Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Sala de EAD da Faculdade AnhangueraRonaldo Bernardi / Agencia RBS

Enquanto as instituições de Educação Superior veem o número de alunos nos cursos presenciais reduzir, um novo modelo de graduação tem conquistado espaço no país: o ensino a distância (EAD). Os últimos dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), apontam que as matrículas em cursos EAD tiveram crescimento de 7,22% entre 2015 e 2016, último dado disponível, enquanto o Ensino Superior presencial caiu 1,20%.

Graças ao EAD, houve um leve crescimento de 0,26% no número de matrículas do Ensino Superior, somados os dois modelos. São 100.666 matrículas a mais no EAD e quase 80 mil a menos no ensino presencial, em instituições públicas e privadas.

Os números comprovam que o ensino a distância veio para ficar e com tendência de forte crescimento diante do aprimoramento das tecnologias, de preços atrativos dos cursos e da pouca necessidade de deslocamento, evitando, por exemplo, gastos com transporte e alimentação. Ou seja, uma aula pode ser assistida na palma da mão, por meio de celulares e tablets, em qualquer lugar do planeta, independentemente de onde fica a sede da instituição.

O secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), Henrique Sartori, defende mudanças implementadas pela pasta no último ano para facilitar a abertura de cursos a distância. Segundo ele, a modalidade permite a democratização do acesso ao Ensino Superior, garantindo oportunidades a estudantes que não têm condições de ingressar no modelo tradicional, seja por falta de tempo, ou por dificuldades financeiras em arcar com os custos das graduações nas instituições privadas.

— Nós temos que atingir a meta do Plano Nacional de Educação, que é uma meta ousada, de 50% das matrículas da educação superior e que hoje nós estamos aquém. Então a educação a distância facilita essa interação e ao mesmo tempo facilita o número de matrículas e o acesso, sobretudo.

Sartori garante que o Ministério da Educação tem um controle rígido da qualidade desses cursos. E diz que o país precisa utilizar a tecnologia para garantir acesso à educação, principalmente nos locais mais afastados:

— Nós temos mais de 3 mil municípios hoje que não possuem nenhuma oferta de Educação Superior. Ou seja, nenhum curso de graduação. A educação a distância vem ajudar a implantar ou a levar essa oportunidade a jovens e outros cidadãos brasileiros que querem acessar a Educação Superior.

Uma oportunidade para o setor privado

Universidades privadas têm visto no modelo a distância uma oportunidade de expansão. Líder no segmento no país, a Unopar, com sede em Londrina (PR), possui polos espalhados por todo o Brasil, inclusive no Rio Grande do Sul. Segundo os dados do Inep, eram 355.329 alunos no EAD em 2016, contra apenas 15.699 matriculados no modelo presencial.

O gerente de operações acadêmicas EAD da instituição, Thiago Nunes Bazoli, afirma que a tendência é de expansão de um modelo híbrido - com parte das atividades presenciais e outra parte a distância.

— Acreditamos que o nosso diferencial é esse modelo em que o aluno tem parte da carga horária a distância e a outra parte presencial. Percebemos que, por aspectos culturais, ele está acostumado a frequentar uma sala de aula.

Coordenadora de um dos polos da Faculdade Anhanguera, em Porto Alegre, Rita Ferreira afirma que o perfil dos alunos que buscam a graduação a distância no país mudou nos últimos anos. 

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Biblioteca da Faculdade AnhangueraRonaldo Bernardi / Agencia RBS

— Inicialmente, era de uma pessoa mais madura, aquele profissional que estava há mais tempo no mercado de trabalho. Hoje, essa realidade já mudou um pouco. Existe uma procura de todos os níveis de aluno, inclusive os mais jovens. Também temos alunos matriculados em dois, três cursos - afirma a representante da instituição com sede no Mato Grosso do Sul e que tem o quarto maior número de alunos no país.

Um dos motivos para a mudança no perfil dos alunos é a redução das oportunidades de financiamento estudantil por meio do Fies, programa do Ministério da Educação. A coordenadora do Censo EAD da Associação Brasileira de Educação a Distância, Betina von Staa, afirma que os cortes levaram muitos jovens a buscar outras opções para não ter de abandonar o sonho de ter um diploma.

— Os cursos a distância nunca contaram com o Fies e, tradicionalmente, eles têm um custo menor. Então passou a ser uma opção para muita gente - afirma ela, ao reforçar que as preocupações das instituições tem sido garantir a qualidade do conteúdo pedagógico e a atualização das ferramentas tecnológicas.

A Universidade Estácio de Sá, criada no Rio de Janeiro, é a terceira em número de alunos e também é referência no ensino a distância, que implementou há 11 anos com a oferta de disciplinas online para os cursos presenciais. Diretor acadêmico de EAD, Flávio Murilo de Oliveira Gouvêa, garante que não há distinção no mercado de trabalho dos alunos que se formam em cursos a distância.

— Nós não enxergamos nenhum tipo de diferença sobre a intenção do empregador em acolher um aluno, seja ele oriundo do ensino presencial ou do ensino a distância. 

Gouvêa também ressalta que alunos que cursam a modalidade EAD são mais autônomos, mas que precisam de organização para os estudos. Há quatro anos, a Estácio criou uma espécie de aplicativo para que o estudante possa definir como fará seus estudos, conforme a sua rotina de vida.

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Sala de EAD da Faculdade AnhangueraRonaldo Bernardi / Agencia RBS

Universidades tradicionais do RS apostam no EAD

Tradicionais universidades privadas do Rio Grande do Sul, a PUCRS e a Unisinos têm investido em cursos na modalidade a distância para ampliar as opções aos estudantes. A instituição católica, inclusive, foi uma das pioneiras a oferecer a modalidade, em 1999. Agora, retoma a oferta com o desafio de garantir a mesma excelência do ensino presencial.

— Não há praticamente nenhum elemento do ensino presencial que a gente não consiga reproduzir com boa qualidade no ensino a distância. Todos os elementos de interação e um bom conteúdo a gente consegue reproduzir por meio da experiência online - afirma Wilson Marchionati,  diretor de Educação Superior do UOL Edtech, empresa parceira da PUC em cursos de pós-graduação online.

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Laboratório de engenharia da Faculdade AnhangueraRonaldo Bernardi / Agencia RBS

A Unisinos também é uma instituição referência no ensino presencial, mas que vem apostando no EAD. São 19 polos espalhados pelos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Piauí. São oferecidos 19 cursos de graduação EAD, além de especializações e MBA. O objetivo é abrir novos polos ainda neste ano.

— A gente tem uma lógica de expansão baseada nas nossas possibilidades, com a garantia de entrega de conteúdo e formação de qualidade. Então ainda que o MEC nos permita abrir uma quantidade bastante elevada de polos, a Unisinos prefere ter uma proposta de expansão um pouco menos agressiva e mais conservadora, mas de forma que a gente garanta que todos esses polos, de fato, formem o aluno com o mesmo padrão de qualidade do presencial - diz a professora Simoni Rohden, gerente de Graduação a Distância da Unisinos.

Avanço tímido nas instituições públicas

Nas universidades públicas, o avanço do ensino a distãncia ainda é tímido. Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo Dabdab Waquil, diz que o papel de instituições públicas, como a UFRGS, é um pouco diferente das privadas no que diz respeito ao EAD.

— O foco que nós temos, como universidade pública, é de levar o ensino de qualidade e gratuito para locais onde as universidades não estão. Então, em vez de o aluno se deslocar da sua cidade e vir para as grandes capitais, é a universidade que vai, evitando o deslocamento desse aluno.

Professora do Departamento de Economia e Relações Internacionais e do pós-graduação em Desenvolvimento Rural da UFRGS, Rumi Regina Cobo, pondera que, mesmo com a expansão das instituições públicas para o interior, ainda há limitações para o ensino presencial.

— A gente vê que tem uma possibilidade de maior inclusão social com o EAD. Um bacharelado em Desenvolvimento Rural precisa alcançar esse público do meio rural. E a perspectiva do ensino a distância facilita. Se não utilizássemos essa plataforma, certamente seria bem mais limitado o público que a gente atingiria — afirma.

Confira os áudios da série de reportagens:

Fenômeno EAD - parte 1 - o crescimento do ensino a distância

 Fenômeno EAD - Parte 2 - Histórias EAD 

 Fenômeno EAD - Parte 3 - O que pode melhorar no EAD 

Fenômeno EAD - Parte 4 - A resistência de conselhos profissionais ao EAD