Ensino bilíngue
Ainda bebê, na infância ou adolescência? Qual é a idade certa para começar a aprender inglês
Estudo do idioma tem sido mesclado com atividades lúdicas e ensino de outras disciplinas
Vicente, nove anos, e Valentina, 12, fazem curso de inglês, além de terem contato
com o idioma na escola André Ávila / Agencia RBS
Porta de entrada para acessar desde músicas, séries e jogos até vagas de emprego, o aprendizado da língua inglesa é uma preocupação para os pais, que têm se preocupado em iniciar seus filhos no idioma cada vez mais cedo. Nessas horas, porém, muitas dúvidas surgem – qual a idade certa para a criança começar a aprender uma língua estrangeira? O ensino pode prejudicar a alfabetização em português? O que vale mais: matricular em uma escola bilíngue ou apostar em cursos extracurriculares? Nesta reportagem, GZH procurou responder a estes e outros questionamentos (confira perguntas e respostas no final).
Aline Fay, que coordena o curso de Letras – Língua Inglesa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), é categórica: não existe idade certa para aprender inglês. No entanto, sinaliza que a criança tem ganhos cognitivos importantes que levará para a vida adulta, quando inicia o aprendizado cedo.
— Os pais às vezes pensam que a criança pode ficar confusa se começar a aprender inglês antes de se alfabetizar, por exemplo, mas não é verdade. Temos áreas do cérebro que são extremamente plásticas, especialmente no início da vida, e dão conta de aprender dois, três ou mais idiomas. Quanto antes começar, melhor — resume Aline.
Em termos neurais, a docente explica que o aprendizado de uma segunda língua proporciona uma maior reserva cognitiva que favorece quando o indivíduo envelhece, podendo, por exemplo, atrasar a evolução do Alzheimer. A coordenadora também cita um estudo do qual participou, com crianças entre 12 e 18 anos que tinham dislexia, que identificou um melhor desempenho entre aquelas que falavam mais de uma língua, na comparação com as que só se expressavam em português.
A professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Ana Beatriz Areas da Luz Fontes, especialista na área de psicolinguística e ensino bilíngue, afirma que, quando uma criança aprende a falar já com o estímulo em mais de um idioma, as línguas se desenvolvem simultaneamente, mesmo que haja variação na evolução em cada aprendizado ao longo do tempo.
— As crianças aprendem desde muito cedo a distinguir as línguas, mesmo que elas estejam representadas no mesmo campo do cérebro. As crianças são extremamente inteligentes e têm o cérebro com uma grande neuroplasticidade. Por isso, não há um custo em se aprender várias línguas ao mesmo tempo — avalia Ana.
O mais importante, conforme a docente, é que quem está aprendendo um idioma — seja criança ou adulto — o utilize bastante. Nesse sentido, ela indica que os pais podem ajudar no aprendizado, por exemplo, fazendo relações entre uma língua e outra.
— Por exemplo, dá para mostrar que o "A de amor" é o mesmo "A de apple", mas com outra sonoridade. Fazer essa relação entre as línguas auxilia a criança entender – exemplifica.
No entanto, a professora salienta que não é determinante iniciar cedo o aprendizado de outra língua. Segundo a profissional, adultos aprendem de uma forma diferente, mas também podem se tornar bilíngues.
Inglês para bebês
Com o aumento do interesse das famílias pelo aprendizado da língua inglesa desde cedo, muitas iniciativas têm surgido na Capital, como escolas particulares com ensino bilíngue e cursos extracurriculares voltados para o público “ultrajovem”. É o caso da Baby Free Play, que oferece aulas de inglês para crianças dos seis meses aos sete anos. Até os três anos, os pais ficam junto durante a aula. A proprietária, Juliana Rebés Augustin Kieling, abriu o estabelecimento quando sua filha era pequena.
— Começou como um projeto bem pequeno e deu supercerto. A gente busca estimular o desenvolvimento deles em diferentes áreas, só que em inglês. Fazemos contação de histórias, musicalização, atividades motoras, sensoriais. É uma forma de eles criarem um laço afetivo com a língua — destaca Juliana.
Para a empresária, a resposta sobre se é importante esperar a alfabetização da criança para o ensino de outro idioma é simples:
— Tu esperas o teu filho começar a falar para começar a conversar com ele em português? Não: ele vai aprender primeiro nos ouvindo. A mesma coisa acontece com outras línguas.
O Studio Luka Ratto tem a mesma proposta, mas voltada para alunos um pouco mais velhos, a partir dos quatro anos. A proprietária, Luciana Ratto, fez questão de que seus três filhos, hoje adolescentes, aprendessem a língua inglesa desde pequenos. No entanto, alerta que o aproveitamento vai depender no interesse da criança no idioma.
— A minha filha, que é mais nova, já passou na frente dos guris há muito tempo no conhecimento de inglês, porque se interessa mais. Acho que vai muito da pessoa e do que a família traz — analisa Luciana.
Em sua experiência particular, a empresária relata que manteve os filhos estudando em escolas que contam com uma boa carga horária de inglês, reforçando o ensino também com cursos extracurriculares. No seu estabelecimento, oferece aulas semanais de uma hora e meia, justamente focando no público que já tem o inglês da escola e deseja ampliar o contato com a língua.
A arquiteta Mariana Bortolini tem seus dois filhos, Valentina Guerreiro, 12 anos, e Vicente Guerreiro, nove, matriculados na escola de Luciana, ainda que eles frequentem o Colégio Farroupilha, que já possui um programa de língua inglesa que prevê a realização de testes de certificação Cambridge, válidos para, por exemplo, fazer intercâmbios posteriormente, ou concorrer a vagas de trabalho no exterior.
— Eu, como mãe, entendo que eles têm que ter a vivência da língua. Talvez algumas mães achem cedo começar a aprender inglês com cinco anos, mas eu acho que isso faz com que eles peguem gosto pelo idioma — defende Mariana.
Em seu entendimento, quanto mais tempo de contato com a língua, melhor. A arquiteta considera que se há 20 anos saber inglês era um diferencial, hoje é o básico.
Confira abaixo perguntas e respostas sobre o assunto
Qual a idade recomendada para o aprendizado do inglês?
Não existe idade certa. Quando pequenas, as crianças contam com um número elevado de sinapses cerebrais, o que lhes permite aprender vários idiomas simultaneamente.
Aprender outro idioma pode prejudicar o aprendizado do português?
Não. A capacidade cerebral das crianças permite que elas absorvam o aprendizado dos idiomas em paralelo e consigam diferenciá-los.
Preciso aguardar que meu filho esteja alfabetizado para colocá-lo em um curso de inglês?
Não. Assim como aprendizado da língua portuguesa, o da língua inglesa também pode acontecer por meio de músicas, leituras e conversas.
É melhor matricular meu filho em uma escola bilíngue ou em um curso extracurricular?
Não existe uma resposta certa para essa pergunta. O mais importante é que a criança tenha um contato frequente com a língua, para, assim, incorporá-la em seu cotidiano.
Qual é a metodologia do ensino do inglês para crianças?
A metodologia varia de acordo com a idade dos pequenos. Entre os menores, que ainda não estão alfabetizados, a realização de atividades lúdicas, envolvendo músicas, teatro e brincadeiras, é mais frequente. Entre os maiores, que já leem, livros podem ser incorporados no aprendizado, mas a ludicidade seguirá fazendo parte. Muitas escolas também apostam na vinculação do ensino de outras disciplinas, como matemática, história e geografia, com o uso da língua inglesa.