Curso Normal permanece no RCG
Curso Normal permanece como modalidade de ensino no Novo Referencial Curricular Gaúcho, esclarece audiência pública
Temores e incertezas a respeito do futuro do Curso Normal na rede estadual gaúcha pautaram audiência pública realizada na manhã desta sexta-feira (20) pela Comissão de Segurança e Serviços Públicos da Assembleia Legislativa.
Em evidência, as alterações promovidas pelo Novo Referencial Curricular Gaúcho. A falta de informação preocupava a comunidade escolar e entidades, que temiam a transformação da modalidade de ensino em Curso Técnico. Mas o governo assegurou que a modalidade não sofrerá mudanças.
Representando a Seduc, a diretora do Departamento de Recursos Humanos, Cleusa Flesch, garantiu: “nós mantivemos o Curso Normal. Não houve nenhuma mudança. Permanecem as matrizes vigentes dentro da estrutura aprovada pelo Conselho.”
Apesar da segunda versão do RCG manter o Curso Normal como modalidade de ensino, educadores e estudantes manifestaram preocupação com a falta de interesse pela modalidade, atribuída à desvalorização do Magistério, que amarga sete anos de congelamento e subsequentes ataques à carreira.
A presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer, destacou que o Curso Normal, o “antigo Magistério” pelo qual se formou, é um currículo que além de ensinar o ofício de professor, prepara para a vida.
Helenir contou um episódio em que sua filha, também professora, perguntou para seus alunos da 6ª série quem queria ser professor. E os alunos responderam que não, porque os professores ganham pouco.
“A desvalorização do magistério é tão grande que mesmo nossos alunos já sabem disso. E somente o poder público pode mudar essa situação. Temos pessoas que querem seguir a profissão, mas que quando pensam na sobrevivência procuram outra alternativa que garanta mais valorização e dignidade. O CPERS é parceiro na luta pelo curso normal e pela valorização da nossa categoria”, frisou.
A deputada estadual Sofia Cavedon destacou a importância da valorização da profissão.
“Vamos sair dessa pandemia com as famílias valorizando ainda mais a educação e esse reconhecimento tem que vir em forma de salário para os nossos professores”, destacou a parlamentar.
Educadores e estudantes defendem o curso normal
Silvano Marchetti, vice-diretor do Instituto Tiradentes de Nova Prata, lamentou a pouca procura para suprir a demanda da rede pública e também ressaltou a importância de valorizar a carreira para atrair novos docentes.
“Fazemos uma conclamação aos gestores públicos para que valorizem esses profissionais. Não podemos esquecer que educadores têm família para sustentar. As pessoas precisam ver que dá para investir nessa profissão tão importante. É necessário resgatar a dignidade e valorização dos nossos professores”, afirmou Silvano.
“Como dizer para os alunos fazerem o Magistério se nós nos sentimos desvalorizados. Nós temos que valorizar nossas escolas cada um dos alunos que temos. Por que não temos mais progressões nessa profissão tão maravilhosa? O CPERS sabe a luta que é reivindicar um salário digno para cada professor e professora”, destacou o professor Luciano dos Santos do município de Sapiranga.
O diretor do IEE Visconde de Cairu de Santa Rosa, Junior Alessandro Freddi, contou que atualmente a escola atende 854 alunos e, desses,310 alunos são do curso normal. “Estamos angustiados com essas mudanças. E quando a gente ouve que pode ter uma baixa na qualidade desse curso nos assustamos. A formação do professor não é só nos componentes didáticos, mas na escola. O curso normal não pode ser transformado simplesmente em um itinerário, nós precisamos de formação de qualidade”, concluiu.
A estudante Melissa Hanauer Roerig do IEE de Sapiranga conta que desde pequena se apaixonou pela profissão de lecionar e que depois que começou a fazer o Curso Normal definiu seu o futuro.
“A gente escuta que a juventude não tem perspectiva. Mas os alunos normalistas são pessoas que buscam o conhecimento e sabem o que querem. A educação nunca deveria ser ameaçada”, observou a estudante.
A presidente do Conselho Estadual de Educação (CEED), Márcia Carvalho, frisou que todos os Cursos Normais têm plano de estudo aprovado pelo conselho. “As escolas têm que ter cuidado para que os planos se cumpram. Então sugiro que, se houver alguma dúvida, a escola se dirija à mantenedora e, se ela não elucidar os questionamentos, que procure o Conselho Estadual de Educação.”
O conselheiro do CEED, Osvaldo Dal Piaz, apontou que as novas mudanças não cairão para os estudantes já matriculados. “Os estudantes que já estão matriculados não sofrerão mudanças.”
“Hoje tivemos aqui um consenso que esse curso deve permanecer, mas escutamos também que há muitos empecilhos para que esse curso não tenha mudanças. O Conselho vai zelar para que o curso contemple a todos.”
“É muito importante essa mobilização dos professores, estudantes e a comunidade escolar. Temos que dizer ao governador e à secretária de educação que queremos o curso normal com o currículo já aprovado. A sociedade tem que estar consciente do poder que tem. Louvo essa iniciativa e que tenhamos mais para buscar o melhor para nossa educação gaúcha”, afirmou a conselheira do CEED, Carla Tatiana dos Anjos.
Representando a Seduc, a diretora do Departamento de Recursos Humanos, Cleusa Flesch, garantiu que o curso normal continua sem alteração. “Nós mantemos a permanecia do curso normal, não houve nenhuma mudança. Permanecem as matrizes vigentes. O curso permanece dentro da estrutura aprovada pelo conselho.”
A deputada Sofia no final da reunião destacou que a luta pelo curso normal será árdua e precisam de todos na luta. “Temos um grande problema – a secretária de educação não é desse estado e que em todos outros estados o curso normal acabou. Então teremos que ser mais incisivos na nossa luta”, finalizou.
Ficou encaminhado que será enviado um documento com os relatos da audiência para o governador, Eduardo Leite, secretária de Educação Raquel Teixeira e para o CEED.