Futuro das instituições comunitárias
Fórum debateu o futuro das instituições comunitárias do RS
A situação das universidades e dos centros universitários que compõem o segmento no estado no âmbito da crise econômica e educacional estiveram no centro do debate
Da Redação / Publicado em 11 de maio de 2021
A 12ª reunião plenária do Fórum pela Gestão Democrática das Instituições Comunitárias de Educação Superior, realizada no dia 10 de abril, debateu a situação das universidades e dos centros universitários que compõem o segmento no estado no âmbito da crise econômica e educacional.
Participaram do encontro virtual representantes de instituições de ensino, de associação de professores e diretórios de estudantes, bem como dirigentes dos sindicatos dos professores (Sinpro/RS, Sinpro/Caxias e Sinpro/Noroeste) e de funcionários técnico-administrativos do setor privado, além de lideranças do movimento estudantil.
O segmento comunitário congrega 15 universidades e centros universitários no Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung). Em 2016, foi criado o Sindicato das Mantenedoras das Instituições Comunitárias de Ensino Superior (Sindiman), reconhecido pelo Ministério da Economia, em 2020.
CRÍTICA – A recente apresentação da pauta de reivindicações do sindicato patronal das comunitárias aos professores no processo de negociação anual foi destacada como uma iniciativa paradoxal, já que, historicamente, são os trabalhadores que apresentam a pauta de reivindicações, e as negociações se dão em cima dessas reivindicações, destacou Marcos Fuhr, diretor do Sinpro/RS, e coordenador da Plenária.
“As comunitárias estão invertendo essa lógica. Apresentaram uma pauta que anula quase todas as conquistas, os direitos trabalhistas dos professores nessas instituições, claramente com o intuito de descarregar sobre os seus empregados o custo da sobrevivência institucional”, criticou.
A Plenária aprovou Manifesto de Repúdio às pretensões do Sindiman expressas na pauta apresentada aos sindicatos de trabalhadores.
Crise e desafios das Ices
Participaram do painel O desafio da manutenção do diferencial comunitário na atual conjuntura brasileira, na abertura do Fórum, o presidente do Comung, Evaldo Antonio Kuiava, docente e Reitor da Universidade de Caxias do Sul (UCS); o professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) João Pedro Schmidt, protagonista na criação do Marco Regulatório das Comunitárias; e o professor da Universidade Feevale Gabriel Grabowski, dirigente da Aesufope-RS e do Consinos.
“Percebemos uma comoditização no ensino superior, com as instituições atuando na Bolsa de Valores como se vendessem soja ou minério, e isso é muito sério quando se trata de educação”, alertou o reitor da UCS. O diferencial comunitário passa a não ser mais percebido nessa conjuntura, disse. “O momento é oportuno para refletir sobre as questões paradigmáticas que se refletem em sala de aula e nas relações de trabalho.”
Para João Pedro Schmidt, as chances de permanência das Ices no cenário educacional diminuem se elas “jogarem o jogo do mercado”. Ele assinalou que as instituições desse segmento nasceram com a proposta de desempenhar um diferencial no desenvolvimento comunitário, “mas não podemos esquecer que foram criadas por forças bem tradicionais das regiões”.
Gabriel Grabowski classificou as Ices como “patrimônio educacional e cultural da sociedade gaúcha, pela contribuição à inclusão de jovens no ensino superior, pela interiorização da oferta e pela contribuição com o desenvolvimento regional e comunitário”. Lembrou que o direito à educação é negado a 50 milhões de jovens, que as matrículas no ensino médio vêm decrescendo há 10 anos – estão em 7,5 milhões – e irão reduzir mais ainda com o impacto da pandemia.
“O PNAD da educação de 2019 aponta que apenas 59% dos jovens de 15 a 17 anos concluem o ensino médio dentro da sua faixa etária e 82% desses estudantes não acessam o ensino superior”, ilustrou.
Grabowski acredita que o segmento deve apostar em gestões mais participativas, democráticas, voltadas à integração com as comunidades e as políticas públicas e propôs a formulação de estratégias alternativas de financiamento estudantil, com novas fontes e linhas de créditos, como já é praticado em experiências internacionais.