Cuidados com a margem consignável
Os cuidados que os servidores devem ter com a margem consignável
Avaliações mistas pautam as conversas sobre o benefício ao funcionalismo
O empréstimo consignado é presença confirmada nos contracheques da maioria dos servidores públicos dos estados, dos municípios e da União. Por seus juros mais baixos, é atrativo aos funcionários que — muitas vezes sem salários melhores e reajustes reais — recorrem a uma dívida para pagar outra. É comum diversos trabalhadores reclamarem que, ao receber seus vencimentos, os descontos são selvagens, e pouco sobra para as necessidades básicas.
Por isso, a margem consignável é onipresente nos debates sobre o endividamento do funcionalismo público. Esta se refere à porcentagem máxima do salário do servidor que pode ser comprometida com descontos em folha, como empréstimos pessoais, consignados, planos de saúde, entre outros.
É preciso, porém, estar atento, porque o aumento da margem consignável não representa necessariamente um “desafogo” nas contas. A dívida continua lá.
A Medida Provisória (MP) 1.170, de 2023, enviada ao Congresso Nacional pelo governo federal, foi aprovada no Senado Federal na quarta-feira (dia 23). A proposta reajustou os vencimentos de servidores federais civis, incluídos os aposentados e os pensionistas da União, em 9%, desde de maio deste ano.
Mesmo com a vitória no parlamento, a relatora da MP, deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA), criticou a retirada do trecho que previa a ampliação da margem consignável dos funcionários em dez pontos percentuais, de 35% para 45%.
Na Câmara dos Deputados, um projeto de lei (PL) tramita em comissões permanentes para tratar exatamente da questão da margem consignável. De autoria da deputada federal Maria do Rosário (PT-SP), o PL 2.591, de 2023, busca tornar facultativa a reserva de 5% na remuneração mensal do servidor público federal para o pagamento de empréstimos consignados relativos ao cartão de crédito e ao cartão consignado de benefício.
Na cidade do Rio de Janeiro, uma mensagem do Executivo pretende aumentar a margem dos servidores da prefeitura.
Por fim, o tema é debatido por todas as esferas, mas consenso não é atingido.
Avaliações mistas pautam as conversas sobre o benefício ao funcionalismo
A parlamentar Maria do Rosário explica que a falta de reajustes salariais e a alta da inflação contribuíram para a perda do poder de compra do funcionalismo:
– Além desses fatos, o sistema contribuiu para transformar os empréstimos dos servidores em dívidas impagáveis, com a cobrança de juros abusivos em uma parte dos valores consignados em seus contracheques.
As idas e vindas de projetos sobre o tema, defende ela, tem prejudicado os servidores públicos:
– É necessário buscar uma saída justa e razoável que lhes assegure o direito de utilizarem a margem consignada.
Mozar Carvalho, advogado especialista em questões econômicas, informa que os trabalhadores devem analisar a renda mensal, as despesas fixas e variáveis e a capacidade de pagamento sem comprometimento da renda:
– Isso deve ser observado junto a outros aspectos subjetivos, como imprevistos de doença e gastos surpresas inesperadas.
Luciano Bravo, CEO da Inteligência Comercial, argumenta que ter acesso a mais crédito pode possibilitar inúmeras situações favoráveis para o desenvolvimento pessoal:
– O acesso maior ao crédito pode propiciar, por exemplo, o financiamento de um curso ou de uma viagem dos sonhos com a família. Mas, acima de tudo, planejamento é fundamental.
No Rio, limite está a um passo de ser estendido
O presidente da Comissão de Servidores Públicos da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, vereador Jorge Felippe (União) avalia a proposta de Eduardo Paes (PSD) de aumentar em dez pontos percentuais a margem consignável dos servidores municipais.
– O ideal é que os servidores tivessem um reajuste, pelo menos, compatível com a inflação do período. Entretanto, como isso não ocorre, e eles estão com o salário praticamente estagnado, só lhes resta a alternativa do empréstimo, aumentando suas dívidas e dificuldades para manter-se e a família – salienta.
O projeto foi aprovado em primeira discussão na semana passada e precisa ser aprovado em outra sessão, antes de ser enviado ao chefe do Executivo.