Ensino Superior privado perdeu estudantes
Ensino Superior privado perdeu entre 45% e 60% dos estudantes
O fechamento de cursos na Unisinos trouxe à tona novamente o debate a respeito da crise financeira que atinge as instituições de ensino superior no RS
Por Guilherme Zanini / Publicado em 9 de agosto de 2022
O fechamento de 12 cursos de pós-graduação da Unisinos e a demissão de 40 professores trouxeram à tona novamente o debate a respeito da crise financeira que atinge as instituições de ensino superior no Rio Grande do Sul, sobretudo as comunitárias.
A queda no número de alunos matriculados nas universidades se acentua a cada início de semestre letivo. De acordo com o vice-reitor da Unisinos, Artur Jacobus, as instituições comunitárias gaúchas tiveram uma redução de 38,3% no número de matrículas entre 2016 e 2020.
“Eu vejo um problema muito sério acontecendo. A Unisinos é efeito, e não causa. Estamos fazendo um movimento que estamos sendo obrigados a fazer por uma questão de responsabilidade de gestão”, explica.
A redução no número de alunos dentro das universidades comunitárias gaúchas é constante. A cada ano, as instituições perdem entre 8 e 10% dos alunos. O percentual foi revelado à reportagem pelo presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Instituições Comunitárias de Educação Superior no Estado do Rio Grande do Sul (Sindiman), Oto Roberto Moerschbaecher. Ele confirmou, inclusive, que essa é a situação na instituição na qual trabalha, a Univates.
“Há 7 anos que estamos sofrendo. A redução no número de alunos oscila de caso a caso, mas as instituições comunitárias perderam entre 45% e 60% dos alunos”, revela.
Entre as razões para a acentuada queda no número de alunos, tanto o vice-reitor da Unisinos quanto o Sindiman atribuem à falta de políticas públicas, sobretudo de financiamento estudantil como o Fies, mas também à oferta massiva de cursos superiores EaD de instituições com fins lucrativos.
A reportagem do Extra Classe conversou com a presidente do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung), Lia Quintana, que reconheceu a gravidade da situação vivida pelas instituições.
Crise no ensino superior
“É um momento sem precedentes no ensino superior em razão da desidratação do sistema de ensino superior, porque o ensino superior é um ecossistema formado por alunos de graduação e pós-graduação, e a diminuição do número de estudantes afetou a sustentabilidade das instituições, cuja vida financeira é em função das mensalidades.”
A presidente, que também é reitora do Centro Universitário da Região da Campanha (Urcamp), diz que a situação ocorrida na Unisinos não é fato isolado e que pode se repetir em todas outras instituições comunitárias do Rio Grande do Sul.
Ao ser questionada sobre as principais razões que levaram às dificuldades enfrentadas pelas universidades comunitárias do estado, Lia Quintana afirma: “Atribuímos essa crise à falta de política estatal, de política de estado ao ensino superior brasileiro”.
Repasses
Uma das principais reivindicações das instituições é a aplicação de 0,5% do valor líquido dos impostos na manutenção e desenvolvimento do ensino superior público, através de crédito educativo e de bolsa de estudos, no ensino superior comunitário. Esse repasse está previsto por lei, no artigo 201 da Constituição Estadual do Rio Grande do Sul.
Com relação às tratativas com o governo estadual, Lia Quintana disse: “Estamos fazendo todas as negociações e considerações políticas e dependendo de uma agenda com o governador, que é quem propõe a peça orçamentária”.
Inclusive, uma campanha, chamada #MeioPorCentoJá, é uma das pautas que o Comung tem como prioridade.
Hoje, o Comung é formado por 13 universidades comunitárias e dois centros universitários no Rio Grande do Sul, que têm mais de 150 mil alunos, entre os quais 63 mil dependem de bolsa e financiamento estudantil.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Secretaria de Educação do RS (Seduc) não respondeu se há previsão de uma resolução do impasse.
Políticas públicas
Para o diretor do Sinpro/RS Marcos Fuhr, a dificuldade financeira das universidades está atrelada majoritariamente à dificuldade dos jovens que ingressam no ensino superior em pagar o valor das mensalidades, o que acaba resultando em evasão.
“Se não houver uma política pública de financiamento aos estudantes, nós vamos continuar assistindo ao aprofundamento dessa crise. A maioria da sociedade não tem condições de arcar com os custos de uma universidade privada ou comunitária”, afirma.
Questionado com relação ao impacto da massificação dos cursos EaD – muitos com mensalidades abaixo de 100 reais –, o diretor do Sinpro/RS acredita que esse é o 3° fator que contribui para a crise financeira das instituições. Ele, ainda, conclui afirmando que o grande prejuízo deste momento na educação ficará para a sociedade, a partir da baixa qualificação dos profissionais egressos desses cursos EaD.
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