Desmonte da credibilidade da mídia
Lava Jato contribuiu para o desmonte da credibilidade da mídia, diz Nassif
"A mídia passou a emular o jogo de fake news e de discurso de ódio próprio das redes sociais. Abriu mão do diferencial de qualidade", avalia o jornalista
O jornalista Luis Nassif afirma, em sua coluna no Jornal GGN, que a cobertura da Lava Jato pela imprensa corporativa, associada a um modelo de negócios errôneo, levou à perda de leitores e ao declínio da mídia tradicional.
Segundo Nassif, as empresas “tomaram vultosos empréstimos em dólares para ampliar a capacidade. O avanço das redes sociais abortou o crescimento da mídia tradicional. E a maxidesvalorização cambial aumentou significativamente seu passivo”.
Ele também aponta que “o segundo problema foi o afastamento da velha geração de proprietários” quando "assumiram os postos herdeiros sem segurança e sem sensibilidade maior para o seu negócio”.
“Sem rumo, acabaram sendo influenciados por Roberto Civita, o cappo da Editora Abril, que trouxe dos Estados Unidos o modelo Murdoch. O desastre ocorreu ali. A mídia passou a emular o jogo de fake news e de discurso de ódio próprio das redes sociais. Abriu mão do diferencial de qualidade. Embarcou na ilusão de que substituiriam os partidos políticos, ganhando força política para comandar o país e impedir o avanço da concorrência – veículos internacionais mas, principalmente, os novos gigantes que surgiam, como Google e Facebook”, avalia.
“O resultado disso tudo foi a vitória de Pirro da Lava Jato. Por algum tempo, a mídia julgou-se vitoriosa, invencível, podendo moldar o país à custa de suas manchetes. O sonho acabou com o impeachment de Dilma. Entra Michel Temer, esgota-se a bandeira da Lava Jato, há uma destruição institucional do país que leva até Bolsonaro. De lá para cá, há uma decadência irreversível dos jornais. Não conseguiram desenvolver um produto alternativo aos blogs e redes sociais”, ressalta Nassif.
Nassif destaca, ainda, que apesar da aproximação das eleições, “em nenhum momento” a mídia tradicional “busca separar as notícias das interpretações, do opinionismo embolorado dos editoriais. Seria uma enorme oportunidade de algum veículo sair à frente, como a Folha com a campanha das diretas”. “Mas falta nos veículos a audácia dos antigos comandantes de redação”, finaliza.