Educar a nova geração
Nem sociedade, nem escolas: não estamos sabendo educar a nova geração.
Alunos na sala de aula Foto: Getty/Reprodução
Muito se ouve, se presencia e se vê acerca de jovens que lançam mão de sintomas sérios para poderem participar de grupos e tribos. Quando digo “sintomas sérios”, me refiro à banalização de patologias psicossociais no afã de conquistarem ingressos de pertencimento como forma de analgésico para a baixa aceitação no meio em que vivem.
Se por um lado a sociedade precisa trabalhar o entendimento e a aceitação, em caráter de urgência, da diversidade sexual que caracteriza a própria humanidade, por outro os próprios “entes da diversidade” perdem engajamento pela presença fake de alguns de seus pseudopares.
O que dizer para um transgênero – que sofre diariamente com preconceito e discriminação, apenas por não estar dentro das amarras normativas da sociedade – a respeito de jovens que simplesmente decidem, da noite para o dia, que mudarão de nome (passando de Joana para João) sem enfrentar nenhuma dificuldade (permanecem vestindo, se comportando e tendo hábitos cis), mas que querem exercer o “direito ao nome distinto”.
Me refiro a uma juventude que quer abalar, causar e chocar, mas sem abraçar o que não é opção para quem efetivamente está dentro de tudo aquilo que a sociedade conservadora dita como “anormal”. Uma juventude que quebra conceitos, valores e preceitos consagrados pela sociedade – e que chama de direito “a ser o que quer”.
Não é necessária qualquer expertise para perceber que os objetos de luta e conquista (espaços de poder, nome social, leis punitivas, etc.) foram comoditizados por uma parcela que apenas decidiu que na sua gaveta de ingressos de pertencimento estão também as dores e máculas de pessoas que sofrem por efetivamente não serem aceitas.
Não há dúvidas de que o ente-fake não só enfraquece a militância como banaliza as mais justas causas de ideia, pertencimento e norma.Na mesma esteira – e aqui cabe dizer que os exemplos são infindáveis – temos a automutilação [de causa, sintoma e efeito] fake. Jovens que, para participar “do grupo que se corta”, acabam por dificultar diagnósticos e banalizar a ideia.
Deste modo, a identificação do problema real acaba por ser mascarada por aqueles que apenas acham “fofa” a simulação de algo de raiz muito séria. Grave, eu diria.Para não dizer que não falei das flores, a escola é o terreno mais fértil da emulação de gêneros e depressão, além, é claro, de toda a gama de problemas realmente existentes.
Os educadores, por suas vezes, carregam grilhões imaginários que lhes impedem qualquer tipo de atitude, seja perante sua hierarquia, seja diante das famílias. E estas, é claro, apenas se perdem na conduta de suas proles em um movimento típico de carro sem condutor.
No início deste século, os shoppings centers abrigaram em seus estacionamentos um fenômeno atípico: era a popularização tardia do estilo Emo em sua raiz comportamental. A melancolia se transformava, naquele ínterim, em uma preciosa e preocupante commodity. A automutilação, me parece, ganhava status de acessório estético (ou penduricalho da rebeldia sem causa).
Era, sem dúvidas, um amarelo piscante para todos os efetivamente enfermos de uma miríade de patologias psicossociais. Junto disto, a autoajuda lançava mão da Lei da Atração como forma de arrebanhar os mesmos jovens quando chegassem à maturidade. Depois disso, o que era terreno fértil para a emulação da dor, passou a ser canteiro do apocalipsecoaching. Nada de novo, mas tudo cada vez mais preocupante.
Adriano Viaro é graduado e mestre em História (UPF), tendo desenvolvido sua dissertação sobre a hitória e a historiografia dos quilombos dos Palmares. É também especialista em Sociologia com ênfase em exclusão social