Falta de professores
Falta de professores marca cotidiano escolar
Na Escola Estadual Normal José Bonifácio, as ausências estão alterando o cronograma e afetando a quantidade de aulas de cinco para dois períodos em algumas turmas
Com quase um mês do retorno das aulas na rede estadual de educação básica, a falta de professores segue preocupando a comunidade escolar erechinense. Na Escola Estadual Normal José Bonifácio, as ausências estão alterando o cronograma e afetando a quantidade de aulas de cinco para dois períodos em algumas turmas.
De acordo com a diretora da instituição de ensino, Susiê Moreira, a preocupação se intensifica em função da longa espera e nenhuma sinalização de aprovações para as demandas da escola. "Além de não termos respostas para nossas necessidades, ainda tivemos a perda de alguns profissionais após o início do ano letivo para suprir a demanda de outras escolas ou por licença saúde", explicou à reportagem do Jornal Bom Dia.
Susiê salienta ainda, que a única alternativa apresentada pelos órgãos responsáveis é a realocação de profissionais. "Nesta proposta, por exemplo, nossa bibliotecária retornaria para a sala de aula. Contudo, é fundamental que se perceba que todos os setores e profissionais devem ser tratados como prioridade à aprendizagem, os professores, coordenadores, merendeiras, serventes, secretários, monitores, e, inclusive, as bibliotecárias. Como uma escola que atende o magistério fechará a biblioteca?", questionou.
Para a diretora, essa proposta prioriza apenas a sala de aula, mas deixa desassistidas outras dimensões que envolvem os processos de ensino. "Eu tenho ido diariamente à 15ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), mas o que ouço é que devemos ter paciência, aguardar que os coordenadores sejam encaminhados às salas de aula, para que depois nossa solicitação seja atendida. Isso deixa um sentimento desconcertante, em linguagem popular estão 'despindo um santo para vestir outro'", pontuou.
Atualmente, a escola atende aproximadamente 1.200 estudantes e as ausências atingem as disciplinas de Matemática, Língua Inglesa, Geografia, Educação Física e Didática de Matemática (para o magistério). "A falta de um professor com carga horária semanal de 20 horas deixa em aberto no mínimo cinco turmas, atingindo a formação de mais de 130 alunos. Multiplicando esse número pela quantidade de disciplinas que estamos em falta, ultrapassa 500 estudantes que não estão recebendo a educação que merecem", finalizou Susiê.
As turmas mais atingidas são as dos segundos e terceiros anos do ensino médio, que estão entrando mais tarde e saindo mais cedo da escola. Para fortalecer os pedidos de contratação de professores, a escola já realizou reuniões com o Conselho Escolar, com a CRE e está organizando encontros com os membros do Conselho de Pais e Mestres (CPM).
Reflexo nas perspectivas profissionais
"Estamos completando um mês de aulas no dia 20 desse mês, não sabemos quando nosso cronograma estará regularizado, pode demorar mais um mês e isso impacta diretamente em nosso futuro profissional", essa é a preocupação da estudante do 3º ano do magistério da Escola José Bonifácio, Ana Barbara Decesaro.
Para a estudante, a lacuna presente no cronograma escolar impossibilita a formação de forma completa.
"Nossa disciplina de Didática de Matemática é muito importante, pois é esse o espaço que temos para aprender a como ensinar os conteúdos. Nós seremos professores das séries iniciais, já aprendemos os conteúdos de Matemática, mas também precisamos saber como ensinar nossos futuros alunos", pontuou.
Outro aspecto que Ana chama a atenção é a exigência cobrada nos vestibulares e no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), bem como, no mercado de trabalho. "Na escola estamos nos preparando para as seleções de ingresso no ensino superior e também para disputar vagas no mercado de trabalho, e todos nós sabemos como as disciplinas que estão em falta são importantes para esses processos. Por exemplo, aprender o inglês representa um crescimento imensurável para nossa atuação profissional", concluiu.
Prossegue tudo igual
No dia 22 de fevereiro a reportagem do Bom Dia publicou a situação do Colégio Agrícola Estadual Ângelo Emilio Grando, em Erechim, que estava sem professores nas duas áreas que compõe a instituição: ensino médio e técnico/profissional.
Naquele momento e em função da instituição manter um internato, a decisão tomada pela direção foi manter as aulas até as quintas-feiras, para liberar os estudantes e não mantê-los ociosos no ambiente escolar.
A reportagem entrou em contato com o colégio na segunda-feira (11) e a situação permanece igual.
Conforme a coordenadora pedagógica, Roseli Fatima Arnold, a direção está fazendo o possível para regularizar o cronograma, até reuniões foram realizadas na capital do Estado, contudo, nenhum professor foi encaminhado ao colégio.
Prioridade?
Procurada pela reportagem no Bom Dia, a coordenadora da 15ª CRE, Andreia Ascari, informou que todo o gerenciamento do quadro de professores é feito por meio do sistema da Secretaria Estadual de Educação (Seduc). No entanto, esse sistema possuiu alguns critérios. "Os setores de gestão das escolas devem, necessariamente, ser compostos por pedagogos ou professores com especializações em gestão escolar. Às vezes as escolas estão solicitando um professor de Português, mas esse profissional já está lá, exercendo outra função", destacou Andreia.
Com isso, a 15ª CRE, está trabalhando para conscientizar as direções no redirecionamento desses professionais às sala de aula. "Se um professor está na biblioteca, ele está apto a trabalhar e a prioridade deve ser a sala de aula", argumentou a coordenadora.
Questionada sobre a importância desses setores para a aprendizagem, Andreia enfatiza que a orientação é do secretário de Educação, Faisal Karam, em reunião. "Nesse encontro, foi declarado que todas as escolas estaduais estão passando por um enxugamento no quadro, priorizando a sala de aula e que no segundo momento seria pensado a situação desses setores que ficarão desassistidos, tais como as bibliotecas", concluiu.
Por meio de nota enviada ao Bom Dia, a Seduc não sinaliza quando a situação será, de fato, resolvida. "A Secretaria Estadual de Educação informa que atualmente, a rede estadual de ensino conta com 61.805 professores ativos. Em 2018, este número era de 62.520. O que ocorre, de fato, é a readequação da estrutura de forma compatível ao número de estudantes. Nos últimos 15 anos, entre 2003 e 2018, o número de alunos da rede pública estadual caiu de 1,5 milhão para 900 mil - o que representa uma de queda de 40%. Situações de necessidades de preenchimento de carga horária foram identificadas em alguns municípios da 15ª CRE, e a Seduc está resolvendo a situação com prioridade", pontuou o órgão.
Para o órgão, a questão está sendo tratada em 'primeiro plano' contudo, no cotidiano escolar, a angústia só aumenta e, com quase um mês do início das aulas, as escolas ainda têm dificuldade para ofertar todas as disciplinas.