Existe Xandão

Existe Xandão

 

 

 

AINDA BEM QUE EXISTE XANDÃO: SENÃO OS PORRAS LOUCAS JÁ TERIAM LEVADO A REPÚBLICA NO GRITO

Por João Guató

Às vezes me dá um frio na espinha — não desses de ar-condicionado de gabinete, mas daquele que sobe da sola do pé quando a gente imagina o abismo. A pergunta é simples, quase infantil, mas perigosa: o que seria de nós, pobres mortais, que não comungamos com os porras loucas do bolsonarismo miliciano e os patriotas do agronegócio, se não tivéssemos o Xandão para barrar esses malucos investidos de mandato?

Sim, mandato. Palavra bonita, sonora, respeitável. Na boca errada vira arma branca. Na mão errada vira retroescavadeira passando por cima da Constituição como se fosse estrada vicinal em época de seca.

Sem o Xandão, meus amigos, a República já teria sido transformada num grande grupo de WhatsApp com administrador autoritário, áudio em caixa alta e teoria da conspiração fixada no topo.

OS ELEITOS DO DELÍRIO

Porque não estamos falando de doidos anônimos gritando na esquina. Não. Estamos falando de gente eleita: vereador com bíblia numa mão e ameaça na outra; deputado estadual confundindo plenário com curral; deputado federal achando que imunidade parlamentar é licença para crime; senador que trata golpe como opinião; governador que governa como se fosse capataz; e até presidente da República que flertou com quartel como quem flerta com a própria sombra.

Tudo isso embrulhado num discurso patriótico de fachada, com bandeira no ombro, Deus no slogan e a democracia jogada no porta-malas.

O AGRO, A BALA E O DELÍRIO

E no fundo do palco, sempre eles: os patriotas do agronegócio mais raivoso, que dizem amar a pátria, mas odeiam indígenas, ambientalistas, professores, jornalistas e qualquer um que ouse lembrar que a terra tem limite — jurídico, humano e moral.

Sem um freio institucional, essa turma pisaria fundo. E pisaria mesmo.

Com trator, com caneta, com bala, com decreto.

A CARECA COMO PARA-CHOQUE DA DEMOCRACIA

É aí que entra o Xandão. Não como herói de gibi — mas como aquilo que o Brasil raramente teve: alguém disposto a dizer não.

Não ao golpe.

Não à palhaçada.

Não à madrugada golpista.

Não ao mandato usado como salvo-conduto para crime.

A careca mais odiada da extrema-direita virou, por ironia histórica, para-choque da democracia brasileira. Cada despacho, uma lombada. Cada decisão, um redutor de velocidade no caminho da barbárie.

Sem ele, o porra-louquismo institucional já teria passado do limite faz tempo.

NÓS, OS SOBREVIVENTES

E nós? Nós seguiríamos aqui, pobres mortais, tentando viver sob um regime de ameaças, rezas armadas e patriotismo seletivo. Talvez já estivéssemos pedindo desculpa por existir, por pensar, por ensinar, por discordar.

Mas não. Ainda respiramos.

Ainda escrevemos.

Ainda rimos — porque rir também é resistência.

A VERDADE INCÔMODA

Gostem ou não, é preciso dizer: se não fosse o Xandão, esse país já teria escorregado para um buraco mais fundo. Não por causa de um homem, mas por causa de uma horda de eleitos que confundiram voto com licença para destruir.

O dia em que a democracia brasileira não precisar mais de um freio tão duro será um grande dia.

Mas até lá, que ele siga firme.

Porque, entre o porra-louca armado e o juiz que diz “daqui você não passa”, eu fico com a Constituição — ainda que ela venha escoltada por uma careca reluzente.

FONTE:

https://www.facebook.com/photo?fbid=10214570999985459&set=a.3358299773034&locale=pt_BR 




ONLINE
36