Filmes sobre regime autoritário militar
Filmes: Ditadura nunca mais
O reacionarismo golpista diante da vitória de Lula só demonstra a ignorância de muitos e o oportunismo de alguns "patriotas" plantados em frente a quartéis clamando por ditadura.
CINE EDUCA traz três filmes que revelam os crimes promovidos pelo regime autoritário militar na Argentina, do qual, também tivemos nossa parcela.
Curta a página, a publicação e deixe seu comentário. DITADURA NUNCA MAIS!
Filmes: ARGENTINA, 1985; AZOR e GARAGE OLIMPO – Nunca más!
Quem quer ditadura/intervenção militar? Não é difícil encontrar adjetivações abjetas para quem prega golpe contra a democracia. Basta recorrer a um dicionário ou... dá um Google. O irônico é encontrar seres que o fazem em nome da própria democracia e da “liberdade”. Talvez os três filmes que destaco nessa edição possam dar um choque de realidade (se é que isso é possível) para as mentes deformadas de plantões em frente aos quartéis.
“Argentina, 1985” já nasceu clássico. Uma verdadeira lição que o Brasil deveria aprender: ditadores no banco dos réus, julgados por seus crimes. Com a negligência da justiça militar em julgar os seus, coube à justiça civil assumir tal incumbência. A tarefa: encontrar provas dos crimes de tortura em interrogatórios nos centros clandestinos, roubo qualificado, privação ilegítima de liberdade e assassinatos (desaparecidos) durante o período ditatorial com pleno conhecimento e aprovação de comandantes militares. Tudo isso em meio a fascistas comprometidos com a ditadura andando livres pelas ruas e uma classe média com tendência a justificar qualquer golpe militar. Tal missão, sob constantes ameaças de morte, ficou a cargo de um promotor (Julio Strassera) e um grupo de jovens advogados (já que os veteranos não queriam se comprometer) sem muita experiência, mas com grande disposição de fazer justiça. Espalhados pelo país, buscaram evidências, testemunhas e vítimas das atrocidades que prestaram depoimentos estarrecedores no tribunal. A peça acusatória é um tapa na cara da impunidade, e a sentença, com pelo menos duas prisões perpétuas, um grito de justiça daqueles que tiveram suas vidas ceifadas pelo arbítrio e autoritarismo de verdadeiros genocidas. Destaque para Videla lendo a Bíblia enquanto seus crimes eram relatados. O filme traz referências ao grupo Montoneros e as Mães da Praça de Maio. Imperdível!
No filme “Azor”, a ditadura vai se desvelando sob os olhos de um banqueiro suíço que viaja à Argentina para tentar descobrir o paradeiro de um sócio e ao mesmo tempo encontrar clientes tradicionais cujos serviços vinham sendo prestados pelo banco desde a administração por seu pai. Aqui e ali, uma parcela da elite também acossada e extorquida pelos militares, jovens sendo abordados nas ruas, o medo estampado, as meias palavras para não se comprometer, nunca uma fala direta, mas... “há rumores”, “parece que”. O filme nos fornece os bastidores e os segmentos envolvidos no comando do regime, coniventes, seja por omissão ou oportunismo. Assim, caminhos pelos altos círculos militares, empresariais e até da igreja. As justificativas para a barbárie promovida pela ditadura aparecem em expressões do tipo... “essa cidade já viu o caos”; “estamos vivendo uma guerra, sabe”; “é necessária uma purificação”; “erradicar os parasitas”; “reeducar os jovens, embora, infelizmente, alguns sejam irrecuperáveis”. Logo, logo, o que resta de escrúpulo na competição entre bancos em torno da disputa pelo butim apropriado pela máfia de farda acaba sucumbindo diante dos ganhos lucrativos derivados do sequestro de bens dos desaparecidos sob codinome Lázaro. Ética? Melhor tirar o máximo proveito, afinal, não estamos olhando nos olhos das vítimas, elas são invisíveis.
Educar adultos analfabetos da periferia se configurava num ato subversivo, capaz de conduzir a um centro clandestino de tortura, denominado “Garage Olimpo”. Assim o filme conta a história de uma jovem educadora (“professorinha dos pobres”) sequestrada pelo exército para ser interrogada, a fim de delatar nomes de supostos inimigos do sistema. Os suplícios da tortura nas “salas de cirurgia” eram abafados pelos jogos de futebol transmitidos pelo rádio. Temos os aproveitadores de plantão como o inquilino da casa de sua mãe que se aproveita da situação para abusar da prisioneira, outros roubavam os pertences dos sequestrados (o que nos leva ao filme anterior, Azor) e até os que simulavam a compra de imóveis de parentes dos desaparecidos em troca de falsas informações. Nos centros clandestinos havia até uma ala somente de crianças, filhos(as) dos(as) sequestrados(as) que aguardavam até seus pais serem torturados e cujos destinos (que poderia ser muito bem a adoção mostrada no filme A História Oficial) dependiam da sorte dos mesmos. O momento crucial era quando após todas as privações e torturas possíveis, prisioneiros(as) eram “legalizados” e transferidos(as) para as “prisões”, que nada mais eram do que aviões militares que os jogavam em alto mar. Esse o fim da nossa protagonista... “sob a custódia do poder executivo nacional”, após sua mãe ter sido morta por um destes agentes criminosos que tomou sua casa. Antes dos créditos finais um pouco de história: “Entre 1976 e 1982, durante a ditadura militar argentina, milhares de cidadãos foram jogados vivos ao mar. Hoje, militares responsáveis por estes crimes caminham livres pelas ruas”.
Sinopses:
-
ARGENTINA, 1985– “Argentina, 1985” é inspirado na história real dos promotores Julio Strassera e Luis Moreno Ocampo, uma dupla que ousou investigar e processar a sangrenta ditadura militar argentina, em 1985. Strassera e Ocampo reuniram uma equipe jurídica jovem e cheia de heróis improváveis para enfrentar a influência dos militares na época, para uma batalha no estilo de Davi contra Golias. Direção: Santiago Mitre. 2022.
-
AZOR – Em Azor, Yvan de Wiel é um banqueiro privado de Genebra. Durante a ditadura da Argentina, ele viaja para o país para que possa substituir seu parceiro que desapareceu. Entre salões silenciosos, piscinas e jardins luxuosos, um duelo remoto acontece entre dois banqueiros que, apesar de usarem métodos diferentes, são cúmplices de uma discreta e implacável forma de colonização. Direção: Andreas Fontana. 2021.
-
GARAGE OLIMPO – Durante a ditatura militar na Argentina, Maria, uma jovem professora e militante de esquerda, é sequestrada por um esquadrão e mantida sob tortura em uma velha garagem. Félix, um agente secreto da polícia, leva uma vida dupla: é torturador de prisioneiros e um dedicado cidadão. Duas pessoas ligadas pela violência e tortura de uma época. Direção: Marco Bechis. 1999.
https://www.facebook.com/profile.php?id=100063772951292