Destruição do sistema educacional

Destruição do sistema educacional

A quem interessa destruir o sistema educacional e universitário?

Questionamento é de diretora da FFLCH ao pontuar que a universidade contribui para a democracia

30.5.2019

Alunos da rede pública estadual na sala de aula da POLI – Foto: Cecíla Bastos/USP Imagens

 

do Jornal da USP no Ar

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A série Porquê da Universidade Pública analisa com pesquisadores, especialistas da área da educação, ex-reitores da USP, a Universidade como lugar da pesquisa científica e de desenvolvimento para a sociedade, a Universidade como espaço público de ideias e, para isso, a fundamental importância de sua autonomia. Desta vez, o Jornal da USP no Ar conversa sobre o assunto com a professora Maria Arminda do Nascimento Arruda, diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

“As universidades brasileiras têm um papel civilizatório importantíssimo, porque são instituições inclusivas. Elas resolvem, ou ajudam a resolver, certas questões sociais importantíssimas no Brasil”, afirma Maria Arminda. O Brasil se situa entre as dez economias mais importantes do mundo, mas é um país que tem padrões de desigualdades sociais semelhantes aos países pobres. Para a professora, as universidades públicas, com política de inclusão, ajudam a reverter esse aspecto. Nas federais, mais de 70% dos estudantes vêm de famílias com 1,5 salário mínimo per capita, além de 51% se declararem como PPI (pretos, pardos e indígenas); na USP, quase 50% dos estudantes advém de escolas públicas e a população PPI da Universidade também cresceu bastante.

A Universidade de São Paulo, especificamente, é responsável por mais de 20% da produção científica brasileira. Isso no campo da ciência básica, das ciências experimentais, das ciências humanas. “Não há conhecimento mais importante que o outro”, relembra a especialista. Quanto a isso, ela comenta que o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (IMT) afirmou que não é possível formar um engenheiro ou um inovador sem as ciências sociais, sem as humanidades e sem as artes. “Bom, o Brasil tá fazendo um caminho regressivo, dizendo que certas habilitações não são importantes. Mas é o contrário, o profissional do futuro é o profissional polivalente, aquele que tem a capacidade de construir perspectivas inovadoras e olhar diferentemente a dinâmica do mundo.” Maria Arminda também cita que, atualmente, os deputados se conectam com seguidores pelos celulares, e isso tem um impacto sobre a esfera pública, sobre a vida política. “Quem é que reflete sobre isso? […] Nós temos que construir uma formação, e as universidades têm um papel central nisso. Como nós não podemos prever o futuro, [precisamos de] um profissional que tenha condições para pensar o mundo no qual ele vai interagir.”

A professora comenta que não há uma política para a educação e para o ensino superior definida. “Uma hora tá definido de um jeito, uma hora muda, depois muda, depois recua… o que é isso? O primeiro ministro da educação, do atual governo, diz que as universidades eram para a elite. Olha, ele desconhece absolutamente o papel social e o significado das universidades brasileiras públicas no Brasil.” Ela afirma que as universidades têm papel importante na constituição democrática por estimular o debate de ideias e a convivência com a diferença, e que e a juventude é um agente de mudança importante. “É aqui, sim, na Universidade, que se discute todas as ideias. E é aí que o conhecimento e a cultura avançam: quando nós somos capazes de construir debates, quando nós temos a abertura para atender o novo. Nós temos que enfrentar os verdadeiros problemas da educação brasileira. Não ficar tergiversando que alguém faz balbúrdia, se alguém faz aquilo… quer dizer, quais são as questões centrais? Isso beira a coisa que tem que ter algum interesse por trás. Eu tenho feito essa pergunta sempre: A quem interessa tudo isso? A destruir o sistema educacional e o sistema universitário.”




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