Deslegitimar o juiz

Deslegitimar o juiz

QUEM TEM MEDO DE ALEXANDRE DE MORAES? A NOVA MODA É DESLEGITIMAR O JUIZ, NÃO O CRIME!...

Edson Silveira

Sempre que a democracia brasileira resolve funcionar, algo curioso acontece: surge uma nova “preocupação institucional” nos bastidores, um cochicho elegante entre banqueiros, autoridades “reservadas” e colunistas bem relacionados. O alvo da vez? Alexandre de Moraes. De novo. Sempre ele. Que coincidência providencial.

Agora a narrativa da moda é a seguinte: o ministro teria “pressionado” a Polícia Federal. Não há prova, não há documento, não há ato concreto — mas há fontes anônimas, aquele velho truque retórico que dispensa responsabilidade e garante manchete. Afinal, quando os fatos não ajudam, sempre resta a insinuação.

O mais curioso é o timing. Jair Bolsonaro e sua gangue já foram julgados e condenados pelo Supremo Tribunal Federal por crimes gravíssimos contra a ordem democrática. Não estamos falando de suposição, nem de “perseguição política”, nem de inquérito eterno: houve processo, contraditório, ampla defesa e condenação. A extrema direita perdeu no voto, perdeu na lei e perdeu no tribunal. E, como não aceita perder, tenta agora desacreditar o juiz.

Nada mais previsível.

Quando não conseguem negar os crimes, tentam criminalizar quem julgou. Quando não conseguem atacar as provas, atacam a toga. É uma estratégia velha como o autoritarismo: se o juiz é firme, vira “ditador”; se aplica a lei, vira “abusador”; se enfrenta golpistas, vira “ameaça à democracia”. Democracia, aliás, sempre definida por quem tentou destruí-la.

O mais preocupante, porém, não é a extrema direita fazer esse papel. Isso dela já se espera. O problema é quando parte da imprensa resolve brincar de linha auxiliar desse projeto. Jornalismo não é terapia coletiva de elites ressentidas, nem instrumento para lavar a honra de golpistas condenados. Jornalismo exige prova, contexto e responsabilidade — não fofoca travestida de bastidor.

Transformar boatos em manchetes, especialmente quando envolvem instituições centrais da República, não é “liberdade de imprensa”. É imprudência cívica. É contribuir para a erosão da confiança pública no Judiciário exatamente quando ele cumpre sua função constitucional.

Alexandre de Moraes não está acima de críticas. Nenhum ministro está. Mas crítica séria não se faz com “disseram que”, nem com fontes invisíveis, nem com narrativas que surgem sempre que a lei alcança os poderosos de estimação. Isso não é fiscalização do poder; é militância envergonhada.

O que incomoda não é o método do ministro. O que incomoda é o resultado. O incômodo não é jurídico, é político. Não é institucional, é ideológico. É o desconforto de ver a democracia reagir, de ver o Estado dizer “não” ao golpismo, de ver a Constituição valer mais que a vontade de um líder messiânico e sua claque.

No fundo, a pergunta não é se Alexandre de Moraes “pressionou” alguém. A pergunta real é: por que tanta gente poderosa tem tanto medo de um ministro que simplesmente aplica a lei?

A resposta é simples e desconfortável: porque, desta vez, a lei não falhou.

E à imprensa cabe escolher: ou cumpre seu papel histórico de informar com responsabilidade, ou segue alimentando narrativas que só interessam a quem nunca aceitou a democracia — apenas tolerou enquanto lhe foi conveniente.

FONTE:

Charles Brown




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