Frei Betto mantém palestra na UCS
Frei Betto lota teatro em Caxias do Sul após censura em escola e vende 43 quilos de livros
"Quem diz amar a Deus sem amar ao próximo, mente", disse o religioso em palestra sobre fome e desigualdade
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 14 de junho de 2023
Na realidade, a lotação do Teatro da Universidade de Caxias do Sul (UCS), com cerca de 200 lugares a mais do que o espaço anterior já estava na previsão do dominicano.
Tanto é que, bem humorado, ele chegou a declarar em uma das inúmeras entrevistas que teve de conceder somente na segunda-feira, 12, que iria dobrar a quantidade de livros que geralmente leva para vender em eventos por conta da publicidade extra gerada pelo movimento de extrema direita contra sua palestra. Todos foram vendidos. “E eram 43 quilos de livros!”, comemora.
“Não sei exatamente quantos exemplares na carga de 25 obras diferentes que levei. Só sei o peso porque vi quando os despachei na companhia aérea”, explica. Um livro de 200 páginas pesa em média 230 gramas. Então, foram vendidos aproximadamente 200 exemplares.
Segurança reforçada
O evento foi organizado pelo fórum de sindicatos e movimentos populares da região serrana. Nelso Bebber, diretor do Sindicato dos Bancários de Caxias do Sul e Região, registra que houve uma grande procura de última hora por ingressos após a comunidade religiosa do São José ter sido pressionada a não mais ceder o seu espaço.
“Muitos alunos da universidade e gente da comunidade ficou indignada e compareceu em peso”, diz.
O clima de solidariedade que contrastou com os oito graus da temperatura na ocasião, registrada por Frei Betto, não fez, no entanto, com que a UCS e os organizadores da palestra se descuidassem.
“Essa tensão é permanente em Caxias. Não foi um fato isolado”, registra Bebber, ao lembrar que a segurança foi reforçada.
Jesus, fome e desigualdade
Frei Betto mantém palestra na UCS, que havia sido cancelada por bolsonaristas em escola de Caxias
Evento foi transferido para a UCS. "É um sinal positivo. Sempre digo que há pessoas que, se me elogiassem, eu me sentiria muito mal", ironizou o religioso ao garantir presença na cidade
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 12 de junho de 2023
Um abaixo assinado com cerca de duas mil assinaturas, a maioria de pais de alunos do centenário Colégio São José, de Caxias do Sul, RS, fez com que a instituição não realizasse mais em suas dependências a palestra As fomes do Brasil e esperanças de futuro do escritor e teólogo Carlos Alberto Libânio Christo, o frei Betto (foto).
“Frei Betto (Carlos Alberto Libânio Chisto) é adepto da Teologia da Libertação e é militante de programas pastorais e sociais”, segundo um trecho do abaixo-assinado.
O evento programado para esta terça-feira, 13, teve seu cancelamento anunciado em um comunicado aos pais dos estudantes sem maiores detalhes.
“Digo apenas que nada disso me assusta. Bom que tenham feito propaganda da conferência. Amanhã devo encontrar um público maior que o esperado. Só lamento o medo das religiosas do colégio São José diante das ameaças dos neofascistas”, afirmou Frei Betto ao Extra Classe.
O evento que é na realidade uma organização do Sindicato dos Bancários de Caxias do Sul e Região e do Fórum das Entidades e Movimentos Sociais foi reprogramado para a Universidade de Caxias do Sul (UCS), às 19 horas.
O teólogo recorda que não é a primeira vez que foi censurado depois do fim da ditadura, mas aponta algo que considera um sinal dos novos tempos.
“O curioso é que as irmãs que administram o colégio me apoiaram muito quando estive preso no Rio Grande do Sul, em 1969. Agora parece que o medo falou mais alto”, lamenta.
Não é a primeira vez que cidades da Serra Gaúcha tem protagonizado cenas como o que está sendo vivenciada por Frei Betto.
Em junho do ano passado o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux cancelou uma palestra em Bento Gonçalves por motivos de segurança.
Pelo mesmo motivo o também ministro do STF, Dias Toffoli, cancelou sua presença na na 26ª Jornada Internacional de Direito em Gramado.
Nas ocasiões, grupos ligados ao então presidente Jair Bolsonaro (PL) pressionaram empresários da região para não patrocinarem dos eventos com participação de ministros do STF.