Escola acolhe pessoas em situação de rua

Escola acolhe pessoas em situação de rua

Escola Porto Alegre, que acolhe pessoas em situação de rua na Capital, completa 28 anos

Além de promover oficinas profissionalizantes, o espaço possibilita que estudantes lavem roupas e tomem banho

Por   Duda Romagna   mariaeduarda@sul21.com.br 

 

Escola Municipal de Ensino Fundamental Porto Alegre (EPA) completa 28 anos de atividade
em 2023. Foto: Luiza Castro/Sul21

 

Nesta quarta-feira (30), a Escola Municipal de Ensino Fundamental Porto Alegre (EPA) completou 28 anos de atuação, com direito a almoço especial e bolo de aniversário. A instituição, localizada no Centro Histórico da Capital, acolhe pessoas em situação de rua e vulnerabilidade social. O evento contou com a presença do titular da Secretaria Municipal de Educação (Smed), José Paulo da Rosa.

A EPA foi criada por um decreto municipal em 1995 e autorizada pelo Conselho Municipal de Educação em 2000, com o intuito de alcançar o direito à educação para todos.  Atualmente, a EPA atende mais de 100 alunos que, além das aulas da modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA), têm três refeições por dia. O currículo é formado por uma versão condensada do Ensino Fundamental convencional em seis anos. 

A escola também oferece, no contraturno, oficinas permanentes de trabalho artesanal de cerâmica e cartonagem. Ainda, existem outras oficinas em áreas variadas, como estudos de problemas contemporâneos, escrita criativa, laboratório de ciências, matemática financeira e jogos lógicos, além de espaços como a horta e o núcleo de cinema.

A diretora da EPA, Milena Teixeira, afirma que as oficinas vão além da produção e ajudam os alunos profissionalmente. “Elas têm também um olhar sobre a economia solidária, sobre geração de renda. Tem a possibilidade dos alunos comercializarem as peças produzidas, eles aprendem a se posicionar numa feira, a precificar os produtos”, explica.

 


Ateliê oferece oficinas de cerâmica aos alunos no contraturno. Foto: Luiza Castro/Sul21

 

A diretora conta que há uma troca constante com os estudantes para que o currículo se adeque às suas necessidades. “Essa visita da secretaria à escola foi bem produtiva porque a gente vem com uma demanda de formação para o trabalho entre os nossos alunos, acredito muito nessa necessidade. Acho que a preparação pro trabalho é um fator importante na cidadania, na dignidade humana”, diz.

“A gente vem buscando a possibilidade de termos cursos profissionalizantes dentro da EPA. Isso é um processo mais difícil, porque a visão do profissionalizante é a nível médio, mas a gente tem que ter os pés no chão, nós trabalhamos com pessoas que estão na extrema vulnerabilidade, essas pessoas precisam resolver a vida deles agora, não dá para esperar terminar o Ensino Fundamental e o Ensino Médio para pensar numa carreira, né?”, completa.

Como forma de acolhimento, os alunos podem levar consigo seus pertences, como carrinhos de supermercado, e, caso necessitem, a escola pode auxiliar no encaminhamento para outros serviços de assistência social. A estrutura do espaço possibilita, inclusive, que estudantes lavem roupas, tomem banho e façam sua higiene pessoal lá mesmo. 

 

Espaço acolhe população de rua pela educação. Foto: Caroline Ferraz/Sul21

 

Em 2022, a EPA foi reconhecida nacionalmente no 24º Prêmio Educador Nota 10. Daniela Cardoso da Silva, coordenadora pedagógica da EPA, foi uma das dez educadoras de todo o Brasil que receberam o prêmio, pela elaboração do trabalho “Manual de Sobrevivência da EPA”, que produziu processos de aprendizagem dos estudantes a partir de suas vivências. 

A iniciativa começou a ser desenvolvida ainda em 2021, como enfrentamento da perda de acesso dos professores aos estudantes durante a pandemia. A partir da escuta de alunos, surgiram diversos trabalhos, como um memorial de fotografias em que os estudantes contaram como era a vida deles na rua, como faziam para se alimentar, etc.

Leia também: Voltada para estudantes em situação de rua, EPA é premiada por trabalho na pandemia

 


Comunidade escolar se mobilizou para garantir que a EPA mantivesse suas portas abertas.
Foto: Luiza Castro/Sul21

 

A história da escola também é marcada pela resistência de educadores e alunos. Em 2014, surgiram debates sobre um possível fechamento do espaço pela administração municipal. Após a mobilização da comunidade escolar, o tema foi levado à Câmara de Vereadores e à Justiça. 

Sem diálogo com a Prefeitura, a questão foi judicializada por meio de uma ação da Defensoria Pública contra o fechamento, obtendo liminar favorável ainda em 2015. Em 2018, a 2ª Vara da Fazenda do Foro Central confirmou a decisão da liminar, mas a Prefeitura recorreu.

Milena Teixeira explica que, apesar da proximidade recente com a Smed, desde o início da gestão Melo a grande rotatividade entre titulares da secretaria complicou a continuidade de alguns projetos da EPA. Além disso, outras pastas também causaram tensão para a comunidade escolar. “Ainda no início da atual gestão, alguns secretários fizeram algumas falas que nós nos sentimos ameaçados, mas mais recentemente a Secretaria de Educação entendeu que, bom, tem um processo, não podemos fechar a escola, então vamos transformar”, relata.

 

FONTE:

https://sul21.com.br/noticias/educacao/2023/09/escola-porto-alegre-que-acolhe-pessoas-em-situacao-de-rua-na-capital-completa-28-anos/ 




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