Mais de 145 mil pessoas estavam em situação de extrema pobreza na Região Metropolitana de Porto Alegre em 2021. Em relação ao ano anterior, foram mais de 51 mil que ingressaram nesse estágio. 

Os dados fazem parte da nona edição do Boletim Desigualdade nas Metrópoles, produzido em parceria pela Pontifícia Universidade do RS (PUCRS), o Observatório das Metrópoles e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina. 

O levantamento leva em conta o critério do Banco Mundial para classificar a extrema pobreza, que é de uma renda de cerca de R$ 160 per capita dentro de uma mesma família. Para o professor da PUCRS e coordenador do estudo, André Salata, a pandemia e a inflação foram determinantes para o aumento recente. 

— A renda do trabalho dos mais pobres cai aproximadamente um terço logo em 2020, portanto, essa é a principal explicação do porquê que a gente vê esse aumento tão grande da extrema pobreza. É o efeito da pandemia sobre a renda do trabalho, considerando que a gente já vinha, desde 2013, em um cenário muito ruim. Em cima disso, nos últimos trimestres, a gente tem tido um quadro de muita inflação, que tem corroído o poder de compra — explica Salata.

Para o especialista, a crise econômica que afetou o Brasil entre 2014 e 2016 também teve participação no cenário, que foi ainda pior entre as famílias mais vulneráveis durante a pandemia. Segundo o estudo, entre 2019 e 2021, os 5% mais pobres da Região Metropolitana perderam quase um quarto de sua renda. 

— Todo mundo sente, mas eles sentem mais porque eles têm baixa escolaridade, então, são mais facilmente descartados do mercado de trabalho. Eles estão concentrados no setor informal, ou seja, têm pouquíssima proteção em relação a esses choques econômicos. E terceiro, eles estão em ocupações que dificilmente você passa para o modo remoto — salienta o professor. 

Em termos percentuais, 2% da população da Grande Porto Alegre estava na extrema pobreza em 2019. Com a pandemia, a cifra subiu para 3,4% em 2021, a maior marca do levantamento. No ano passado, a renda domiciliar per capita atingiu R$ 1.947, o menor valor da série histórica para a Região Metropolitana.

 

Para o coordenador da pesquisa, os auxílios emergenciais fornecidos pelo governo federal fizeram diferença em 2020. Mas a redução dos pagamentos no ano seguinte, somada à dificuldade do Estado em chegar aos mais necessitados e ao valor de corte para ser contemplado nos pagamentos, podem ser fatores para entender a elevação no número de pessoas em extrema pobreza. Segundo Salata, quase metade das pessoas que estão na base da pirâmide (os 5% mais pobres) não tinha acesso a nenhum programa de transferência de renda. 

— A gente precisa pensar em tornar os nossos programas mais eficientes para chegar de fato nas pessoas mais pobres. A gente precisa aumentar o valor de corte porque a linha de pobreza que a gente usa é muito austera, e precisa aumentar o valor dos benefícios — sugere o professor. 

 

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