Desideologização do Enem

Desideologização do Enem

Em nome de uma suposta “desideologização” do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), esse governo explicita a sua vocação em só fazer propaganda política e ideológica e nada de política pública em favor de uma educação de boa qualidade

Publicado em Sexta, 22 Março 2019 

No último dia 20 de março, o MEC divulgou a criação de uma comissão para avaliar as questões que comporão o Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM. Avaliar é o termo por eles usados. Para ser mais exato, o governo Bolsonaro disse que vai avaliar as questões do ENEM para “verificar a pertinência com a realidade social”. O que existe, de fato, todos sabemos, é uma tentativa escamoteada de vigiar com a intenção de censurar e manipular o conteúdo das questões do referido exame, criado em 1998 para aferir a qualidade do ensino médio em nosso país. E isso sem contar com o risco altíssimo de vazamento de dados porque essa comissão terá acesso a ambientes de segurança máxima

O próprio presidente Bolsonaro já explicitou, falastrão que é, sua intenção em se imiscuir em assuntos de natureza técnica, como o é a elaboração das questões de uma prova avaliativa com é o ENEM. O viés ideológico desse governo ganha contornos dramáticos quando lembramos que seus quadros não cansavam de vociferar discursos de ódio contra o suposto aparelhamento dos governos do PT, acusando-os, sem pudor, de ideologizar a gestão pública. Essa é a típica teoria do espelho, já consagrada pela psicanálise de Lacan, quando projetamos nos outros aquilo que nós mesmo somos. Está cada vez mais evidente que quem ideologiza a gestão pública é essa turma fundamentalista que tomou conta do poder central brasileiro. Não sabem o que é uma política pública de educação séria! Em um governo tomado por fundamentalistas religiosos, sequer sabem o valor de uma educação pública, laica e universal. Eles, sim, ideologizam o governo e as políticas públicas.

Essa malfadada comissão de averiguação das questões do ENEM é composta por três membros, todos homens brancos, que contam com forte ascendência moral e política de ninguém menos do que Olavo de Carvalho, o astrólogo e autoproclamado filósofo que, de forma absolutamente surreal, compõem o governo sem ocupar nenhum cargo, com poder até de destituir secretários no Ministério da Educação. Um deles, que é procurador de justiça, tem relações íntimas com o Exército, tendo sido a ele conferido o grau de 2º Tenente. Um outro, orientando de Olavo de Carvalho, doutor em Ciência da Religião, já explicitou que esse governo defende mesmo o ensino privado. Então, o que se pode esperar de uma comissão com o perfil dessa composição?

Não por acaso, o Ministério Público Federal - MPF acionou o MEC para que responda sobre essa análise ideológica proposta para as questões do ENEM. O MPF considerou extremamente vago o argumento da necessidade de “leitura transversal” da prova aplicada aos estudantes de Ensino Médio para ingresso na maioria das universidades públicas do país.

O que se pretende é, além de impor uma ideologia conservadora e reacionária em nosso sistema educacional, acabar com o ENEM - colocando essa política que democratizou o acesso à educação superior em total descrédito. Assim, o atual governo reforça sua opção de mercantilizar e a privatizar o serviço público educacional em nosso país.

 

http://www.cnte.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=20665:em-nome-de-uma-suposta-desideologizacao-do-exame-nacional-do-ensino-medio-enem-esse-governo-explicita-a-sua-vocacao-em-so-fazer-propaganda-politica-e-ideologica-e-nada-de-politica-publica-em-favor-de-uma-educacao-de-boa-qualidade&catid=1775:cnte-informa-829-22-de-marco-de-2019&Itemid=784 




ONLINE
68