Cultura de controle e opressão

Cultura de controle e opressão

Professor que atua em colégio cívico-militar desabafa: modelo perpetua cultura de controle e opressão

Educador que trabalha em uma escola cívico-militar denuncia que o governo Ratinho Jr. está comprometendo a essência do ensino, suprimindo a formação crítica e a individualidade dos(as) alunos(as)


 

Após a repercussão do vídeo denunciado pela APP-Sindicato, onde estudantes de um colégio cívico-militar de Curitiba entoam um canto com letra que faz apologia ao ódio e à violência, um professor, que atua em um dos colégios da rede estadual em que esse modelo foi imposto pelo governador Ratinho Jr., escreveu uma carta aberta em tom de desabafo e preocupação com as consequências negativas da militarização para a educação e para o futuro dos(as) estudantes. 

“A ampla maioria dos monitores militares que atuam nessas instituições não têm experiência alguma em ambientes educativos. Limitam-se a um conjunto de procedimentos que tentam uniformizar a juventude. Frases como: “Sentido”, “Descansar”, “Apresentar armas”, “Sem cadência” e “Marche” predominam, enquanto reflexões sobre diversidade, pluralidade e entendimento do contraditório são completamente ignoradas”, aponta o educador no texto.

O professor trabalha há 20 anos na educação pública paranaense. Ele lamenta os rumos que o ensino estadual têm tomado a partir da expansão do modelo cívico-militar e da crescente privatização. Reforça ainda que Ratinho Jr. está comprometendo a essência do ensino, suprimindo a formação crítica e a individualidade dos(as) alunos(as) e desvalorizando o trabalho dos(as) educadores(as). Com receio de perseguição por parte do governo, o educador pediu para não ser identificado. Confira abaixo a íntegra do texto.

Carta aberta às comunidades escolares

Escrevo com um peso significativo em meu coração, como professor com mais de 20 anos de magistério, para expressar minha profunda preocupação com o rumo da educação em nosso estado. O Paraná, sob a administração do governador Ratinho Júnior, destaca-se como o estado com o maior número de escolas cívico-militares no Brasil. No entanto, é fundamental questionar: esse modelo realmente atende às necessidades dos nossos estudantes? Ou é extremamente nefasto para a formação da nossa juventude?

As ações nas escolas cívico-militares, de fato, não priorizam questões artísticas, culturais, educacionais. Ao invés de contribuir com um ambiente de aprendizado crítico, mas, de antemão, já afirmo:  isso é praticamente impossível. A ampla maioria dos monitores militares que atuam nessas instituições não têm experiência alguma em ambientes educativos. Limitam-se a um conjunto de procedimentos que tentam uniformizar a juventude. Frases como: “Sentido”, “Descansar”, “Apresentar armas”, “Sem cadência” e “Marche” predominam, enquanto reflexões sobre diversidade, pluralidade e entendimento do contraditório são completamente ignoradas. Esse modelo não apenas suprime a individualidade dos alunos, mas também tolhe diariamente sua possibilidade de serem sujeitos dos processos educacionais, perpetuando uma cultura de controle, opressão e perda das singularidades.

E, pasmem vocês,  recentemente, em uma escola cívico-militar em Curitiba, alunos foram incentivados a cantar músicas que fazem apologia à violência. Em uma sociedade já tão marcada pela brutalidade, isso é inaceitável! A educação deve/deveria ser um espaço de formação crítica e promoção da paz, mas se transforma, nesse modelo bélico, em um ambiente que alimenta a violência e a intolerância, em especial às camadas periféricas da nossa sociedade.

Além disso, esse governador falacioso, que tenta vender a ideia que o Paraná tem “a melhor educação do Brasil”, aprofunda também o crescente processo de privatização e plataformização da educação. Isso, sem dúvida alguma, mina a autonomia pedagógica dos educadores e põe na mão de empresários, que só visam lucro, um grande número de escolas paranaenses. 

Famílias, alunos, estamos vivendo um momento trágico, no qual a essência do ensino está sendo comprometida em nome de uma suposta eficiência. Os educadores do Paraná, diante desse cenário lamentável, estão adoecidos, sendo verdadeiros sobreviventes em um sistema que desvaloriza seu trabalho e sua dedicação à educação.

Nossas escolas devem formar cidadãos críticos, criativos, autônomos, conscientes e solidários, que respeitem a diferença e a diversidade, e estejam preocupados com o mundo em no qual vivem e não autômatos com comportamentos preconceituosos, padronizados e talvez até violentos. É hora de nos unirmos e levantarmos nossas vozes contra essa realidade. Precisamos de uma educação que promova a reflexão crítica e prepare nossos estudantes para serem cidadãos ativos e conscientes.

Vamos lutar por um futuro educacional que represente os interesses de todos os paranaenses!

Autor: professor que atua em um colégio cívico-militar da rede pública estadual do Paraná.

FONTE:

https://appsindicato.org.br/professor-que-atua-em-colegio-civico-militar-desabafa-modelo-perpetua-cultura-de-controle-e-opressao/?utm_source=substack&utm_medium=email 




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