Estudantes mais pobres não possuem EF
Um terço dos estudantes mais pobres não possuem ensino fundamental, aponta Inep
Os dados sobre as condições sociais e econômicas dos estudantes compõem o Plano Nacional de Educação (PNE)
por Clara Ribeiro 26 de outubro de 2020
Além da enorme disparidade entre a oferta do ensino público e privado, as diferenças socioeconômicas dos alunos também tem entrado em debate.
Primeiramente, a saber, de acordo com dados divulgados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), dos cinco milhões de inscritos no Enem em 2019, somente 46% dos participantes possuíam computador em casa, e 22,4% não tem acesso a internet.
Além disso, o mesmo estudo aponta que somente 63,8% das pessoas com 16 anos possuem ensino fundamental completo no Brasil. Algo que surge como alarme, sobretudo entre as classes mais baixas. Quando comparado aos mais pobres o percentual cai para 25% para essa fase do ensino. Já entre os mais ricos o percentual de conclusão é 95,1%.
Ademais, o índice de analfabetismo funcional entre os jovens de 15 anos ou mais é de 20% nas camadas mais pobres. E de 5,3% entre as camadas mais ricas.
Os dados compõem o Plano Nacional de Educação (PNE), responsável por traçar as estratégias para a política educacional entre 2014 e 2024.
Apesar da notícia em cunho de alerta, de acordo com pesquisa realizada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, ao menos 85% das metas estabelecidas não chegarão ao ápice nos prazos.
A coordenadora da Campanha, Andressa Pellanda analisa a situação atual. “Somente com investimentos de forma adequada, poderemos financiar as políticas já previstas em lei. Se cumpríssemos a legislação, não estaríamos enfrentando todo esse cenário de exclusão escolar”, diz ela.
Investimento em ETI – Ensino em tempo integral
De acordo com o professor da UFMG José Francisco Soares, o investimento em educação em tempo integral se mostra como uma das saídas para redução das desigualdades no ensino público.
“Vamos fazer transformações para a criança chegar à escola e ficar mais tempo, para ela ter um corpo profissional que vai se sentir responsável por aquele grupo. Acho que a sociedade precisa colocar isso em seu sonho. O Brasil não tem solução se a gente achar que pode construir um país para poucos, e a primeira expressão para a inclusão é a escola”, explica Soares.
Vale dizer que o PNE visa oferecer pelo menos 50% de ensino em tempo integral nas escolas públicas, visando atender pelo menos 25% dos alunos. Entretanto, em 2019, o percentual era apenas de 23,6%.