Data específica para mulheres negras
Por que nós, mulheres negras, precisamos de uma data específica?
por Luana Pereira (*)
O Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha foi criado no I Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas e reconhecido pela ONU, em 1992. Assim como o 8 de março, não é uma data para flores, senão para refletir sobre a condição de vulnerabilidade a que as mulheres negras estão submetidas.
Entretanto, por que nos é necessária uma data a mais? Afinal, também não somos mulheres?
A resposta é dada pelo movimento feminista negro, ao questionar a universalidade da categoria “mulher” que acabava por se referir somente às experiências das mulheres não negras e invisibilizava nossas peculiaridades e vivências. Um exemplo dessas peculiaridades é o de que, enquanto as mulheres brancas reivindicavam o direito ao trabalho, as mulheres negras eram escravizadas, sem sequer ter seu status de seres humanos reconhecido.
A ideia de que o racismo e o machismo operam sobre os corpos das mulheres negras diferentemente das mulheres não-negras e dos homens negros está presente também no conceito de interseccionalidade, cunhado pela pesquisadora e advogada norte-americana Kimberle Crenshaw.
A interseccionalidade também é visível nos dados estatísticos. Dentre os mais impactantes, estão os produzidos pelo Mapa da Violência 2015, o qual apontou o crescimento de 54% do homicídio de mulheres negras em contraposição à 10% de diminuição dos de mulheres brancas.
Esses dados devem ser analisados à luz da vergonhosa história da escravidão no Brasil, que durou mais de 300 anos e que nos violentou sistematicamente, seja fisicamente – com torturas muito mais pesadas do que as que estamos habituadas a ver nas novelas de época… – seja simbolicamente, ao nos desumanizar, apagar nossas origens e invisibilizar nossa história. Pensando assim, não parecem deslocados os dados de vulnerabilização em que as mulheres negras figuram, senão a consequência lógica da construção de um sistema racista.
Assim, no dia 25 de julho, não cometam o mesmo erro do 8 de março. Sem flores, chocolates ou cartões, o que queremos é que nossas possibilidades de vida sejam ampliadas e que nossas vozes sejam amplificadas.
(*) Advogada, integrante da Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos, e da rede internacional de empoderamento legal Namati.