Educação: o tamanho da crise em 2022
QUIZ da Educação: qual o tamanho da crise em 2022 em áreas como alfabetização e evasão escolar? Quais as saídas? Faça o teste e descubra
Ano foi marcado por bloqueios de verbas do Ministério da Educação, implementação do novo ensino médio, piora na taxa de aprendizado e dez anos da lei de cotas. Confira números e análises.
Por Emily Santos, g1 — São Paulo
Responda o quiz e veja se está por dentro do que rolou na educação em 2022.
— Foto: Seed
Em 2022, a educação no Brasil sofreu com bloqueios no orçamento do Ministério da Educação (que chegaram a zerar os caixas das universidades federais e outros órgãos), teve piora nas taxas de aprendizagem e registrou aumento na evasão escolar no ensino médio.
O cenário reflete não apenas o impacto da pandemia de Covid nas escolas mas também as políticas do governo Bolsonaro. Embora extensos, os danos podem ser revertidos com tempo e programas adequados, segundo entidades ouvidas pelo g1.
No QUIZ abaixo, teste seus conhecimentos sobre a situação do Brasil em 2022 em 10 temas da educação e confira a análise de especialistas:
1. ALFABETIZAÇÃO: Em cada 10 crianças do 2º ano do ensino fundamental, quantas não sabem ler nem escrever palavras como "mesa" e "vovô"?
- 3
O índice de crianças do 2º ano do ensino fundamental que não sabem ler e escrever mais que dobrou, passando de 15% em 2019 para 34% em 2021, de acordo com dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
"A alfabetização se tornou um tema crítico", afirma João Paulo Cêpa, gerente de Articulação e Advocacy do Movimento pela Base. Segundo ele, a reversão do quadro depende da integração entre os governos federal, estadual e municipal para a promoção de metodologias efetivas na alfabetização, uma vez que o problema pode impactar todas as fases seguintes da educação.
2. MATEMÁTICA E LÍNGUA PORTUGUESA: Qual o percentual de alunos do 9º ano do ensino fundamental que não conseguem aplicar conceitos matemáticos básicos e não dominam o português?
- 44% e 14,7% respectivamente
O Saeb também mostrou que aumentou o percentual de alunos do último ano do ensino fundamental que sabem interpretar gráficos, mas não conseguem aplicar conceitos matemáticos (como fazer uma pirâmide), e não dominam habilidades mínimas de português.
Apesar de a recuperação do aprendizado na pós-pandemia ser um desafio "imenso e fundamental", não é algo impossível, segundo especialistas. Para isso, o primeiro passo seria aplicar avaliações diagnósticas para identificar o nível de cada aluno e montar iniciativas para recuperar o atraso.
"É preciso ter programas de recuperação da aprendizagem baseado no nível de cada estudantes. Porque não adianta tentar ensinar soma de fração para quem não entendeu ainda como se divide números inteiros, por exemplo", explica Gabriel Corrêa, gerente de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação.
3.CRIANÇAS FORA DA ESCOLA: Qual o total de crianças e jovens brasileiros de 11 a 19 anos fora da escola?
- 2 milhões
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), braço da ONU que trabalha pela garantia dos direitos das crianças e adolescentes, fez um alerta para o alto número de crianças e jovens brasileiros de 11 a 19 anos fora da escola.
"Diante deste cenário, não faz sentido priorizar políticas de exclusão que atendam apenas alguns milhares de crianças e adolescentes", diz João Paulo Cêpa em referência a programas defendidos pelo governo Bolsonaro, como homeschooling (ensino domiciliar) e escolas cívico-militares. "O foco dos governos federal, estadual e municipal deve ser trazer esses jovens para a escola e mantê-los lá", acrescenta.
4. EVASÃO ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO: A taxa de alunos que abandonaram os estudos subiu. Quais os dados mais recentes?
- 2,3% em 2020 e 5,6% em 2021
O número de alunos que abandonaram os estudos subiu, segundo o Censo Escolar da Educação Básica 2021.
Gabriel Corrêa explica que a evasão pode ser motivada tanto por questões educacionais da escola --como não engajar o aluno e apresentar um currículo com muito conteúdo -- quanto por aspectos sociais, como a necessidade do aluno de priorizar o trabalho. Para o empecilho social, uma solução sugerida pelo especialista é o pagamento de um auxílio financeiro para alunos mais pobres.
"A intenção é coibir problemas sociais o que prejudiquem a permanência do estudante na escola. Esta intervenção poderia evitar que o aluno deixe a escola para ir para o mercado de trabalho, por precisar ajudar a família financeiramente", explica.
5. NOVO ENSINO MÉDIO: Quantas matrículas a menos nessa etapa foram registradas em 2022 em comparação a 2021?
- 347 mil (queda de 5,3% em relação a 2021)
A partir de 2022, as redes públicas e privadas passaram a adotar o Novo Ensino Médio, modelo que prevê, entre outros pontos, a oferta de disciplinas optativas. A expectativa é que isso torne a etapa mais atrativa e minimize a queda nas matrículas, comum nessa fase.
"O novo ensino médio é um modelo que aponta na direção certa na medida em que amplia as oportunidades de flexibilização do currículo. Então, além de garantir uma carga horária de formação geral básica, o aluno também tem a oportunidade de trabalhar mais especificamente um currículo com áreas de interesse, seja de humanas, biológicas ou exatas", diz João Paulo Cêpa.
Segundo ele, esse formato dá ao aluno a chance de adquirir conhecimentos que possam tanto ajudá-lo a ingressar no mercado de trabalho quanto prepará-lo para a escolha do curso de ensino superior.
6. ESCOLAS CÍVICO-MILITARES: Qual o percentual de escolas públicas do país que adotam esse modelo?
- 0,1%
parcela mínima das instituições públicas do Brasil.R$ 64 milhões,
"É preocupante que o governo priorize um modelo educacional que atenda a uma parcela tão pequena dos estudantes brasileiros. Seria muito mais efetivo garantir a verba e investir em um modelo educacional que privilegie todos os alunos da rede, afinal, tem que ser educação para todos e não educação para poucos", diz Gabriel Corrêa, do Todos Pela Educação.
7. ENEM: Qual o número de inscrições no Exame Nacional do Ensino Médio de 2022?
- 3.396.597
O Exame Nacional do Ensino Médio vem apresentando queda no número de participantes ao longo do tempo. Em 2022, o total de inscritos cresceu 10% em relação a 2021, mas ainda ficou muito abaixo de anos pré-pandemia e passou longe do recorde atingido em 2014, com 8,7 milhões de inscritos.
Os especialistas defendem que, além da isenção na inscrição que já existe, é preciso pensar em políticas públicas de apoio aos alunos mais pobres, que tendem a ser os que mais deixam de realizar o Enem.
"No futuro, é preciso retomar a pauta de mais incentivo aos alunos para que os estudantes brasileiros façam o exame e vejam, para aqueles que desejam, o ensino superior como uma porta de entrada real e viável quando terminarem o ensino médio", diz Gabriel Corrêa.
8. ORÇAMENTO DA EDUCAÇÃO: Além de um vaivém de bloqueios temporários em seus recursos, qual foi o tamanho do corte definitivo no orçamento do Ministério da Educação?
- R$ 1,98 bilhão
O MEC vive uma crise com um vaivém de bloqueios em seus recursos. A medida atingiu em cheio universidades federais e outros órgãos, que ficaram sem dinheiro para o pagamento de bolsas e contas do dia a dia.
Segundo o ministro da Educação, Victor Godoy, além do corte definitivo de quase R$ 1,9 bilhão, também houve um bloqueio no orçamento de R$ 2,3 bilhões (destinado a novas despesas) e outro de R$ 2 bilhões de recursos que já estavam comprometidos com despesas contratadas.
Especialistas cobram do governo que dê mais protagonismo às instituições de ensino.
"Esperamos que a lei orçamentária de 2023 proteja e amplie o orçamento do Ministério da Educação, para que seja possível viabilizar pelo menos as políticas públicas que já estão em andamento", diz Gabriel Corrêa.
9. COTAS NO ENSINO SUPERIOR: Quais são os critérios usados para a distribuição de vagas reservadas pela Lei de Cotas?
- Alunos que fizeram o ensino médio em escolas públicas que tenham renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo, e dentro dessa faixa, pessoas pretas, pardas, indígenas e pessoas com deficiência
Em 2022, a política de cotas nas universidades completou dez anos. Metade das vagas em universidades e institutos federais é separada para estudantes que fizeram todo o ensino médio em escolas públicas. As cotas raciais são como uma subcategoria (entre os alunos de escolas públicas) e varia de acordo com a quantidade de habitantes desses grupos (negros, indígenas e pessoas com deficiência) no estado onde fica a instituição de ensino.
"Essa política é necessária para que os alunos menos abastados tenham a chance de frequentar o ensino superior, seja para fins acadêmicos ou para buscar uma especialização. E, em geral, os mais pobres são pretos e pardos, legado do passado escravocrata e do sistema racista do país. Pensar em políticas sociais com recortes raciais é imprescindível, pelo menos neste momento em que os pretos ainda lidam com a pobreza herdada de um sistema vergonhoso do nosso país", defende Ana Maria Ribeiro, do Movimento Nós Lá.
10. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: De quanto foi o crescimento no número de alunos novos de EAD no ensino superior nos últimos 10 anos?
- 428,2%
A tendência de crescimento do EAD no ensino superior já é observada há algum tempo. Em 2020, pela primeira vez na história, os cursos de graduação à distância no Brasil receberam mais alunos novos do que os presenciais, tanto na rede pública quanto na privada. E, ao se analisar os cursos de licenciatura, a maior parte (59,3%) dos futuros professores estudam à distância. Especialistas alertam para a necessidade de o MEC monitorar de perto a qualidade desses cursos.
Outra preocupação com o formato é a dificuldade em oferecer um serviço personalizado, segundo Gabriel Corrêa, uma vez que cada estudante absorve informações de formas diversas e uma plataforma de ensino digital pode não suprir a necessidade.
"Com o aumento na oferta de cursos na modalidade, precisa aumentar também a qualidade do ensino à distancia. As universidades não podem apenas criar plataformas com atividades digitais e videoaulas e acreditar que oferecem um ensino de qualidade, equivalente ao presencial. É preciso, antes de tudo, pensar que o aprendizado acontece para cada pessoa de maneira diferente", avalia.