EAD na formação de professores é obstáculo
Ensino à distância na formação de professores é obstáculo à qualidade da educação no Brasil
No Rio Grande do Sul, especialistas observam aprofundamento da crise com o despreparo de boa parte dos cursos.
12/10/2023 Rosane de Oliveira
No ensino à distância (EAD) é preciso separar o joio do trigo: há os que cumprem as regras, oferecem material de qualidade, turmas reduzidas e atenção do professor a cada um dos alunos. A maioria, porém, está se tornando uma fábrica de diplomas a baixo custo e o reflexo é a formação de profissionais menos preparados do que os que fazem a graduação em regime presencial.
Foi preocupada com os reflexos dessa explosão de cursos à distância na formação de professores que a presidente executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, lançou um alerta pelas redes sociais: o Ministério da Educação precisa fazer alguma coisa imediatamente. O ministro Camilo Santana já expressou sua preocupação com o avanço do EAD e criou um grupo de trabalho no MEC para repensar essa modalidade de ensino, mas ainda não se chegou a lugar algum.
O foco de Priscila, assim como do grupo do Sesi no Rio Grande do Sul que produziu um trabalho sobre o risco de um “apagão” de professores a partir de 2035, é com as licenciaturas feitas à distância. Licenciatura é sinônimo de formação de futuros professores. Pelo menor custo e pela praticidade, descoberta na pandemia, a oferta de vagas na modalidade à distância cresce em proporção geométrica, enquanto os cursos presenciais minguam.
No vídeo que publicou na quarta-feira e que seguiu complementando com dados ao longo do feriado, Priscila alertou que 65% dos que estão cursando licenciaturas hoje (incluindo Pedagogia) o fazem no modelo EAD. E 81% dos ingressantes optaram pelo ensino à distância, que ela considera uma ameaça à qualidade da educação.
Priscila mostra números que sustentam sua preocupação: no Enade, que mede a aprendizagem nos cursos superiores, as notas médias dos cursos EaD são piores que os presenciais em todos os cursos avaliados.
No Rio Grande do Sul, a equipe do Instituto de Formação dos Professores chegou à mesma conclusão. No Enade de 2021, tomando-se apenas os cursos de Licenciatura, a nota nos cursos presenciais foi melhor. Obtiveram nota máxima (5) 2,38% dos alunos EaD e 9,64% do presencial. Com nota 4, foram 16,67% no EaD e 35,36% no presencial. Com notas 1, 2 e 3, o EaD superou o presencial. Somente 0,36% dos alunos obtiveram nota 1 no presencial, enquanto no EaD foram 2,38%.
— Alguns poucos estão ganhando muito para que toda a educação brasileira tenha prejuízos gigantescos — alerta Priscila, lembrando que todas as outras políticas da área de educação dependem da existência de professores qualificados.
Aliás
Outro dado preocupante, apresentado pelo Sesi-RS: em 2010, o Rio Grande do Sul teve 14.060 ingressantes nos cursos de licenciatura, 48.058 matrículas e 8.410 concluintes. Em 2021 foram 5.877 ingressantes, 24.814 matrículas e 3.427 concluintes. Entre 2018 e 2012, a maior evasão se deu nos cursos de Física (72%), Matemática (68%) e Química (67%).
FONTE