Cultura do fracasso escolar
“No Brasil, convivemos com uma cultura do fracasso escolar”, diz educadora
Redação
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 3,1 milhões de estudantes se inscreveram para o Enem 2021, menor número desde 2005. Diante da queda de adesão, intensificada pela pandemia, o Opinião ouviu as análises de Rozana Barroso, presidente da UBES, e Anna Helena Altenfelder, educadora e líder do conselho do Cenpec.
Para Rozana, o abandono dos estudos é impulsionado, em grande medida, pelos jovens que se inserem no mercado de trabalho a fim de contribuir com as despesas familiares. Somada à questão financeira, na visão dela, está o fato de que essa parcela da população se reconhece cada vez menos como capaz e detentora do direito de se graduar.
“Hoje, jovens não sentem que a educação pertence a eles. Parece algo tão distante. O que é muito ruim [...] Quanto menos jovens almejam acessar o ensino superior, o Brasil inteiro perde, porque quem é que vamos formar para contribuir com o desenvolvimento social, econômico e tecnológico do nosso país? São esses jovens”, ressaltou.
Anna Helena destacou que a evasão escolar e o desinteresse pelos estudos levam a um “desperdício de talentos”. Além disso, ao lembrar da fala do ministro da Educação, Milton Ribeiro, em que considerou o acesso ao ensino superior para poucos, ela afirmou que tal noção priva porções específicas da população de frequentarem ambientes universitários.
“Muitas vezes, subjacente a essa fala de que a universidade não é para todos, existe uma ideia perversa de que a faculdade não é para todos dependendo de nível socioeconômico, de raça, de cor, de território em que habita. Então, tem uma exclusão”, analisou.
Assim como Rozana, Anna Helena salientou que declarações como a do ministro contribuem para que a própria juventude brasileira se sinta destituída do direito de estudar. A educadora ainda chamou a atenção para a necessidade de ações públicas para reverter o cenário.
“No Brasil, convivemos com uma cultura do fracasso escolar. Naturalizamos o que não é absolutamente natural, que é não aprender, repetir de ano, não acessar a universidade. E os próprios alunos e alunas passam a acreditar nisso. Então, é um trabalho importante de ser feito, tem que ser objeto de políticas públicas”, completou.
Também participou do Opinião o professor da Faculdade de Educação da USP, Ocimar Alavarse.