Na manhã desta sexta-feira (3), a Polícia Civil desencadeou a Operação Arca do Tesouro para fazer buscas nas casas de suspeitos e em uma empresa. Os servidores investigados, de posse de informações privilegiadas sobre colegas falecidos, organizaram esquema para sacar os valores de licenças-prêmio e férias não gozadas (veja os detalhes abaixo).
Para o subsecretário, a sofisticação está no fato de que eles escolheram casos em que o direito das famílias em requerer os valores já havia prescrito. Ou seja: os familiares dos servidores mortos não podiam mais requerer os valores, mas o grupo criminoso, fraudando documentação, conseguia burlar a regra temporal e pegar os pagamentos.
— A fraude era de ponta a ponta, faziam todo processo manual. Por enquanto, o indicativo apurado na sindicância é de que esses processos só passavam pelas mãos dos envolvidos indicados, mas não sabemos se a polícia avançou na identificação de mais servidores — explicou Jatene.
Conforme o subsecretário, a fraude foi detectada durante processo de modernização das rotinas manuais do Tesouro. Chamaram a atenção pagamentos feitos com base em lançamentos manuais que deveriam estar extintos.
Naquele momento, em meados de fevereiro, foi aberta sindicância e os suspeitos foram afastados do trabalho. Com a conclusão da investigação e abertura de processo administrativo disciplinar (PAD) pela Procuradoria-Geral do Estado, eles puderam voltar ao trabalho, mas foram removidos de setor e ficaram sem acesso aos antigos sistemas. Um terceirizado envolvido foi demitido.
Jatene destacou que a Sefaz já está adotando providências para reaver valores desviados. Quanto a indenizações às famílias lesadas, explicou que, até o momento, dos cerca de 60 casos, só identificaram duas com direito a receber — nas demais situações, o Direito estaria prescrito.
Esquema é alvo de operação
Com acesso privilegiado a informações de colegas mortos, servidores públicos articularam um esquema para sacar, nos últimos três anos, valores de licenças-prêmio não reclamados pelas famílias dos falecidos.
Em conluio com terceiros, esses funcionários inseriram dados falsos em sistemas de informação do Tesouro Estadual, falsificaram nomes de juízes e de escrivães judiciais, se apropriavam de dados de advogados e, com isso, desviavam os valores pagos a partir de procedimentos totalmente forjados.
Segundo a investigação, o esquema tinha fases e não poderia ser executado sem a participação de servidores. Estes funcionários monitoraram casos de colegas mortos cujos valores a que tinham direito por licenças não gozadas não foram cobrados pela família — nestas situações, o dinheiro ficava num fundo do Tesouro.
O grupo então abria procedimentos administrativos específicos para que os pagamentos fossem feitos. Usavam nos expedientes procurações em nome de familiares dos falecidos (neste ponto, o nome era verdadeiro) dando poderes a determinado advogado, que representava então a família no "inventário" e podia sacar o dinheiro.
O detalhe é que o familiar — cujo nome verdadeiro era pesquisado em sistemas de informação pelos servidores públicos envolvidos — daquele falecido nem fazia ideia de que tinha direito ao pagamento. A pessoa que constava como advogado (e não era) usava o nome verdadeiro, mas número de inscrição na OAB pertencente a outra pessoa — um advogado devidamente inscrito na ordem. E o alvará que mandava a Fazenda fazer o pagamento era assinado por um juiz também com nome forjado.
Nesta sexta-feira, foram realizadas buscas nas casas dos suspeitos e cumpridas ordens judiciais de indisponibilidade de bens e de contas bancárias. Os crimes investigados são de peculato, inserção de dados falsos em sistema de informação e associação criminosa.
A polícia não dá detalhes da investigação para não atrapalhar diligências futuras.
O que diz a Secretaria da Fazenda
A pasta se manifestou por meio de nota. Confira na íntegra:
"Desde o início dessa gestão, o Tesouro vem implantando um plano de modernização de processos de trabalho a fim de automatizar diversas rotinas manuais, com o intuito de mitigar riscos e prevenir falhas nos procedimentos operacionais. Em fevereiro deste ano, houve a automatização do cálculo e lançamento de indenizações de licenças prêmio em folha de pagamento. Então, a partir da análise de consistência da folha mensal, foram identificados lançamentos inconsistentes no pagamento de indenizações de licenças prêmios para falecidos do Poder Executivo.
A partir da constatação dos problemas identificados por parte da própria gestão da Divisão responsável, foram excluídos os lançamentos suspeitos no montante de R$ 126 mil. Ainda durante o mês de fevereiro, a gestão do Tesouro abriu sindicância interna para aprofundar o caso e se descobriu o pagamento indevido de cerca de 50 processos que somaram aproximadamente R$ 2 milhões de prejuízo aos cofres públicos. A apuração confirmou que o grupo fraudava documentos e processos desde 2019, início dos pagamentos indevidos.
Desde então todas as medidas necessárias foram tomadas, como a abertura de processo administrativo, o imediato afastamento dos agentes públicos envolvidos, o bloqueio dos pagamentos e o rastreamento das irregularidades para apurar novos casos. Após a conclusão do relatório de sindicância, foi dado ciência para a Procuradoria-Geral do Estado (PGE), assim como a entrega de documentos comprobatórios para a Polícia Civil (PC) e ao Ministério Público (MP) para a apuração dos crimes.
O Tesouro do Estado também já abriu processo para o ressarcimento dos valores pagos. O órgão vem trabalhando em conjunto com a PC e MP, prestando os devidos esclarecimentos e auxiliando no entendimento das inconformidades encontradas."
Servidores da Fazenda falsificaram dados para sacar valores devidos pelo Estado a famílias de funcionários mortos
Foram 63 desvios de pagamentos de licenças-prêmios não gozadas pelos falecidos, somando R$ 2 milhões
ADRIANA IRION
Com acesso privilegiado a informações de colegas mortos, servidores públicosarticularam um esquema para sacar, nos últimos três anos, valores de licenças-prêmio não reclamados pelas famílias dos falecidos. Foram 63 casos de desvios, num valor de R$ 2 milhões, conforme apurado até o momento.
Os servidores envolvidos atuam na Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz), de onde puderam selecionar os alvos. Em conluio com terceiros, esses funcionários inseriram dados falsos em sistemas de informação do Tesouro Estadual, falsificaram nomes de juízes e de escrivães judiciais, se apropriavam de dados de advogados e, com isso, desviavam os valores pagos a partir de procedimentos totalmente forjados.
A 1ª Delegacia de Combate à Corrupção (1ª Decor) realiza na manhã desta sexta-feira (3) a Operação Arca do Tesouro, com buscas nas casas dos suspeitos e o cumprimento de ordens judiciais de indisponibilidade de bens e de contas bancárias. Os crimes investigados são de peculato, inserção de dados falsos em sistema de informação eassociação criminosa.
As suspeitas foram levadas à Divisão Estadual de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro pela própria Sefaz, que apurou irregularidades em sindicância. A secretaria detectou fraude na concessão de licenças-prêmio não fruídas e de vantagens pertencentes a servidores falecidos nos anos de 2014 e 2015. O alerta teria ocorrido dentro do Tesouro, durante revisão de pagamentos pelo órgão.
Segundo a investigação, o esquema tinha fases e não poderia ser executado sem a participação de servidores. Estes funcionários monitoraram casos de colegas mortos cujos valores a que tinham direito por licenças não gozadas não foram cobrados pela família. Nestas situações, o dinheiro ficava num fundo do Tesouro.
O grupo então abria procedimentos administrativos específicos para que os pagamentos fossem feitos. Usavam nos expedientes procurações em nome de familiares dos falecidos (neste ponto, o nome era verdadeiro) dando poderes a determinado advogado, que representava então a família no "inventário" e podia sacar o dinheiro.
O detalhe é que o familiar - cujo nome verdadeiro era pesquisado em sistemas de informação pelos servidores públicos envolvidos - daquele falecido nem fazia ideia de que tinha direito àquele pagamento. A pessoa que constava como advogado (e não era) usava o nome verdadeiro, mas número de inscrição na OAB pertencente a outra pessoa, um advogado devidamente inscrito na ordem. E o alvará que mandava a Fazenda fazer o pagamento era assinado por um juiz também com nome forjado.
O golpe escancara pelo menos dois problemas por parte do Executivo:
O fato de valores devidos a funcionários falecidos não terem sido devidamente comunicados a familiares
E a falta de controle sobre estes procedimentos administrativos feitos com tantos documentos falsos
A polícia apurou, por exemplo, que os nomes usados como sendo de advogados se repetiam nos mais de 60 procedimentos, ou seja, eram sempre os mesmos. Isso poderia ter chamado a atenção de quem dava a ordem final para liberar o dinheiro.
A investigação, comandada pelo delegado Max Otto Ritter, ainda deve ter desdobramentos. Com a apreensão de documentos, a polícia quer verificar se houve a participação de mais pessoas dentro e fora da Secretaria da Fazenda e, ainda, se podem ter ocorrido mais desvios.
A polícia não dá detalhes da investigação para não atrapalhar diligências futuras. As famílias lesadas terão direito a pleitear os valores.
O que diz a Secretaria Estadual da Fazenda
A pasta se manifestou por meio de nota, publicada no site da secretaria. Confira na íntegra:
"Desde o início dessa gestão, o Tesouro vem implantando um plano de modernização de processos de trabalho a fim de automatizar diversas rotinas manuais, com o intuito de mitigar riscos e prevenir falhas nos procedimentos operacionais. Em fevereiro deste ano, houve a automatização do cálculo e lançamento de indenizações de licenças prêmio em folha de pagamento. Então, a partir da análise de consistência da folha mensal, foram identificados lançamentos inconsistentes no pagamento de indenizações de licenças prêmios para falecidos do Poder Executivo.
A partir da constatação dos problemas identificados por parte da própria gestão da Divisão responsável, foram excluídos os lançamentos suspeitos no montante de R$ 126 mil. Ainda durante o mês de fevereiro, a gestão do Tesouro abriu sindicância interna para aprofundar o caso e se descobriu o pagamento indevido de cerca de 50 processos que somaram aproximadamente R$ 2 milhões de prejuízo aos cofres públicos. A apuração confirmou que o grupo fraudava documentos e processos desde 2019, início dos pagamentos indevidos.
Desde então todas as medidas necessárias foram tomadas, como a abertura de processo administrativo, o imediato afastamento dos agentes públicos envolvidos, o bloqueio dos pagamentos e o rastreamento das irregularidades para apurar novos casos. Após a conclusão do relatório de sindicância, foi dado ciência para a Procuradoria-Geral do Estado (PGE), assim como a entrega de documentos comprobatórios para a Polícia Civil (PC) e ao Ministério Público (MP) para a apuração dos crimes.
O Tesouro do Estado também já abriu processo para o ressarcimento dos valores pagos. O órgão vem trabalhando em conjunto com a PC e MP, prestando os devidos esclarecimentos e auxiliando no entendimento das inconformidades encontradas."
Agora está na hora de dificultar o VERDADEIRO ROUBO QUE O ESQUEMA DE ASSOCIAÇÕES ligadas aos servidores públicos fazem junto às folhas de pagamento, ao EMBUTIREM UMA COBRANÇA EM UMA DESTAS ASSOCIAÇÕES, cada vez que um servidor libera junto à exatoria estadual que uma financeira debite automaticamente um empréstimo em folha.
A dúvida é: são as associações que têm o esquema, ou são estes mesmos servidores que atuam junto à fazenda estadual que aplicam, além de um golpe nos cofres públicos, um golpe nos nossos contracheques?
Eu, tive por uns 3 anos uma cobrança em meus contracheques, quando certa vez fiz um empréstimo com uma financeira, e achei que o valor cobrado pela AFAFE (Associação de Funcionários Auxiliares da Fiscalização Estadual) era algum seguro que sempre vem embutido, quando a gente faz um empréstimo. Só percebi que não era, quando terminaram as parcelas do empréstimo, mas a "mensalidade" da associação continuou sendo cobrada.
E um tempo atrás um colega reclamou desta mesma cobrança, só que vinda de outra associação.
Fica o alerta aos colegas que por ventura fizerem algum empréstimo com desconto em folha.