Fórmula Fraport
Fórmula Fraport: capitalismo sem risco
13 junho 2024 *por Juremir Machado da Silva*
Debaixo d'água, aeroporto Salgado Filho só deve abrir no fim do ano
*A fórmula está mais do que consagrada: privatizar os lucros, socializar os prejuízos.* Toda vez que que os defensores ferrenhos das privatizações, mesmo sob a forma eufemística e provisória de concessões, defendem os seus fins, usam os mesmos meios: os serviços vão melhorar, investimentos importantes serão feitos e riscos ficarão com os concessionários. Na prática, é o melhor negócio do mundo para o privilegiado com a concessão: se tiver lucro extraordinário, embolsa e faz a festa; se houver prejuízo, renegocia, pede aditivo, passa a conta para o velho e detestado Estado, que salta de mínimo a máximo num lance de mágica e de oportunismo. Batismo: Fórmula Fraport.
A tal Fraport surgiu como a salvação do Salgado Filho. Chegou amparada na tríade de ouro das privatizações: modernização, eficiência e agilidade. Havia, porém, uma enchente no meio da pista de decolagem. Como a Fraport reagiu à inundação do seu ganha-pão, caviar e champanha? Do modo mais tradicional, ineficiente e lento possível. Nada fez para rapidamente esvaziar o aeroporto do aguaceiro. Só foi ágil na determinação de repassar a conta dos estragos para o Estado. Assim, cá entre nós, que não falamos mal de ninguém, é barbada: cruza os braços, contempla laconicamente as águas, não mete a mão no bolso nem nas contas no país-sede e espera que o Estado mande dinheiro para repor tudo em ordem e progresso. Em contrário, pode até ir embora.
Para que privatizar então? Para que conceder? Na hora mais difícil, todos querem um Estadão robusto que banque até os seus mais costumeiros críticos. Pede o agronegócio, pede o industrial, pede o setor de serviços, pede o concessionário, pede o grande, pede o médio, só o pequeno não sabe a quem pedir. Todos pedem ao Estado. Nesse andar, não é civil que salva civil, mas Estado pobre que salva civil rico e influente. A Fraport não teve o menor constrangimento em sinalizar o desejo de ter o seu parquinho reconstruído com dinheiro público para que possa obter seus lucros privados em condições normais de temperatura, pressão e volume.
O capitalismo estilo Fraport mostra que não se trata de uma jabuticaba, fenômeno exclusivamente brasileiro, mas de uma marca estrutural do capitalismo globalizado.
A fórmula Fraport impressiona pela estultice, pela falta de pudor e pela incompetência. Eu imaginava que a Fraport teria bombas próprias para escoar a água, que faria chegar em tempo recorde equipamento da Alemanha para limpar a sua área e ainda ajudar Porto Alegre e o Rio Grande do Sul a sair do atoleiro.
Imaginava a moderna Fraport na linha de frente, voando para todo lado, oferecendo expertise, apoio, meios,
pareceres, tudo. Via manchetes nos jornais: Fraport salva o RS, Fraport larga na frente; Bombas da Fraport retiram a água do Quarto Distrito, Fraport limpa o Sarandi. O que eu vi? Isto: “Após demissão em massa, Fraport ainda quer renegociação em contrato de concessão após desastre no RS”; “Sem dinheiro do governo, Fraport pode entregar concessão do Salgado Filho”; “Leite pede que governo ajude concessionária do aeroporto Salgado Filho”. Que decepção!
Em bom gauchês, a Fraport gosta de mamar deitada.
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A ARROGÂNCIA DOS ALEMÃES DA FRAPORT NÃO TEM LIMITES
Marino Boeira
"Se não recebermos dinheiro, devolveremos a concessão e entra outro", diz CEO da Fraport Andreea Pal sobre aeroporto Salgado Filho. "Não somos uma companhia de caridade. Fizemos investimento aqui e queremos recuperar o dinheiro", disse ela e acrescentou: "Se o governo federal não repassar recursos, a Fraport garante não poderá atuar nos danos causados pela enchente no aeroporto Salgado Filho. E a consequência disso será a devolução da concessão para a Agência Nacional da Aviação Civil (Anac).
O conhecido jornalista Juarez Fonseca escreveu hoje nas redes sociais o que aconteceria se a Fraport fosse mesmo embora.
"Se Fraport se mandar de Porto Alegre, a Infraero tem condições de reassumir o Salgado Filho (não é o que eu acho, é apuração). Aliás, foi ela, a Infraero, que construiu o aeroporto e o administrou historicamente. Basta chamar parte ínfima desses funcionários cedidos de volta para suas funções.
Mas tem que reconstruir de todo modo, não?
Sim, tem que reconstruir. Agora vejam as opções.
1. Reconstrói com dinheiro público e deixa os lucros futuros na mão da Fraport.
2. Reconstrói com dinheiro público e deixa os lucros futuros na mão da Infraero (pública).
Não parece uma escolha muito difícil.
O objetivo neste momento deve ser salvar o aeroporto não o balanço da empresa. Há uma diferença abissal entre uma coisa e outra. Porto Alegre nunca precisou da Fraport pra voar, e nem precisará futuramente caso ela decida que sem dinheiro público o Salgado Filho é um mau negócio. Ou: Fraport aciona o seguro, arca com o restante e segue a vida. Essa é a opção que arrepia os advogados voluntários da empresa na política e na imprensa."
O jornalista não disse isso, mas digo eu agora: o governo do Lula já deu vários sinais de que vai se dobrar às exigências dos alemães. Um governo de alguma dignidade mandaria esses alemães embora e assumiria o aeroporto. Não vai fazer, porque a concessão do Salgado Filho é obra de gente do mesmo partido que voltou ao governo. Não podemos esquecer que a privatização do Salgado Filho é obra do governo de Dilma Rousseff. Esse é mais um caso de morte anunciada. A morte da dignidade nacional e a entrega de mão beijada de dinheiro do governo (nosso portanto) para os capitalistas alemães.
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O FRAPORT REPETE O CASO DA FORD NO GOVERNO OLÍVIO
Começou em ZH a campanha midiática em favor da Fraport e contra os interesses do Brasil. A porta voz dos objetivos comerciais da empresa alemã é mais uma vez Rosane Oliveira. Diz ela em se comentário que o governo Lula não há de querer carregar o carimbo de “mandar a Fraport embora”, o que prejudicaria sua imagem entre os investidores internacionais. É o mesmo bordão que usaram contra o governo de Olívio Dutra quando ele se recusou a ceder à chantagem da Ford: "O PT mandou a Ford embora".
Na época Políbio Braga chamou Olívio de "exterminador do futuro"
Marino Boeira
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