Dia dos Povos Indígenas, acesso ao ensino
Dia dos Povos Indígenas: problemas na infraestrutura e no acesso ao ensino são recorrentes no RS
Das 87 escolas indígenas, apenas nove oferecem ensino Fundamental e Médio
No dia em que se comemora o Dia Internacional dos Povos Indígenas, nesta terça-feira, os 87 colégios estaduais e quase 6 mil alunos da comunidade escolar indígena no Rio Grande do Sul registram poucas unidades com Ensino Médio e infraestrutura precária em muitas delas.
Para o 2º vice-presidente do Cpers/Sindicato, Edson Garcia, a falta desse ensino prejudica os alunos, que não podem concluir a Educação Básica. “Muitas escolas somente têm o Ensino Fundamental e as solicitações para ter Ensino Médio estão na Secretaria Estadual da Educação (Seduc), para autorização”, explica. O dirigente afirma que, por esse motivo, muitos alunos param de estudar, pois desistem de ir para outras escolas, visto que os colégios dentro das aldeias têm cultura específica. “É importante que as escolas ofereçam todos os níveis. Que possamos garantir a eles todo o ciclo de estudo completo nas aldeias.”
Dados da Secretaria confirmam a pouca oferta de Ensino Médio: dentre as 87 escolas, apenas 9 oferecem os ensinos Fundamental e Médio e as demais, possuem somente o Ensino Fundamental. De acordo com o órgão, a abertura de turmas surge a partir da demanda da comunidade escolar. O pedido passa por homologação da Seduc e aprovação do Conselho Estadual de Educação do RS (CEEd).
Dos 5.893 alunos, das etnias Kaingang, Guarani e Xokleng, 560 cursam Pré-Escola; 4.314, Ensino Fundamental; 677, Ensino Médio; e 342, EJA. Já as aulas de forma bilíngue, pelos dados oficiais, são ministradas por 398 professores indígenas, do total de 821 educadores (509 contratados e 312 efetivos). E os diretores são indicados pela comunidade escolar, com mandato de três anos, o mesmo de todas as escolas estaduais.
Outra questão lembrada por Edson é quanto à infraestrutura. “Existem escolas sem prédios e banheiros adequados, sem bibliotecas, praças para o lazer dos aluno e espaços para diversas atividades.” Ele explica que muitos colégios foram construídos pelos indígenas, com autorização de funcionamento do Estado.
Adilson Jacinto, diretor da Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Kame Mre Kanhrukre, em Carazinho, diz que sua escola foi destruída por um vendaval, em março deste ano, e, desde lá, as aulas ocorrem em uma casa cedida por moradores. Atuando com precariedade, espera pela construção de prédio provisório.
Sobre o investimento feito nas instituições indígenas gaúchas, a Seduc informa que as demandas são sempre encaminhadas por meio de uma necessidade das comunidades e equipes diretivas e que as melhorias e a qualificação dos espaços são elaborados respeitando a cultura local e as tradições de cada etnia.
O professor do Cpers/Sindicato ainda adverte sobre o cardápio fornecido aos estudantes, que, de acordo com ele, não está dentro da realidade das aldeias. “Há escolas que oferecem barra de cereais e eles não comem esse produto”, enfatiza. E o diretor Adilson acentua que a alimentação enviada à escola segue a orientação para o RS.
A Secretaria da Educação esclarece que o cardápio é elaborado a partir dos alimentos que são consumidos pela comunidade e que é específico para cada etnia. “Existe um cardápio para os Kaingangs e outro para os Guaranis.” Os menus estão disponíveis no site do órgão.
Os alunos que se formam nas escolas indígenas têm a oportunidade de ir para universidades, como é o caso de Fábio Junior Vaz Paliano. No entanto, de acordo com Edson, muitos precisam da autorização do cacique e outros enfrentam problemas por residir em aldeias onde o acesso ao transporte é difícil. “Nas regiões de Santa Maria e de Salto do Jacuí, por exemplo, o acesso não é muito facilitado. Em Viamão, não tem ônibus a toda a hora”, esclarece.
A Secretaria garante que, ao finalizar o Ensino Médio, os estudantes são orientados a participar de processos seletivos em universidades e a se inscrever em cursos técnicos.