Debate sobre reabertura das escolas

Debate sobre reabertura das escolas

Às vésperas de novo ano letivo, debate sobre reabertura das escolas no Brasil continua


Anita Efraim , 1 de dezembro de 2020 

A student wearing a mask to curb the spread of the new coronavirus attends class as others attend remotely at a private school in Brasilia, Brazil, Monday, Sept. 21, 2020. Private schools, closed since the second half of March due to the COVID-19 pandemic, have reopened their doors. Returning to school is optional and online classes continue for students who choose to stay at home watching classes via remote education. (AP Photo/Eraldo Peres)

Aluna em escola particular de Brasília, em setembro de 2020 (Foto: AP Photo/Eraldo Peres)

A situação das escolas no Brasil ainda é bastante complexa. Em meio à pandemia do coronavírus, alguns estados optaram pelo retorno às aulas presenciais, como no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Por outro lado, outros estados, como São Paulo, preferiram esperar.

O monitoramento da Unesco, braço da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura, coloca o Brasil como um dos poucos países em que as aulas ainda não foram reestabelecidas no mundo, ao lado do México, Venezuela e Colômbia.

Em rosa, países com escolas parcialmente abertas; em roxo, países onde escolas ainda não abriram. Os países em azul são os que tem escolas abertas e, em azul escuro, aqueles nos quais há recesso escolar (Imagem: Reprodução)

Em rosa, países com escolas parcialmente abertas; em roxo, países onde escolas ainda não abriram. Os países em azul são os que tem escolas abertas e, em azul escuro, aqueles nos quais há recesso escolar (Imagem: Reprodução)

Um dos principais problemas que impede que as escolas sejam reabertas durante a crise causada pela Covid-19 é o baixo número de testes feitos em todo o Brasil. No mês de setembro, foram feitos 944 mil testes, cerca de 31 mil testes por dia, enquanto em outubro foram pouco mais de 700 mil.

Para efeito de comparação, no Chile, país com 18 milhões de habitantes, tem cerca de 30 mil testes por dia. O Brasil tem 219 milhões de habitantes.

“Os países que tiveram mais sucesso na redução, no controle do número de casos, pelo menos no cenário da primeira onda, são países que testaram muito. É fundamental sabermos como a doença está circulando para saber quais os locais mais críticos, quais os locais que a gente precisa isolar e as medidas que a gente pode tomar a nível local e nacional”, explica o virologista Rômulo Neri, mestre em Microbiologia e doutorando em Imunologia pela UFRJ.

Neri ainda lembra que a maior parte dos estudantes de classe média baixa e pobres frequentam a rede pública de ensino. “Exatamente por isso é muito mais difícil conseguirmos monitorar e estabelecer mecanismos de proteção e redução de riscos nesses ambientes. Muitas vezes, essas escolas ficam em ambientes vulneráveis, sem acesso à material adequado e, além disso, não existe uma estrutura sólida definida para favorecer o aprendizado remoto”, aponta.

Para Gabriel Corrêa, líder de políticas educacionais do Todos pela Educação, a educação deveria ser prioridade nas discussões sobre abertura de setores durante a pandemia. “Não se pode negar a grave situação do país e os riscos epidemiológicos, mas temos que ponderar também os profundos impactos que o fechamento de escolas gera nas crianças e adolescentes. Não tem resposta fácil, mas o debate não pode ser interditado por opiniões extremistas”, opina.

O caminho, segundo Corrêa, é “estabelecer parâmetros para a decisão de quando reabrir e planejar muito bem o retorno”.

Na França, no fim de outubro, o presidente Emmanuel Macron optou por um novo lockdown para frear a segunda onda de Covid-19, mas sem fechar as escolas. Sobre a comparação entre a reabertura de bares e escolas, Neri explica que o risco de transmissão maior acontece em locais fechados, onde as pessoas convivem por mais tempo e sem proteção.

“Basicamente, bares e restaurantes, onde o consumidor tem que ficar do lado de dentro são os que mais apresentam esse tipo de características, mas escolas, de certo modo, também são ambientes confinados”, afirma.

O virologista também diz que há uma suspeita de que crianças têm um papel menor na transmissão da Covid-19 do que pessoas mais velhas. Ao mesmo tempo, elas podem causar surtos da doença ao infectarem parentes e professores.

COMO VOLTAR ÀS AULAS

Neri pondera que é muito difícil que, durante a pandemia, as atividades escolares sejam como eram antes, quando o mundo não conhecia o coronavírus. “Considerando o que outros países têm feito, é muito provável que o retorno ao ensino seja gradual, ou seja, ele não vai ser instantâneo, não vai ser imediato. E a retomada do calendário não vai ser integral”, sugere. “As salas e as turmas não teriam ocupação máxima e não seria possível fazer tudo que está previsto no calendário.”

O desafio das escolas seria elencar prioridades e escolher quais conteúdos deveriam ser repostos e retomado. “A carga horária terá de ser extremamente reduzida”, pondera Neri.

Para que as aulas sejam retomadas, o virologista ainda diz que seria essencial contar com a colaboração das famílias, que precisam informar a escola quando algum aluno tiver contato com o vírus. “Nesse cenário, o ideal é que as aulas de toda aquela turma sejam paralisadas e que os profissionais que tiveram contato com o caso suspeito sejam testados, o que mais uma vez parece ser uma dificuldade muito grande quando a gente olha para o nosso sistema público de ensino”, avalia.




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