Elas que ensinam
Elas que ensinam: predominantes na sala de aula, mulheres educam e são inspiração
Leonardo Cabral em 08 de Março de 2024
Um dos poucos setores em que a presença feminina predomina é dentro da sala de aula ou em qualquer outra área relacionada à Educação. Isso é comprovado por uma pesquisa sobre o perfil do professor realizada pela Unesco e divulgada há cerca de dois anos. A porcentagem de mulheres dando aulas no Brasil chega a 94%.
Ou seja, sendo a profissão que é a base de todas as outras, o dom de ensinar ainda é maior entre as mulheres, e com isso faz do Brasil, o “país das professoras”. Com exceção da Itália, em nenhum outro país do mundo há tantas mulheres exercendo o magistério quanto aqui. Em solo brasileiro, “são elas que ensinam”.
A pesquisa revela também a proporção de mulheres dando aulas na média de todos os países, que é de 77%. O que chama a atenção no caso brasileiro é que, por aqui, o percentual é maior.
Em Corumbá, na Rede Municipal de Ensino, o cenário não é diferente. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, são cadastrados 1.321 professores, sendo apenas 265 homens e 1.056 mulheres, uma diferença grande na dominância feminina - 79,94%.
Neste 08 de março, Dia Internacional da Mulher, o Diário Corumbaense conta um pouco da história de três professoras: Marisol, Roseli e Flórence.
Marisol
Com 26 anos de trabalho na sala de aula, em Corumbá, Marisol Giane de Almeida, que é ladarense, afirma ser gratificante levantar todos os dias para se dedicar a transmitir o conhecimento para os alunos.
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Professora Marisol leciona há 26 anos em Corumbá
A educadora relembra que escolheu a profissão por causa de uma professora que teve na infância. O jeito elegante de falar, de se vestir e de se dirigir durante uma conversa na sala de aula, sempre chamaram sua atenção, que desde então, com a essencial ajuda dos avós, por quem foi criada após perder a mãe, “escreveu” seu caminho no ensino escolar.
“Meus avós sem saber ler e escrever, me deram a oportunidade de aprender. Perdi minha mãe muito cedo e foi a minha avó que sempre me dizia para estudar, para ser alguém melhor na vida. E quando ia para a escola, mesmo com dificuldades, me deparava com a minha professora de língua portuguesa, sempre elegante, tanto na maneira de se vestir como no modo de falar. Cresci e fiz o magistério em Ladário, logo, comecei a dar aulas, depois concluí o curso de Pedagogia, aposentei em Ladário, mas sigo em Corumbá, lecionando em duas escolas, manhã e tarde. Ser professora, representa tudo, a educação ela move o mundo está interligada com tudo, sempre procuro passar uma imagem de luta, para se ter conquistas, para meus alunos. Por ser mulher, isso já nasce conosco, ter jeito e dom especial de ensinar. Para estar aqui é ter muito amor por essa profissão”, falou Marisol que criou dois filhos com a luta do dia a dia da sala de aula.
Mesmo diante dos obstáculos, ela reflete e não consegue segurar as lágrimas ao relembrar sua trajetória dentro da Educação de Corumbá e Ladário, afirmando que a única recompensa é saber que fez um bom trabalho.
“A melhor recompensa é estar na rua e um aluno meu me reencontrar e dizer que está bem, que se tornou ‘alguém’, com um pouco do alicerce que eu pude oferecer. Podemos não ser valorizadas como merecemos, mas só de pensar em saber que podemos mudar o caminho dessas crianças, adolescentes, já é um privilégio”, completa Marisol.
Roseli
Atualmente lecionando na Rede Estadual de Ensino, na Escola de Autoria Júlia Gonçalves Passarinho, Roseli Cristina Batista Arévalo, professora de artes, graduada em Letras e em Artes, se destaca mostrando a força da mulher para ensinar dentro da sala de aula, mas acaba ultrapassando a relação entre professora e aluno.
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Amada pelos alunos, professora de artes, Roseli Cristina
“São 17 anos na sala de aula. Muitos alunos passaram por mim. A princípio não escolhi ser professora, foi a profissão que me escolheu. Quando fui prestar vestibular, veio na minha mente o curso de Letras, me graduei e depois fiz a segunda faculdade, de Artes. Quando iniciei em sala de aula me sentia assustada, com medo, mas com o passar do tempo, meu amor aumentou pela profissão. Tive a certeza que realmente era o que queria. Meus alunos são prioridade e cada dia trago algo novo. Tem que amar – o que faz - não ministramos aulas apenas, mas, sim, nos relacionamos com seres humanos, e cada um traz de casa a sua experiência de vida, ou suas dores. Minha metodologia é diferente, me coloco no lugar deles, isso precisa de amor, e eu tenho isso, e cada ano que passa sou apaixonada pela educação”, conta Roseli.
Ela destaca a relação de ser mulher e professora, levando o que for preciso para sempre estar ao lado dos alunos, seja em momentos ruins ou bons.
“Por ser mulher e ter dois filhos, quando chego na escola me coloco no lugar dessas mães que deixam os filhos com todo esse cuidado para a gente zelar. E, aí, com esse olhar de mulher, mãe, avó, tia, desse conjunto todo e englobando a questão da professora mulher, sou assim, sempre mantenho nessa relação o respeito, empatia, confiança, o valor que cada um tem e o orgulho de tudo isso, além de saber que o trabalho e processo é bem feito. É sempre bom poder acompanhar os meus alunos, mesmo já formados, com uma carreira profissional, e saber que fiz parte de toda essa construção”, frisa a professora de Artes.
Flórence
Com oito anos na profissão, Flórence Cristina dos Santos Ignácio, professora de Biologia, se diz muito feliz e orgulhosa de poder lecionar. Um dos grandes exemplos e inspiração foi o pai.
“Ainda no meu ensino médio, sempre gostava de ficar ensinando meus colegas, repassando conteúdos. Creio que era um sinal e também a genética puxando, pois meu pai foi professor e sempre me inspirei nele. Percebi então que tinha o dom de mediar o conhecimento e, me tornei professora, fazendo parte desse universo feminino, no qual a mulher tem sim, sentimento de empatia, de acolhimento. Não que os homens não tenham, mas o lado feminino é mais aflorado, para poder transmitir todo o conhecimento”, diz.
Anderson Gallo/Diário Corumbaense
Pai foi inspiração de Flórence para se tornar professora
Diante dos alunos, Flórence afirma que a idade é uma grande aliada para manter um bom relacionamento entre alunos e professora. "Paro para refletir e vejo que ao invés de estar ensinando, vejo que aprendo muito mais com meus alunos do que eu aprendo comigo. Essa troca de informação e conhecimento, biologicamente, já vem com a mulher, bem como instinto protetor, acolhedor. Tenho orgulho de ser professora e cada conquista dos meus alunos, vejo que realmente vale a pena tudo que vivenciamos”, conclui.
Na Rede Estadual de Ensino, as mulheres também são predominantes. Quase 60% atuam como educadoras, conforme a Secretaria Estadual de Educação.
A área de educação é rica em histórias de mulheres fortes e inspiradoras que fizeram e outras que ainda seguem fazendo história nos quatro cantos do Brasil. Mesmo que anônimas, conseguem mostrar que o caminho de fato é a Educação, transformando a vida das pessoas na sociedade.
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