Extinção dos estoques públicos de alimentos
Bolsonaro extinguiu os estoques públicos de alimentos e a conta você que paga
Entenda como uma medida administrativa tomada por Bolsonaro e sua ministra da Agricultura Tereza Cristina (do DEM) contribuiu para que o preço dos alimentos não pare de subir. A extinção dos estoques públicos tornou todos brasileiros reféns dos lucros e especulação do agronegócio.
Ricardo Sanchez 18/09/2021
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
A inflação não para de subir. Especialmente aquela que afeta o bolso do trabalhador. É a carne, o óleo de soja, o arroz, o feijão e até os legumes. Isso para não falar do gás de cozinha e da conta de energia. Tudo isso tem um pano de fundo dos preços em dólar e, os lucros imensos do agronegócio e dos acionistas privados da Petrobras e outras empresas. Mas há também outras causas, uma delas é de direta responsabilidade de Bolsonaro e Tereza Cristina, sua ministra da Agricultura. Eles extinguiram os estoques públicos da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) e todo trabalhador brasileiro paga a conta.
A CONAB é uma empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura surgida no governo Collor como fusão de diferentes empresas públicas, entre elas a CIBRAZEM (de estoques), essa empresa, segundo decreto do governo Sarney (94.154 de 20/3/1987) deveria “agir como elemento regulador do mercado de produtos agropecuários e da pesca”. Ou seja essa empresa deveria atuar controlando estoque de alimentos para evitar choques de preços e garantir a segurança alimentar da população. O que se vê é o contrário. Foram extintos os estoques públicos para colocar a população refém do agronegócio.
O processo de extinção dos estoques públicos de alimentos tem uma longa história, passa por Itamar, FHC, Lula, Dilma porém há um inequívoco salto em sua extinção sob o governo golpista de Temer e a pá de cal final foi dada por Bolsonaro e sua ministra porta-voz do Agronegócio (do mesmo partido de Mandetta, o DEM).
Segundo estudo publicado no site da empresa é dramática a queda nos estoques públicos em diversos produtos alimentícios. Comparamos a seguir os estoques de alguns dos principais produtos que a CONAB já estocou algum dia.
Arroz: Em agosto de 2013, 646.431 toneladas; em agosto de 2016, 48.160 toneladas; em agosto de 2021, 722 toneladas.
Milho: Em agosto de 2013, 203.215 toneladas; em agosto de 2016, 129.884 toneladas; em agosto de 2021, 0 toneladas (existindo 38.925 toneladas em “opções de compra”).
Açúcar: Em agosto de 2013, 112 toneladas; em agosto de 2016, 29 toneladas. Estoque zerado desde dezembro de 2016.
Café: Em agosto de 2013, 284 toneladas; em agosto de 2016, 200 toneladas. Estoque zerado em março de 2017.
Farinha de mandioca: estoque zerado em maio de 2003 (governo Lula), retomado somente agosto de 2015 (governo Dilma 2); estoque em agosto de 2016,14.549 toneladas, estoque zerado novamente no governo Bolsonaro, em dezembro de 2020.
Feijão: estoque esgotado em dezembro de 2001 (FHC) e retomado em agosto de 2004 (Lula 1), estoque esgotado em agosto de 2016 (Temer).
Trigo: Estoque iniciado em novembro de 2004 (Lula 1) e reduzido de 174.798 toneladas para 15.000 toneladas no governo Dilma, valor mantido em Temer, estoque atual: 1649 toneladas.
Leite: Estoque esgotado em fevereiro de 2019 (Bolsonaro).
Soja: Estoque esgotado em julho de 2013 (Dilma).
Há um produto, no entanto, que a CONAB mantém elevado estoque: sacos de polipropileno. Interessante notar que a regulação desse componente dos custos do agronegócio é fielmente garantida pela empresa “pública”, porém para todos os produtos que impactam no preço do consumidor não.
A decisão de não estocar soja, trigo, milho, arroz, feijão, mas sim sacos de propileno, escancara como a CONAB é utilizada no governo Bolsonaro para garantir lucros do agronegócio. A inexistência de estoques públicos de alimentos impede a realização de leilões que permitam regular os preços e diminuir os impactos da inflação por via de valorização das commodities e do dólar. Não existindo estoques públicos toda determinação de preço fica ao sabor do mercado e toda sanha de lucro do agronegócio. Por outro lado, a existência de um estoque público de sacos de propileno permite ao agronegócio reduzir essa pequena parcela de seus custos que dependem do fornecimento de um insumo monopolista da BRASKEM (parceria Odebrecht-Petrobras) no Brasil.
Com a decisão de extinguir estoques públicos de alimentos o governo Bolsonaro ajuda o agronegócio a aumentar seus lucros, ao mesmo tempo que garante que você pague a conta disso na inflação, no custo absurdo dos alimentos, nas filas para compra ou doação de ossos.