Educar para a cidadania
Saber dialogar, conviver coletivamente e conhecer o sistema eleitoral são habilidades essenciais para formar um jovem cidadão pronto para participar ativamente das decisões da sociedade.
Uma educação voltada para a cidadania estimula a participação e a construção de uma sociedade sustentável do ponto de vista social, econômico e ambiental.
Esse tipo de aprendizado vai muito além de saber sobre siglas e partidos, concentrando-se em detalhes mais voltados à capacidade de tomar e cobrar decisões que afetam a vida cotidiana das comunidades. Quem é responsável pelas ruas onde andamos? Para onde vão nossos impostos? O que faz um prefeito? Qual é a importância do voto?
Um levantamento lançado pelo Datafolha em 2019 mostrou que 71% dos brasileiros acreditam na importância de debater assuntos políticos e cívicos nas escolas. Já 54% deles apoiam completamente a inclusão desse tema no currículo escolar.
O que significa fazer uma educação política?
O ensino relacionado ao exercício da cidadania já está previsto na Constituição de 1988 e também na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Essa premissa dialoga com as competências e habilidades presentes na Base Nacional Comum Curricular Comum.
Na prática, essa demanda é atendida em dois sentidos: ensinar competências essenciais para a convivência em sociedade e apresentar o sistema administrativo brasileiro. A ideia é aproveitar o espaço coletivo da escola para simular processos democráticos e estimular o protagonismo dos estudantes.
“Refletir sobre política é um exercício que propicia o pensar na coletividade. Implica exercitar empatia, pensar em nosso papel como cidadãos e no impacto de nossas ações na sociedade. A educação política é importante porque fornece ferramentas para a cidadania ativa e, assim, empodera pessoas, grupos e comunidades para atuarem em seus territórios”, explica Kamila Silva, gestora do Núcleo Escolas no Politize!.
A organização tem como missão produzir conteúdos sobre educação política, capacitando a nova geração para o pleno exercício de sua cidadania através de formações que incentivam a liderança e o compromisso com a democracia. Dentre as iniciativas está o Projeto Escola da Cidadania Ativa, que pretende alcançar 3,5 milhões de estudantes de escolas públicas até 2022.
Para alcançar essa meta, o Politize! segue as diretrizes do Novo Ensino Médio e oferece para as Secretarias de Educação Estaduais formação de professores e um itinerário formativo com trilhas de aprofundamento em liderança e cidadania. O material pedagógico se baseia em metodologias ativas de aprendizagem e trabalha seis temáticas principais: cidadania local e global, participação e mobilização, inovação e coletividade, direitos e justiça, agentes públicos e eleições.
“É muito importante que os jovens estudantes aprendam desde cedo a fazer escolhas conscientes e participar do processo democrático para além do voto. Esse cenário justifica a necessidade de dialogar, conhecer o sistema eleitoral, as funções dos cargos públicos, meios de participação na vida pública, pois isto faz parte de uma formação cidadã e estimula apropriação dos direitos e deveres com espírito crítico e autônomo”, conclui a educadora.
Letramento midiático: instrumento da educação política
Segundo o estudo “Juventudes e Conexões”, iniciativa da Fundação Telefônica Vivo em parceria com a Rede Conhecimento Social e o IBOPE Inteligência, 59% dos 1.440 jovens entrevistados não se sentem ouvidos ou representados na política institucional.
Isso faz com que eles busquem modelos mais horizontais de participação, como espaços culturais, projetos sociais, grupos ou coletivos, e a tecnologia se revela como uma importante ferramenta de busca de informações e acesso a espaços de participação social.
Levando em consideração os recentes processos eleitorais, influenciados pela alta conectividade e pela circulação de notícias falsas por meio das redes sociais, falar em letramento midiático pode ser uma oportunidade de aprofundar a educação política em sala de aula.
É o que propõe o Duvido Logo Penso, projeto lançado pelo programa Lupa Educação, em parceria com a startup de inovação pedagógica Evolve. O intuito é disponibilizar materiais pedagógicos interdisciplinares em uma plataforma para que os educadores trabalhem temas da atualidade sob a ótica da educação midiática. A primeira trilha já está disponível gratuitamente e se dedica a discutir o impacto da desinformação nas eleições e como combatê-la.
“A ideia do material é unir forma, conteúdo e suporte pedagógico de maneira flexível, para que os educadores usem os módulos de acordo com as inquietações de cada turma. Para além das indicações de atividades e dos temas norteadores, nossa ideia é formar uma grande comunidade colaborativa de combate à desinformação não apenas nos períodos próximos às eleições”, divide Raphael Kapa, jornalista e professor do Lupa Educação, durante a live de apresentação do projeto.
Outras iniciativas para ficar de olho!
Café Filosófico da Periferia → Criado a partir da inquietação de educadores, artistas, ativistas e moradores das periferias da zona sul de São Paulo, o coletivo Café Filosófico da Periferia se dedica a abrir espaços de discussão política voltada às necessidades dos territórios que não aparecem nos planos de governo. O objetivo é produzir conteúdo e fortalecer os trabalhos sociais e políticos feitos nas comunidades e potencializar ações de liderança e cidadania da quebrada.
“Questione-se” → A campanha é uma iniciativa da Câmara dos Deputados em parceria com o Instituto Palavra Aberta, e convida jovens a usar os recursos do TikTok como um espaço para refletir sobre o que os cidadãos podem fazer antes, durante e após as eleições. A ideia é engajá-los a participar mais das decisões políticas que os envolvem, utilizando-os como porta-voz das mudanças que querem ver no mundo. Veja um exemplo!