Ensino Superior na beira do abismo

Ensino Superior na beira do abismo

ENSINO SUPERIOR NA BEIRA DO ABISMO

O CENSO DA Educação Superior do INEP, o Brasil possui “296 Instituições de Educação Superior (IES) públicas e 2.152 privadas, o que representa 87,9% da rede. Das públicas, 41,9% são estaduais; 36,8%, federais e 21,3%, municipais. Quase 3/5 das IES federais são universidades e 36,7% são Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) e Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets)”.

 

MEC apresentou o projeto Future-se, que busca alterar radicalmente o ordenamento jurídico, MEC apresentou o projeto Future-se, que busca alterar radicalmente o ordenamento jurídico, patrimonial, pedagógico, trabalhista e o papel social das Universidades públicas e as vantagens para todos, promessas de criação de fundos de investimentos com organizações sociais e a possibilidade de professores “ficarem ricos”.

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“Nós nos inspiramos em Friedman”, foi dito a certa altura. Às escâncaras, trata-se de um acelerado processo de privatização das instituições públicas, que ganharão suposta eficiência e vinculação ao mercado, como as krotons da vida.

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Kroton Educacional é a maior empresa privada do mundo no ramo da educação. Foi Fundada em 1966 em Belo Horizonte a partir da criação de uma empresa de cursos pré-vestibular chamada Pitágoras, a Kroton atua em todos níveis escolares, tais como: pré-escolar, ensino primário e secundário, ensino secundário para adultos, vestibular, cursos livres, educação superior e pós-graduação entre outros Abismo5.jpg

NO GOVERNO FHC, anos 1990, as privatizações eram alardeadas como forma de se superar a chamada ineficiência estatal, a falta de telefones, as carências no mercado de energia, os cabides de emprego, os cartórios corporativos etc. etc. Foi preciso massacrar a opinião pública com a ladainha de que a venda de estatais era o segredo para a superação de nosso “atraso”, e que com auxílio do mercado estaríamos em sintonia com o “primeiro mundo”.

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No governo Bolsonaro, nem argumentos desse tipo há mais. Existe chantagem, feita por quem nada tem a ver com educação. Cortam-se orçamentos o que inviabiliza de imediato o funcionamento das instituições , coloca-se a faca no pescoço de reitores, professores, alunos, técnicos administrativos e monta-se um teatro midiático, cuja adesão seria opcional.

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A UNIVERSIDADE PÚBLICA BRASILEIRA é um modelo internacional de sucesso. Ela não apenas produz ciência de ponta, como se volta – na maior parte dos casos – para a resolução de problemas concretos e materiais da sociedade. A “torre de marfim” autossuficiente tornou-se anacrônica, em especial ao longo das últimas décadas, fruto da expansão de unidades pelo país.

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O aumento do número de vagas, as políticas de cotas e sua presença cada vez maior na vida pública faz dessas instituições a marca de um Estado que verdadeiramente se articula com as demandas sociais. Temos aqui algo raro nos Estados Unidos ou na Europa Ocidental: universidades de massa, amplas, plurais e financiadas com o dinheiro dos impostos.

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HÁ UMA DÉCADA, o documentário “Inside job”, de Charles Ferguson, ganhou o Oscar da categoria ao fazer uma varredura profunda nas causas e consequências do tsunami financeiro originado nos EUA, em 2008. Secundariamente, a fita exibiu a imensa teia de interesses privados que se sobrepõem à Universidade estadunidense. Lá, é bom lembrar, cresce a legião de jovens inadimplentes que não conseguem arcar com os altos custos das anuidades (O ministro da Educação afirma que não haverá cobrança de anuidades. Por enquanto).

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Harvard é um centro de excelência global, especialmente nas áreas de Direito e Finanças. Tem cerca de 23 mil alunos e é privada. A USP tem 95 mil alunos e é pública. O CENSO DA Educação Superior do INEP, o Brasil possui “296 Instituições de Educação Superior (IES) públicas e 2.152 privadas, o que representa 87,9% da rede. Das públicas, 41,9% são estaduais; 36,8%, federais e 21,3%, municipais. Quase 3/5 das IES federais são universidades e 36,7% são Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) e Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets)”.

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Com raríssimas exceções, a pesquisa está concentrada nas públicas. Por esse motivo, é aí que se concentra o pensamento críticos e resultados em diversas áreas que se traduzem em importante apoio para políticas públicas.

A gestão do atual PRESIDENTE não consegue externar a mesma distorção conceitual que fazem no debate da Previdência, de que “o sistema dá prejuízo”. Se olharem apenas para o que o orçamento do MEC, com pensamento terra planista de contador, “o sistema dá prejuízo”, sim.

O raciocínio é evidentemente torto. Direitos e serviços públicos não são negócios regidos pelas sacrossantas leis do mercado, mas pelo benefício universal que geram. O modelo de gestão proposto pelo “Future-se” é o “Vire-se” para captar recursos. Quem conseguir dinheiro segue funcionando – com alta ingerência de investidores nos conteúdos pedagógicos – e quem não conseguir, adentrará literalmente no programa “Dane-se” Abismo12.jpg

Como o projeto do atual Presidente é o da entrega da Petrobrás, da Embraer, da Eletrobrás, do saneamento e do desmonte do BNDES, do SUS e de várias ferramentas do desenvolvimento e da soberania nacional, acabar com a Universidade é algo que está na conta. Pesquisa e inovação de ponta serão feita pelos novos donos desses ativos.

Impedir esse ataque fulminante é impedir que se acabe com o futuro do país. Apesar do nome do programa ser o horrível trocadilho Future-se.

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1) Missão: as universidades públicas brasileiras têm o desafio de expansão do ensino com qualidade – Harvard não é modelo: tem poucos alunos;

2) As alternativas de financeirização são menos elaboradas do que o receituário ruim da “Education Commission” de Gordon Brown. Estive aqui em NYC no lançamento deles em 2016. Em nenhum lugar do mundo funcionou. Um modelo pior não funcionará no Brasil;

3) A adesão ao projeto submeterá as universidades federais a riscos e mudanças de prioridades. Captar recursos será a meta. Universidade não é indústria e educação não é produto a ser comercializado. Patentes se resolvem com política comercial e industrial;

4) O aspecto mais perverso do projeto é utilizar o patrimônio acumulado das universidades públicas federais sob o modelo atual como moeda de troca para o modelo proposto. Ou seja: dilapida o que há de bom para determinar um modelo ruim e desigual;

5) O modelo é tão desigual que o MEC, na apresentação, repetiu reiteradas vezes que ele não gera desigualdades: repetindo uma mentira para virar uma verdade. Gera porque freia a democratização do acesso ao ensino superior;

6) O modelo chama-se “Future-se”. Poderia ser “Vire-se” e “Privatize-se”. A base foi Milton Friedman, segundo o MEC. Todas as políticas educacionais do mundo pensadas sob o trabalho desse autor fracassaram. Não há nada que indique que será diferente no Brasil;

7) O projeto do MEC falha em tentar alavancar a economia pela educação. O que alavanca a economia e a educação em conjunto é um projeto de desenvolvimento para o Brasil, algo impossível sob esse governo. Projeto exige articulação e planejamento;

8) Doutorandos estão desempregados. Financiamento para novos negócios é bom, mas não é suficiente para destravar a economia. E o desemprego não é culpa dos doutores;

9) As Universidades brasileiras podem e devem fazer pesquisa aplicada, criar patentes, explorá-las. Inovação deve ser uma palavra resgatada do seu exílio utilitarista e virar um objetivo de pesquisa. O que não pode é fazer discurso leve para abandonar a educação superior pública;

10) Por último, o projeto freia a democratização das Universidades e cria meios de privatizar a gestão. Ajuda ao atual a desconstruir um contrapeso ao seu governo, pois ataca a Ciência. “Future-se” pode ser um caminho para o pior Brasil desde 1889. Certamente é o pior desde 1988.

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No dicionário da língua portuguesa Abismo significa Precipício muito profundo; profundeza. Lugar excessivamente inclinado; despenhadeiro, assim será o caminho das Universidades ,Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) e Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets). Por isso a postura correta é lutar pelo respeito às instituições: defender o sistema legal, a Constituição e os procedimentos jurídicos e ampliar a cidadania e a participação social.

TEXTOS DE APOIO

Future-se é o programa de desmonte da universidade, por Gilberto Maringoni

https://jornalggn.com.br/artigos/future-se-e-o-programa-de-desmonte-da-universidade-por-gilberto-maringoni/

Os riscos do Future-se: universidade não é indústria e educação não é produto a ser comercializado. Por Daniel Cara

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/os-riscos-do-future-se-universidade-nao-e-industria-e-educacao-nao-e-produto-a-ser-comercializado-por-daniel-cara/



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