Excluídos do 07 de Setembro
Os excluídos do 07 de Setembro
Chegamos a mais um 07 de setembro com nossa independência inconclusa, questionada e disputada. Como ocorre nos últimos anos, as comemorações serão marcadas pelo reforço oficial das invenções autoritárias em torno do Grito do Ipiranga e as narrativas outras, críticas e generosas, do Grito dos Excluídos.
Essas disputas, não são novas. Sempre estiveram presentes nas chamadas “comemorações” do 07 de setembro. Há exatos 100 anos, em 1920, num Brasil ainda marcado pela recente pandemia da gripe espanhola, os jornais evidenciavam, de forma polarizada, os sentidos destes processos em torno das emancipações territoriais e de seus povos. Em suas propagandas, muitos discursos sobre descobertas médicas; novos medicamentos e avanços farmacológicos; o crescimento industrial, outras exigências para a inserção no mundo do trabalho, anúncios de métodos e práticas pedagógicas ditas modernas; forjando um sentido comum em torno do desenvolvimento e do progresso da sociedade.
Mas, também naquele momento em um caminho oposto, o aniversário do Centenário da Independência do Brasil, era problematizado e levantava a polêmica sobre uma pátria “independente”, mas ainda, marcada pela “desmoralização da política”, em benefício de alguns grupos sociais privilegiados, não se comprometendo com a “fraternidade, ordem e evolução social”; compromisso que deveria ser responsabilidade de seus governantes, em busca da efetiva emancipação e liberdade dos seus povos, não um único, mas de todos eles.
Naquele momento, não se tratava mais do enaltecimento do “Grito do Ipiranga”. Os jornais reverberam os gritos que não eram escutados. Por via da disputa de narrativas, mas confirmando as correlações de força, denunciava-se uma pátria suja de sangue, “sangue derramado de tantos milhões de homens” – e mulheres, e crianças – que morriam, diariamente, lutando por suas vidas e “fecundando a justiça”.
De setembro de 1920 para 2020, o que mudou? Apesar das muitas transformações e rupturas, algumas perversas permanências chamam atenção. Em torno e em razão delas, ouve-se nitidamente o Grito dos Excluídos, deste ano. Em 2020, recorre-se a necessidade em gritar e destacar que a “Vida [está] em primeiro lugar”. Não basta nomear Pátria e Independência quando, apesar do conceito, é necessário reafirmar que todos, todas, todes têm direitos sociais e merecem reconhecimento, participação, voz e vez.
Que Pátria é esta na qual precisamos resistir por nossas vidas – de várias cores, gêneros, classes, culturas, religiões, etc… – e reivindicar diariamente, sofridamente, forçosamente, ininterruptamente por justiça, por democracia, por liberdade? Que liberdade é esta, a qual nos impede de andar, circular, viver sendo quem somos, independentemente da geografia das nossas moradias, em bairros, favelas, periferias, comunidades, nas ruas? A qual independência estamos evocando quando, cotidianamente, a fome, o desemprego, a falta de teto, de dignidade desespera parcela significativa de nosso povo? É preciso que construamos outros 07 de setembro, e urgente! Neste, mais uma vez, seguiremos agitando e gritando, com muitos ecos e sotaques, em busca da emancipação não conquistada pelos/as muitos/as brasileiros/as excluídos/as da nossa “Pátria Mãe Gentil”.
- Esse Editorial contou com a colaboração da profa. Cintia Borges de Almeida (UESC/BA)
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