Educação financeira no currículo
A bancada do PT na ALRS votou contra o projeto de lei 231/2015, de autoria da deputada Any Ortiz, que propõe a inclusão do tema da educação financeira nos estabelecimentos de ensino do RS. O projeto foi aprovado por maioria, mas caberá ao governo decidir pela sua aplicação.
A deputada Sofia Cavedon (PT) explicou que não cabe ao Legislativo determinar o conteúdo do currículo. A LDBEN e a sua regulamentação restringe a formulação dos currículos à União e aos Sistemas de Ensino locais, não cabendo, sobre essa matéria, legislar, quer em âmbito estadual, quer municipal. Vê-se, portanto, que compete a cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, observada a base nacional comum, complementar o currículo. A deputada salientou que essas diretrizes são discutidas no Conselho Nacional da Educação e aprovadas pelo MEC e, portanto, não cabe aos parlamentos decidirem ou alterarem os currículos escolares. De acordo com Sofia, o tema da educação financeira é importante e, por essa razão, ele já está presente nos currículos escolares. “É um tema que faz parte do currículo para que os alunos possam entender o percurso do dinheiro, entender o que é lucro, o que é concentração de renda, o que são os impostos, orçamento público, o que é salário mínimo”, exemplificou. Lembra que o MEC homologou em 2018 a nova Base Curricular Comum Nacional (BNCC), que determina dez competências a serem desenvolvidas nos alunos da Educação Básica. Além da definição de competências, há temas transversais que devem ser abordados durante o período escolar, e entre eles está a educação financeira. A deputada, que também é professora, explicou que o conteúdo numa escola não é um fim em si mesmo. “O conteúdo deve mudar a cada tempo porque é histórico, datado, vai ser renovado, percebido e planejado pelas escolas conforme a pertinência. E cada escola, no seu projeto político e pedagógico, vai estabelecer no diálogo com alunos, com a comunidade, com a família”, argumentou. O currículo tem que ser um “currículo vivo”, defendeu. “Por isso a gestão democrática é importante”. Nesse sentido, “a bancada do PT entende não cabe ao parlamento determinar o que será ou não construído como parte do currículo escolar”, concluiu.
Diante de distorções de deputados da base governista aos argumentos expostos pela colega de bancada, o deputado Pepe Vargas apontou que o pior que pode haver em uma casa Legislativa, é quando os parlamentares não ouvem o que os outros dizem. “A deputada Sofia disse que esses conteúdos já estão previstos na BNCC como tema transversal. Pepe explicou também que na CCJ a bancada vota contra qualquer projeto de lei sempre que alguém tenta incluir conteúdo curricular, pois é ilegal e não está previsto na LDB. O Projeto de Lei é inócuo! “Quem vai definir o que entra e o que não entra no currículo é a Secretaria de Educação e o Conselho Estaduais de Educação. Não somos nós que vamos definir. Não há lei votada por essa casa que vai impor conteúdo curricular a escola alguma no estado do RS”, enfatizou.
Para o parlamentar, o resto é uma tentativa de fazer disputa ideológica inócua. “Seria muito mais substantivo estarmos discutindo: vamos conseguir professor de matemática para as escolas que nem isso têm. Vamos fazer concurso para professor de matemática? Isso seria um bom debate e não essa tentativa de fazer disputa ideológica sobre um tema tão banal como esse”. O deputado acrescentou que é preciso pensar em uma escola de qualidade. “Temos 14% das escolas no estado que não têm banheiro ou o banheiro não funciona. Um bocado de escola que tem goteira, escola sem fiação decente, tem escola que não tem bibliotecário há um montão de tempo. Como é que vai construir um cidadão emancipado pela escola sem biblioteca?”, indagou Pepe.
Educação Financeira
Com 34 votos favoráveis e seis contrários, foi aprovado o PL 231 2015, da deputada Any Ortiz (Cidadania), que dispõe sobre a inclusão do tema “Educação Financeira” nas propostas pedagógicas dos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados do Estado do Rio Grande do Sul. Uma emenda da CCJ foi apresentada ao projeto, que recebeu 46 votos favoráveis.
Any Ortiz (Cidadania) disse que o dia de hoje era importante não apenas para ela, mas para todos os entusiastas da educação financeira. A proponente do projeto agradeceu ao deputado Elton Weber (PSB), que foi o relator da matéria na CCJ, e afirmou não ter nenhuma dúvida de que o Parlamento, nesta data, irá sedimentar um marco de extrema importância no RS. "Vamos aprovar um projeto que estabelece um novo paradigma dentro da educação", enfatizou. Lembrou que, quando foi vereadora de Porto Alegre, teve projeto semelhante aprovado, que, agora, está sendo colocado em prática nas escolas do município.
Luciana Genro (PSOL) foi à tribuna para manifestar voto favorável à emenda, que torna o projeto autorizativo e não impositivo. Classificou a iniciativa como ridícula, avaliando que nenhum professor teria coragem de pautar esse assunto em sala de aula, pois o problema não é a falta de educação financeira e sim a falta de dinheiro. Defendeu que as pessoas precisam de salários dignos e que, muitas vezes, acabam se endividando para poder sobreviver ou pela publicidade que incentiva o consumo constante.