Eu acuso!
Eu acuso!
Vocês!
Todos vocês.
Vocês, que desprezaram o professor universitário,
e que em nome de deus
(que deus?)
votaram no capetão.
Vocês, todos vocês.
57 milhões de vocês.
Todos, sem exceção.
Vocês não têm perdão.
Nunca terão.
Não há desinformado, não há enganado.
Há apenas o mal intencionado.
Aqueles que não querem que a bandeira verde e amarela seja vermelha, jamais!
Mas querem ver a terra e o asfalto tingidos de vermelho.
Cada vez mais.
80 tiros ontem, 200 tiros hoje, 400 tiros amanhã.
Poderia ser mais.
Poderia ser eu, você, tua mãe, teu irmão, teu pai.
Não importa,tanto faz.
Tingindo de vermelho cor de sangue
o preto do asfalto do Brasil do mundo cão.
Eles te matam, quem precisa de razão?
Daqui para frente todas as tragédias serão iguais.
Não importa, tanto faz.
Seremos o país da bandeira verde e amarela sem vermelho e sem vergonha mas não faltará, tingindo a terra e o asfalto e o cimento o vermelho do meu sangue, o vermelho do teu sangue, o vermelho do sangue do pobre, o vermelho do sangue da lésbica, o vermelho do sangue do preto, o vermelho do sangue do homossexual, o vermelho do sangue do anarquista e também do petista.
O vermelho do sangue do estudante secundarista.
Afinal, tanto faz, são mesmo todos comunistas!
O sangue vermelho das minorias, que deverão se curvar diante das maiorias, ou desaparecer, tem de verter.
Doravante, é assim que tem de ser.
Eles têm as armas, e terão mais, e querem nos matar.
E pensar que nós já fomos o povo sem medo de ser feliz.
Mas que hoje se encontra infeliz.
Infeliz e sedento.
Eu lamento.
Enquanto nós termos sede de Justiça, eles têm sede de sangue.
Não se engane, é o meu e o teu sangue que eles querem beber e ver jorrar.
Eu morro de vergonha dessa gente, cuja bandeira verde e amarelo sem vermelho e sem vergonha jamais será vermelha.
Essa gente faz brotar em meu coração, que jaz cheio de indignação, uma espécie de centelha.
O Brasil da bandeira verde e amarelo, sem vermelho e sem vergonha muito me entristece, e muito me envergonha.
O Brasil da bandeira verde e amarelo, sem vermelho e sem vergonha, se tornou a personificação da violência que a gente tanto combatia.
No peito era uma chama que a gente trazia.
Hoje é um alvo, e ninguém mais está a salvo.
Nossa sede de Justiça se voltou contra nós.
Estaremos, pois, tão sós?
Haverá quem ouça nossa voz?
Ou será que o Deus deles, que é de alguns dos nossos também, se furtará ao dever de nos amparar?
O Deus que está acima de tudo se calará diante do nosso clamor, já quase mudo?
Quanto a mim, só espero.
“Amanhã vai ser outro dia”.
Mas não me iludo, todavia.
Não rezo.
Não me desespero.
Só luto.
É isso que eu quero.
E isso é tudo.
Eu acuso.
https://medium.com/@diogenes_junior/eu-acuso-512b37cffbb8