Decretos de armas, risco a democracia

Decretos de armas, risco a democracia

Ilona Szabó: Com decretos de armas, Bolsonaro passa a boiada e coloca em risco a democracia

Especialista em segurança pública explica as consequências das novas normas publicadas pelo presidente e questiona: “a quem isso beneficia?”

Por Dri Delorenzo          15 fev 2021

Na véspera do Carnaval cancelado em meio às 240 mil mortes pela pandemia, Jair Bolsonaro publicou quatro novos decretos sobre armas na sexta-feira (12). Com os novos atos, mais uma vez o presidente abre o caminho para o aumento da posse e porte de armas no país. Para Ilona Szabó, especialista em segurança pública e diretora do Instituto Igarapé, os decretos “se há um tema que a boiada está passando é esse”. “Para além das consequências na segurança pública, têm consequências seríssimas para a democracia.” Ela foi entrevistada na segunda-feira (15) no programa Fórum Onze e Meia, exibido ao vivo de segunda a sexta no canal do Youtube da Revista Fórum.

Segundo Ilona, já são mais de 30 atos normativos desde o início do governo Bolsonaro sobre esse tema, desconstruindo uma legislação que foi construída em 2003 depois de muito trabalho da sociedade civil. Trata-se do Estatuto do Desarmamento. “Desde janeiro de 2019 a gente vem vendo esse desmonte por mecanismos executivos (decretos, portarias, suspensão de portarias do Exército), o que levanta uma série de alertas.”

No caso dos novos decretos, Ilona questiona: “Onde querem chegar num país que tem maior índice de homicídio, a quem isso beneficia? Por que isso tem sido feito sem reação das instituições?” De acordo com ela, a sociedade precisa se colocar nesse debate, pois é um assunto de vida e morte. “É uma política que beneficia potencialmente o crime organizado de uma forma preocupante.”

Confira as principais mudanças previstas pelos decretos, segundo nota do Instituto Igarapé:
  1. Exclusão de itens importantes da lista de produtos controlados pelo Exército, incluindo projéteis, máquinas e prensas para recarga de munições, carregadores e miras telescópicas;

  2. Comunicação ao vistoriado das ações de fiscalização dos arsenais de pessoa física com antecedência mínima de 24h pelos órgãos responsáveis; 

  3. Permissão para que atiradores e caçadores registrados comprem até 60 e 30 armas, respectivamente, sem necessidade de autorização expressa do Exército;

  4. Possibilidade de substituir o laudo de capacidade técnica, exigido pela legislação para colecionadores, atiradores e caçadores (CACs), por um “atestado de habitualidade” emitido por clubes ou entidades de tiro que se beneficiam com o aumento do número de seus usuários, caracterizando flagrante conflito de interesses;

  5. Aumento do limite de compra de armas para os cidadãos, passando de 4 para 6 armas, e 8 armas para categorias que incluem membros da magistratura, do Ministério Público e os integrantes das polícias penais federal, estadual ou distrital, e os agentes e guardas prisionais;

  6. Permissão para que armas automáticas com mais de 40 anos de fabricação e silenciadores possam ser colecionadas; 

  7. Aumento de 1 mil para 2 mil da quantidade de recargas de cartucho de calibre restrito que podem ser adquiridos por atiradores desportistas por ano;

  8. Inauguração  da prática de tiro recreativo de natureza não esportiva; 

  9. Permissão da prática de tiro desportivo e da compra anual de até 5 mil cartuchos para os calibres das armas registradas, para agentes das forças de segurança e membros da Magistratura e do Ministério Público que tiverem porte, incluídos os aposentados, os da reserva, os reformados, os ativos e os inativos;

  10. Entidades de tiro e de caça passam a poder oferecer, além das munições recarregáveis, munições originais de fábrica.

Assista à entrevista (a partir do 38):


https://revistaforum.com.br/noticias/ilona-szabo-com-decretos-de-armas-bolsonaro-passa-a-boiada-e-coloca-em-risco-a-democracia/ 




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