Filmes para ver na sala de aula
10 filmes alemães para ver na sala de aula
Lista inclui títulos sobre a ascensão do nazismo, a Segunda Guerra Mundial e os tempos da Alemanha Oriental
22/4/2024
Recém-lançado nas plataformas de aluguel digital, A Sala dos Professores (2023) é um filme alemão que deveria ser tema de aula e de casa, como escrevi na coluna.
E há várias outras obras do cinema da Alemanha que merecem ser vistas e trabalhadas nas escolas e nas universidades, pois abordam momentos cruciais da história do século 20, como a ascensão do nazismo, a Segunda Guerra Mundial e os tempos da Alemanha Oriental.
Existe uma preocupação em revisitar o passado em nome do presente e do futuro — nunca deixe de lembrar, diz o título brasileiro de um dos 10 longas-metragens que compõem a lista abaixo. Alguns estão disponíveis no streaming, e outros podem ser encontrados em DVD.
1) M: O Vampiro de Düsseldorf (1931)
De Fritz Lang. Nascido na Áustria, o cineasta dividiu a carreira entre a Alemanha e Hollywood. No país europeu, fez este filme baseado em um caso real. Na trama, marginais de Düsseldorf se unem para caçar um assassino de crianças procurado pela polícia (personagem vivido por Peter Lorre). Capturado, ele é julgado por um tribunal de criminosos, porque as ações do maníaco homicida estão atrapalhando os negócios escusos. M reflete sobre o sentimento coletivo da população às vésperas da ascensão do nazismo e é um clássico do expressionismo alemão (ou seja, serve de objeto de estudo também sobre a história do cinema). (Belas Artes à La Carte e Looke)
2) O Barco: Inferno no Mar (1981)
De Wolfgang Petersen. Com um impressionante trabalho de cenografia, o filme recria o claustrofóbico interior de um submarino nazista perseguido pelas forças dos aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Interpretado por Jürgen Prochnow, seu comandante é um navegador experiente e grande estrategista que tenta preservar a moral da tripulação em meio à progressiva tensão dos enfrentamentos que vão avariando o submarino e tornando cada vez mais tensa a luta daqueles marinheiros pela sobrevivência. Afora sua excelência como filme de ação, O Barco é também um emocionante manifesto sobre a bestialidade da guerra e a condição humana em situações extremas. Concorreu a seis Oscar, incluindo o de melhor direção. (Disponível para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
3) Adeus, Lênin! (2003)
De Wolfgang Becker. Sucesso de público e de crítica na Europa, indicado ao Globo de Ouro de filme internacional, a comédia dramática narra a dedicação do jovem Alex (Daniel Brühl) à mãe (Katrin Sass), uma fervorosa militante comunista da antiga Alemanha Oriental. Às vésperas da queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, Christiane entra em coma depois de sofrer um ataque cardíaco. Ao recobrar a consciência oito meses depois, o mundo não é mais o mesmo — e Alex, temeroso de que qualquer emoção forte abale ainda mais a saúde da mãe, decide manter vivo aos olhos dela o realismo socialista, afastando de casa as novidades trazidas pelo capitalismo e evocando o antigo regime por meio de falsos noticiários de TV. (Max)
4) A Queda! As Últimas Horas de Hitler (2004)
De Oliver Hirschbiegel. No filme indicado ao Oscar internacional, Adolf Hitler (encarnado por Bruno Ganz) aparece brincando com seu cachorro, elogiando a massa preparada pela cozinheira, beijando na boca Eva Braun, pegando no colo uma criança e até derramando uma lágrima. Esse retrato da faceta humana do genocida nazista tinge de controvérsia A Queda!, que se concentra nos acontecimentos a partir do dia 20 de abril de 1945, data em que o Führer se refugiou no bunker instalado no subsolo da Chancelaria Alemã, enquanto o exército russo fechava o cerco a Berlim, nos estertores da Segunda Guerra Mundial. A sequência em que Hitler esbraveja com seus oficiais se transformou em um dos mais famosos memes da internet. (Em DVD)
5) A Vida dos Outros (2006)
De Florian Henckel von Donnersmarck. Neste filme que venceu o Oscar internacional, Ulrich Mühe interpreta um metódico agente da Stasi, a polícia secreta da antiga Alemanha Oriental, que é encarregado, nos anos 1980, de espionar um dramaturgo (Sebastian Koch) e sua esposa (Martina Gedeck), suspeitos de ligações com o Ocidente. Ao bisbilhotar a intimidade do casal, o agente passa a questionar sua missão e dá início a uma profunda transformação pessoal. (Em DVD)
6) A Onda (2008)
De Dennis Gansel. Estrelado por Jürgen Vogel, encena a experiência real realizada em sala de aula, nos EUA, em 1967, e sublinha a necessidade do alerta permanente para evitar que as sementes do mal e da tirania germinem tanto em gabinetes e palácios quanto no pátio do colégio. Na trama, professor propõe a autocracia como tema a ser trabalhado e se coloca como líder desse imaginário regime despótico. Ele atribui papéis e delega missões que levam a turma a se comportar como milícia, criando uniforme, símbolo e saudações próprias. Instaura-se um clima de vigilância, preconceito e perseguições a "dissidentes", e a coisa descamba para a violência. (Em DVD)
7) A Fita Branca (2009)
De Michael Haneke. O filme que levou a Palma de Ouro no Festival de Cannes e concorreu aos Oscar de longa internacional e melhor fotografia (um preto e branco belo e sóbrio de Christian Berger) se dedica a examinar com seu olhar distanciado e quase malvado a gênese do nazismo, urdido pela mistura de rígidos padrões morais e caráter punitivista. Numa localidade rural alemã, às vésperas da eclosão da Primeira Guerra Mundial, crimes brutais começam a ser cometidos contra crianças e adultos, sem que se saiba o autor das crueldades, acobertadas por um véu de medo ou cumplicidade. Os fatos são narrados pelo professor do coral do vilarejo (Christian Friedel), também o protagonista da história. Em ZH, o crítico Daniel Feix apontou que Haneke, diretor austríaco nascido em Munique, "volta-se para os rituais punitivos, consequência dos princípios naturais de severidade daqueles homens. O pastor da região, por exemplo, impõe a seus filhos o uso de uma fita branca como símbolo do ideal de manter, na vida adulta, a ingenuidade e a pureza da infância". (Reserva Imovision)
8) Nunca Deixe de Lembrar (2018)
De Florian Henckel von Donnersmarck. A vida do artista alemão Gerhardt Richter, marcado, primeiro, pelas perseguições do nazismo e, depois, pelo cerceamento do regime comunista na Alemanha Oriental, inspirou este filme memorável, que disputou o Oscar nas categorias de longa internacional e melhor fotografia. Não se deixe assustar pelos 188 minutos da duração, que são envolventes desde a primeira cena — e evite ler as sinopses, pois algumas delas trazem revelações demais sobre a trama, capaz de nos surpreender e nos emocionar. No elenco, Tom Schilling, no papel do protagonista, Kurt Barnert, Paula Beer, de Afire (2023), e Sebastian Koch, de A Vida dos Outros. (Netflix)
9) Nada de Novo no Front (2022)
De Edward Berger. A primeira adaptação alemã do clássico de Erich Maria Remarque sobre a Primeira Guerra Mundial ganhou quatro troféus no Oscar: melhor filme internacional, fotografia, design de produção e música original. As primeiras sequências são sublimes, ainda que lúgubres, em mostrar a guerra como uma máquina de moer vidas em moto-perpétuo. Nessa indústria da morte, tudo precisa ser reciclado, tudo precisa ser passado adiante: as botas e os uniformes saem de um cadáver para o próximo corpo a ser exposto às baionetas, às granadas, ao gás, ao frio, à fome, à lama.
O personagem Paul Bäumer é interpretado com assombro e sensibilidade pelo estreante Felix Kammerer. Quando a trama começa, ele e outros jovens amigos alistam-se "pelo Kaiser, por Deus e pela pátria". Estão radiantes, mas logo estarão profundamente amedrontados — "Quero ir pra casa!", chora um deles diante do trabalho árduo e absolutamente insalubre em uma trincheira. Alternadamente, acompanhamos os bastidores políticos, nos quais estão envolvidos o diplomata alemão Matthias Erzberger (Daniel Brühl), que era contrário à guerra, e o marechal francês Foch (Thibault de Montalembert), implacável e irredutível em seus termos para o cessar-fogo. Nessas passagens, Nada de Novo no Front opõe a realidade dura e suja dos soldados ao luxo dos lugares frequentados pelos oficiais do alto escalão de ambos os lados. Já dizia aquele célebre aforismo: "A guerra é um lugar onde jovens que não se conhecem e não se odeiam se matam, por decisões de velhos que se conhecem e se odeiam, mas não se matam". (Netflix)
10) A Sala dos Professores (2023)
De Ilker Çatak. Foi o filme da Alemanha no Oscar internacional. Na trama, uma professora idealista (Leonie Benesch) resolve investigar uma série de furtos na escola. Um aluno dela, filho de imigrantes, é o principal suspeito. A cada passo, a protagonista afunda numa espécie de areia movediça do campo da ética. A Sala dos Professores convida a refletir sobre questões variadas, algumas perenes e outras candentes: as dinâmicas de poder, as desconfianças mútuas, os direitos de privacidade, os limites tênues entre o certo e o errado, a política da desinformação e a fragilidade da verdade, a censura, a cultura do cancelamento, a xenofobia, o bullying, o corporativismo, a perda de autoridade da figura do professor e a intromissão dos pais na escola. (Disponível para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
Bônus: A Caverna dos Sonhos Esquecidos (2010)
De Werner Herzog. Não é sobre a história da Alemanha, mas a da humanidade. O cineasta apresenta as pinturas rupestres mais antigas feitas pelo homem (há 30 mil anos), na caverna de Chauvet, na França, e busca entender essas expressões. (MUBI)
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