Garantia de eleições limpas
A imprensa capitalista vai garantir eleições limpas?
Não tem qualquer base na realidade ter esperanças na "normalidade" do PIG que está profundamente envolvido na campanha em favor da "terceira via" e na defesa do regime golpista
Jornalistas com posições progressistas e setores da esquerda comemraram no último fim de semana, o fato de que em uma pequena nota o ombudsman da Folha de S. Paulo, José Henrique Mariante, tenha reconhecido diante do que chamou de “enxurrada de mensagens” enviadas ao jornal que não houve um “acompanhamento adequado do périplo de Luiz Inácio Lula da Silva pela Europa”, Com uma disfarçada e inexistente isenção Mariante escreveu que “o jornal e boa parte da ‘mídia comercial’, conforme uma das críticas, escondeu o sucesso da jornada do petista nos últimos dias, recebido com aplausos no Parlamento Europeu, com batucada na Sciences Po e com honrarias de chefe de Estado no Palácio do Eliseu.“
O “reconhecimento” que vale tanto como o suposto arrependimento dos direitista que organizaram o golpe de Estado, elegeram Bolsonaro e agora, para poder aplicar um novo golpe, o da “terceira via”, da desejada terceira etapa do golpe, parece alimentar a ilusão já muito forte entre esses setores de que o “Partido da Imprensa Golpista (PIG)” – para usar a expressão criada, de forma acertada, pelo jornalista Paulo Henrique Amorim – possa ter uma atitude relativamente democrática diante das eleições do próximo ano. Como se a imprensa capitalista não acompanhasse, agora e sempre, os poderosos interesses de sua classe que estão em jogo na atual etapa política.
O jornalista Janio de Freitas, por exemplo, escreveu que “jornais e tevês, e seus proprietários, dirigentes e jornalistas, estão diante da responsabilidade por uma eleição presidencial limpa”. Isso mesmo reconhecendo, e tendo em vários momentos denunciado, “a associação da mídia corporativa com a Lava Jato” e muitas outras iniciativas golpistas do PIG.
Indo mais além a jornalista Tereza Cruvinel, disse à TV 247 que “o Brasil precisa voltar ao normal, e o Brasil não voltará ao normal se a mídia também não voltar”. E acrescentou que o normal seria “voltar ao jornalismo, ao compromisso com os mandamentos. Voltar a ser uma mídia mais ética e menos partidária”. O que realmente nunca existiu, basta lembrar o papel de submissão dessa mesma imprensa à ditadura militar, sua campanha em favor da manipulação da campanha das diretas a favor de um governo da direita (Tancredo-Sarney), dentre tantos outros episódios, apenas da história recente do País.
Tais expectativas, não tem qualquer base na realidade no momento em que o PIG está profundamente envolvido na campanha em favor da chamada “terceira via”, como se vê, por exemplo na campanha mal disfarçada de “cobertura” jornalística das prévias do PSDB, que não despertaram o interesse nem mesmo dos filiados ao partido (cerca de 4% se inscreveram para votar) e no destaque e exaltação não só ao ex-juiz suspeito e ex-ministro bolsonarista, Sérgio Moro, que ganharam capas, longas matérias etc. em toda a venal imprensa capitalista nos últimos dias.
A crença nesta imprensa, assim como nas demais instituições do regime golpista, como o STF, TSE, FFAA, MP etc. é típico dos setores da classe média que, descontentes com o caráter reacionário da situação imposta pela crise histórica do capitalismo, não conseguem enxergar outra alternativa que não seja depositar suas esperanças de mudança nos próprios responsáveis pela situação atual. Trata-se claramente de uma utopia reacionária. Equivale a suplicar aos banqueiros que vendo a situação em que cerca de 75% das crianças (segundo dados do IBGE) não conseguem sequer fazer três refeições por dia, abram mão de roubar, todos os anos, mais de 50% do orçamento público (por meio da cobrança de juros e taxas extorsivas) para contribuir com o progresso social ou tentar convencer aos especuladores que detém as ações da Petrobras parem expropriar o povo brasileiro e embolsar bilhões em dividendos e não continuem mandando a direção da Petrobrás aumentar a gasolina toda semana.
No que depender do PIG as eleições de 2022, provavelmente, serão as mais sujas de toda a história. E não estarão sozinhos nisso. A burguesia golpista não deu o golpe de 2016 para seis anos depois, assegurar ao principal alvo da sua ofensiva, o PT e o ex-presidente Lula, o direito de participar de eleições minimamente democráticas. Acreditar nisso é o mesmo que crer em “papai noel”, ou que a “lava jato” veio para combater a corrupção e outras coisas “sem pé nem cabeça”.
A contrário de alimentar tais ilusões, que servirão apenas para frustrações futuras (como as dos que acreditavam que as FFAA iam defender a “democracia”, por exemplo), e preciso compreender a realidade, se apoiar na única força real capaz de impedir que os planos da direita se concretizem, a força da mobilização dos trabalhadores e das suas organizaçòes de luta.
Esses deve ter claro que para impedir a fraude e a manipulação da imprensa golpista é preciso muito mais do que súplicas e fé cega nas instituições do regime, é preciso impor pela força a quebra do monopólio reacionário dos meios de comunicação (como da Rede Globo e outros), o fortalecimento da imprensa independente dos trabalhadores, da esquerda e, antes de mais nada, a denúncia do caráter golpista do PIG e dos seus consorciados da “terceira via” que, com ares “democráticos” ou por outros meios, vão buscar impor ao País a terceira etapa do golpe.