Formação de professores em EAD
Crise da educação: Formação de professores de elite perdeu quase 50 mil alunos em 10 anos
Os melhores cursos de graduação para novos docentes estão sendo substituídos por versões EAD de pior qualidade em todo país
Por Rosiane Correia de Freitas 27 nov 2022
Uma crise silenciosa e invisível esta se formando no Brasil sem que se dê a devida atenção. O país está trocando a formação de professores bem qualificados em instituições bem avaliadas em cursos presenciais pela de profissionais em cursos à distância com tempo de existência menor e desempenho inferior.
Além disso, muito embora registre um aumento no número de alunos matriculados, os cursos de graduação na área tem visto o índice de evasão aumentar também, o que resulta num menor número de profissionais formados. A taxa de evasão em cursos de licenciatura no Brasil está em 29,9% e vem crescendo nos últimos anos.
O alerta vermelho para a situação grave da educação no país está nos dados do censo do Ensino Superior, produzido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) dos últimos dez anos. De 2012 até 2021, 47 mil estudantes deixaram de ingressar em cursos de licenciatura de universidades públicas no país.
O desempenho das instituições públicas, em especial das federais, é superior ao das privadas. Segundo o Enade 2021, as universidades federais tiveram nota 4,12 em suas licenciaturas na modalidade presencial, contra a nota 3,13 das instituições privadas sem fins lucrativos na mesma modalidade.
Segundo o Censo da Educação Superior de 2012 a 2021, os cursos de licenciatura do país ganharam 283 mil alunos no período, mas se considerarmos só os cursos de instituições públicas (que são melhor avaliados), houve uma perda de 271 mil alunos. Se considerarmos só os ingressantes, tivemos 116 mil novos alunos nesses cursos, mas uma perda de 165 mil matriculas nas públicas, o que representa uma retração de 54% em relação ao número de matrículas em 2012.
Um dos maiores desafios dos cursos presenciais de escolas públicas é concorrer com a crescente oferta de graduações à distância por preços muito baixos. Para efeito de comparação, o aluno da UFPR que gasta apenas uma passagem de ida e outra de volta por dia para frequentar as aulas dos cursos de licenciatura da instituição tem um custo mensal de cerca de R$ 240. Um curso EAD de licenciatura em Letras Português/Inglês numa instituição privada custa R$ 210 por mês.
Risco de apagão
Cursos de licenciatura bons são parte essencial da construção de uma rede de ensino e uma educação de qualidade. No entanto, o país está falhando em atrair novos profissionais para a área. Segundo o estudo “Risco de apagão de professores no Brasil” produzido pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior (Semespe), em 2040 o Brasil poderá ter um déficit de 235 mil docentes na educação básica.
O trabalho também aponta que a relação entre professores no fim e no início de carreira é a maior desde 2016. São 3,9 professores próximos da aposentadoria para cada novo docente a ingressar na carreira. Essa relação era de 1,9 em 2016.
Segundo o Semespe, há um desinteresse do jovem em seguir a carreira, seja pelas condições de trabalho, seja pela baixa remuneração. O corpo docente brasileiro está envelhecendo e o número de profissionais que estão abandonando o mercado aumentou com os problemas enfrentados pela categoria durante a pandemia de Covid-19.
Ensino público
A crise da educação tem um vilão bastante claro: a rede de ensino pública. Principal empregadora de docentes em todo o Brasil, a educação pública tem falhado em garantir que a carreira seja atraente. Em Curitiba, a prefeitura está realizando este ano o primeiro concurso público para docentes da Educação Infantil e Básica depois de um longo hiato.
As secretarias de educação municipais e estadual têm priorizado a contratação de docentes por contratos temporários, que pagam (no longo prazo) menos, não permitem progressão na carreira nem a criação de laços entre o professor e a comunidade que ele serve.
Sem professores suficientes, Curitiba tem restringido a obtenção de licença pelos docentes para cursos de pós-graduação – uma das principais vantagens do serviço público em relação ao privado, e anunciou a intenção de limitar a progressão de carreira tanto por qualificação quanto pela qualidade do serviço. Isso restringe ainda mais a remuneração potencial da categoria.
Apesar disso, a rede pública ainda paga, em média, 48% a mais que as escolas privadas.
Os dados do Censo mostram que no Paraná, de 2012 a 2021, as universidades públicas melhor avaliadas perderam mais de 6 mil matrículas em cursos de licenciatura, incluindo Letras. Isso representa uma redução de 54% nas licenciaturas especificas e 21% nos cursos de Letras. Todos esses alunos migraram principalmente para instituições privadas e a modalidade de ensino à distância.
Rosiane Correia de Freitas – Rosiane Correia de Freitas é jornalista formada pela UFPR.