Estado laico nas escolas

Estado laico nas escolas

Religiosos e educadores propõem ensino sobre Estado laico nas escolas

Sacerdote de matriz africana citou o sistema prisional como uma área onde, na prática, existe diferenciação, pelo Estado, entre as religiões

Cleia Viana/Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre a laicidade estatal e diversidade religiosa

Representantes de diversas confissões religiosas debateram o estado laico e as garantias constitucionais para a liberdade de credo

A ciência da religião e noções de direito constitucional poderiam ser ensinados desde o ensino médio, para promover o respeito à diversidade religiosa do país. A proposta foi feita por educadores e religiosos durante audiência da Comissão de Direitos Humanos sobre o Estado laico.

Na abertura da reunião, o presidente da Comissão, deputado Luiz Couto (PT-PB), que também é padre, lembrou que é papel do Estado garantir a liberdade de crença prevista no artigo quinto da Constituição Federal.

“A democracia não convive com religião oficial, essa prática ficou no passado, nas monarquias e nos despotismos da idade média, não tem lugar nas sociedades democráticas contemporâneas. Daí que um compromisso das instituições republicanas e de cada um de nós é respeitar e promover a liberdade para as diferentes confissões religiosas”, disse.

O antropólogo e líder da Igreja Céu do Planalto, Fernando de La Rocque, lembrou que o Estado brasileiro é laico há 128 anos, mas que estão sendo discutidos projetos de lei que ferem esse princípio.

“Constantemente temos que lembrar ao Estado que ele é laico e isso traz grande preocupação. Isso se reflete em inúmeros dispositivos e projetos de lei que buscam reinventar o que já está bem explícito na carta magna. Propostas que buscam restringir o direito de todos, com especificações desnecessárias que, ao contrário de apresentar um posicionamento democrático, no sentido de ampliação dos direitos, seguem um caminho de nomear uma visão específica como modelo de ideias tão diversas como família, religião e cultura”, disse.

Presídios
O sacerdote de matriz africana Pai Francisco Ngunzentala deu o exemplo do sistema prisional como uma área onde, na prática, existe diferenciação, pelo Estado, entre as religiões. Apesar da maioria da população carcerária ser de pessoas negras, as religiões de matriz africana não conseguem autorização para participar do serviço de capelania, que oferece cultos religiosos nos presídios.

A secretária-executiva do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, pastora Romi Márcia Bencke, lembrou de diversos episódios de intolerância religiosa nos últimos anos e da influência religiosa nas eleições.

“Novamente Deus tem sido um ator importante no cenário político. Seu nome foi disputado por todas as correntes políticas; nas igrejas foi possível observar as mesmas tensões e polarizações presentes na sociedade, irmãos brigando com irmãos. Fé e violência são incompatíveis. Não há como professar, no caso de cristãos e cristãs, a fé em Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, destruir o sagrado do outro”, observou.

Ensino médio
Ao final, o professor Fernando de La Rocque sugeriu que sejam ensinadas noções de direito constitucional no ensino médio. Já a pastora Waldicéia de Moraes Teixeira da Silva, presidente da Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil, que também é professora aposentada, propôs que as escolas não tenham aula de uma religião, mas de ciência da religião, de forma ampla, para combater a intolerância religiosa.

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Luiz Couto, informou que esse debate sobre a laicidade do Estado deve continuar até o final do ano.

Reportagem - Cynthia Sims
Edição – Roberto Seabra


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Ativistas dizem que Estado laico é fundamental para avanço dos direitos LGBT

Leonardo Prado/Câmara dos Deputados
Sessão solene em homenagem ao Dia do Orgulho LGBT

Sessão solene no Plenário da Câmara dos Deputados homenageou o Dia do Orgulho LGBT

Ativistas e parlamentares reafirmaram nesta sexta-feira (7) a necessidade de um Estado laico para o avanço da luta pelos direitos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). Eles participaram de sessão solene no Plenário da Câmara dos Deputados em homenagem ao Dia do Orgulho LGBT, celebrado em 28 de junho.

Para a deputada Erika Kokay (PT-DF), é preciso enxergar a variedade de orientações sexuais e identidades de gênero antes da formulação de políticas públicas. Segundo ela, um dos pontos mais sensíveis da agenda LGBT é justamente a necessidade de separar a religião da luta pelos direitos civis.

"A lógica fundamentalista de achar que a sua forma de amar é a única, que a sua igreja é a única e que a sua forma de pensar é a única impede o avanço da própria humanidade”, sustentou.

Erika Kokay acrescentou que a intolerância em relação aos direitos dessa minoria coloca o Brasil em primeiro lugar no ranking de países que mais matam gays e lésbicas.

A parlamentar também criticou a recente decisão da Câmara Legislativa do Distrito Federal de derrubar o decreto que regulamenta a lei anti-homofobia. A lei que propõe uma série de direitos a essa minoria já tinha sido regulamentada pelo governador Rodrigo Rollemberg, mas a bancada evangélica distrital se articulou para revogar o texto.

“O Estado vai passar a não encarar como natural as manifestações LGBT”, alertou Kokay.

Na mesma linha de discurso, o deputado Vicentinho (PT-SP) disse que não é “papel da religião rebaixar o ser humano, porque seu papel é o de nos qualificar”. “Nenhum de nós deve ser julgado ou pela cor da pele, ou pela orientação sexual, ou pelo nosso jeito de vestir e pensar”, reforçou.

Misoginia

Transexual, a coordenadora dos Direitos LGBT da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos (SEDH) do Ministério dos Direitos Humanos, Marina Reidel, também se preocupa com “tempos sombrios” de recrudescimento da violência com base em gênero. Ela reiterou que as manifestações de misoginia enfraquecem a autoestima dessa população e devem ser combatidas com mais rigor pelas leis antipreconceito.

“Nós sofremos no dia a dia porque parece que nós transpiramos sexualidade 24 horas, mas não. Nós também somos pessoas que temos sentimentos, nós também buscamos o amor, a paz, o direito e a cidadania”, defendeu.

Militância

A representante da Organização das Nações Unidas (ONU) na sessão solene, Rubi Martins dos Santos Correia, defendeu a capacitação de jovens transexuais para a militância por seus direitos e deveres. Ela participa da campanha Livres e Iguais, que identifica as demandas de gays e lésbicas para ter acesso aos seus direitos em diversos países.

"Está chegando uma geração com garra, que vai bater de frente, que vai apertar a tecla mil vezes até chegarmos em um patamar onde a gente seja respeitada, como a gente nasceu, no corpo que a gente tem, pelo nosso nome", frisou.

Reportagem – Emanuelle Brasil

Edição – Pierre Triboli

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