Defesa do legado de Paulo Freire
Educadores lançam campanha em defesa do legado de Paulo Freire
O movimento, batizado de Freireando Porto Alegre, terá início no próximo dia 19, na capital gaúcha e alcança países latino-americanos e caribenhos
Por Cristiano Goldschmidt / Publicado em 3 de outubro de 2019
Foto: Instituto Paulo Freire
Com a presença do peruano Oscar Jara, um dos mais respeitados pesquisadores e educadores populares das Américas e presidente do Conselho de Educação Popular da América Latina e do Caribe (Ceaal), professores e representantes de entidades da área da educação e da pesquisa lançarão no próximo dia 19 de outubro, em Porto Alegre (RS), a Campanha Latino-Americana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire. O evento será realizado no pátio da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), das 15h às 19h, com a exibição de documentários, palestras e lançamento de livros. Confira a programação e o Manifesto de lançamento.
O movimento se faz necessário, segundo os organizadores, diante da perseguição ideológica ao pensamento crítico e, em particular, às ideias do educador Paulo Freire, não apenas no Brasil, como também em outros países da América Latina e do Caribe. Liderada pelo Ceaal, em parceria com diversas organizações e entidades sociais de diversos países, a campanha, no Rio Grande do Sul, conta com o apoio de 15 instituições. A professora Liana Borges, que integra a comissão organizadora, diz que o conjunto dessas instituições considera a necessidade de defesa do legado de Paulo Freire e o enfrentamento do atual contexto, marcado pelo aprofundamento das desigualdades sociais e dos processos históricos de opressão.
A professora Margot Andras, diretora do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS), parceiro da Campanha, destaca que Paulo Freire vem sendo muito questionado no Brasil desde os ataques recebidos por membros do Movimento Brasil Livre (MBL), do movimento “Escola sem Partido” e de uma série de fake news. “Isso fez com que diferentes grupos de pessoas, em todo mundo, mas principalmente na América Latina, começassem a querer resgatar e proteger a história do educador brasileiro.
Batizado de Freireando Porto Alegre na capital gaúcha, o evento acontece em vários lugares ao mesmo tempo. Na semana passada, a Campanha foi lançada em Belém do Pará. A professora Margot Andras conta que também já aconteceu na Colômbia e que na sequência irá acontecer em outros lugares da América Latina. “Muitas atividades serão realizadas até o final do ano, para que os cursos de pós-graduação também se apropriem do assunto, e é uma coisa que tem que acontecer de forma conjunta e organizada”, finaliza.
Estudioso e amigo de Paulo Freire, o professor Carlos Rodrigues Brandão (Unicamp e UFU), que recentemente esteve em dois congressos sobre Paulo Freire, em Ponta Grossa (PR) e em Fortaleza (CE), e que no próximo domingo, 6, viaja para Popayan, na Colômbia, também para um evento sobre o educador brasileiro, afirma que realizam-se e multiplicam-se, entre a Suíça, a Argentina, a Colômbia, Portugal e uma pluralidade de cidades do Brasil, encontros, congressos, simpósios e outros tantos acontecimentos de presença-memória de e sobre Paulo Freire. “Eu mesmo, apenas neste ano, estarei presente em mais de dez eventos com esta vocação. E antes mesmo de terminar 2019 já tenho convites para mais três, em 2020. E, veja bem, encontros, congressos e memoriais promovidos não por “instituições esquerdistas”, como nos carimbam sem nos conhecer (pois somos bem mais do que apenas isto). Quem os promove são universidades públicas, prefeituras municipais, associações culturais, e até mesmo patronais”.
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