 77 escolas (3%) danificadas e necessitando de reformas e com comunidade bastante atingida
- Tipo 5: 20 escolas (1%) que necessitam de reconstrução total ou podem ser mudadas de local, e com comunidade severamente atingida
— Tivemos escolas em que 100% dos professores e funcionários perderam suas casas e tudo o que tinham. No tipo 5, de 20 escolas, seis são indígenas, o que mostra a fragilidade, a vulnerabilidade de alguns grupos populacionais, principalmente indígenas, negros e pobres — observa.
Para preparar a população para essa nova realidade de crise climática, a Secretaria Estadual de Educação tem trabalhado na elaboração do programa Escolas Resilientes, estruturado em três eixos: elaboração de planos de prevenção e preparação, junto com a Defesa Civil e universidades; preparação da infraestrutura e mudanças pedagógicas.
— Na parte pedagógica, vamos colocar as competências socioemocionais e as mudanças climáticas como temáticas transversais do Ensino Fundamental ao Médio. Eu insisto no termo "climática", porque quando pensamos em "ambiental", imaginamos a coleta seletiva, por exemplo, o que é muito importante, mas estamos falando de incluir no currículo de todos os anos informações sobre o clima do Rio Grande do Sul, sobre o que é enchente, correnteza, ciclone extratropical e todos os movimentos que acontecem lá — pontua Raquel.
Ainda não há data para apresentar o programa como um todo, mas a proposta curricular deve ser implementada já em 2025.