Genocídio em Gaza

Genocídio em Gaza

GENOCÍDIO EM GAZA

Genocídio em Gaza

 

Quando, finalmente, as instituições internacionais e os governos ocidentais vão admitir que, sim, um genocídio está em curso em Gaza e a maioria dos governantes do mundo está desviando o olhar?

Nem as perseguições nem o sofrimento tornam os
indivíduos ou os povos melhores”.
(Hannah Arendt)

 

POR LENEIDE DUARTE-PLON, de Paris

“Os judeus de Israel, descendentes das vítimas de um apartheid chamado gueto, guetoísam os palestinos. Os judeus que foram humilhados, desprezados, perseguidos, humilham, desprezam e perseguem os palestinos. Os judeus que foram vítimas de uma ordem impiedosa impõem sua ordem aos palestinos… O povo eleito age como raça superior”.

Esta frase é do texto, “Israël-Palestine : le cancer”, do filósofo Edgar Morin, publicado em 2002 no Le Monde, assinado também por dois outros intelectuais, Sami Naïr et Danièle Sallenave. Instituições judaicas francesas tentaram condenar o judeu Edgar Morin na Justiça por “antissemitismo”, mas Morin foi inocentado, depois de um processo polêmico durante o qual recebeu a solidariedade dos mais importantes intelectuais franceses. 

Este ano, aos 102 anos, Morin fez uma palestra na qual repetiu esta mesma ideia. O povo que foi vítima de Hitler realiza uma “carnificina” (un carnage) dos palestinos em Gaza, disse Edgar Morin. 

O que se passa em Gaza é um genocídio cometido por um povo que descende dos que escaparam ao genocídio nazista? A resposta é afirmativa, mesmo que a Corte Internacional de Justiça tenha sido cautelosa: dia 26 de janeiro de 2024 ela recomendou que Israel tome todas as medidas cabíveis para “prevenir um genocídio” na Faixa de Gaza. Isso não impediu que Israel continuasse os bombardeios.

Quando, finalmente, as instituições internacionais e os governos ocidentais vão admitir que, sim, um genocídio está em curso em Gaza e a maioria dos governantes do mundo está desviando o olhar?

Neonazistas

Poucos meses antes do 7 de outubro, o historiador israelense Daniel Blatman, especialista do nazismo e do genocídio dos judeus, em entrevista ao jornalista René Backmann, do site francês « Mediapart », dizia que Israel estava vivendo a pior crise de sua história desde a criação do Estado, em 1948.

Depois do incêndio por colonos israelenses, em 26 de fevereiro de 2023, da cidade palestina de Huwara, na Cisjordânia ocupada – como represália à morte de dois colonos e depois de vários enfrentamentos e atentados anteriores entre israelenses e palestinos – Blatman ousou fazer a comparação: os projetos políticos do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu lembram o fim da República de Weimar, com a chegada de Hitler ao poder.

“Se homens como Bezalel Smotrich (ministro das Finanças) ou Yariv Levi, (ministro da Justiça) dirigissem grupos políticos hoje na França, na Alemanha ou em qualquer democracia ocidental, seriam considerados neonazistas. Eles não são de extrema-direita, estão muito além. Digo e insisto: são neonazistas”, enfatiza o historiador do nazismo.

Os métodos dos neonazistas no poder em Israel para exterminar o povo palestino não são menos terríveis que os de Hitler para exterminar os judeus. No lugar de campos da morte, fechados e protegidos do olhar do mundo, os neonazistas de Israel jogam toneladas de bombas sobre civis desarmados, num território que era designado – desde  a declaração do bloqueio total, decretado por Israel em 2007 – como  “a maior prisão a céu aberto do mundo”. 

Os palestinos que escapam das bombas ou de serem soterrados nos escombros dos prédios em Gaza sofrem com a poluição do ar deixada por todos os componentes das bombas (algumas proibidas pelas leis internacionais), pela água totalmente poluída, pela falta de alimentos, de remédios e de atendimento médico. Os que não morrem pelas bombas são destinados a uma morte lenta por ferimentos, doenças epidêmicas, fome e sede.

Em Gaza, todos os hospitais foram destruídos por Israel, inclusive o Hospital Nasser, que ainda funcionava ao sul, em Khan Younès, bombardeado na semana passada. 

Nos ataques a hospitais, mais de 340 médicos e enfermeiros foram mortos e os doentes pereciam por falta de remédios e cuidados.

Os nazistas não bombardeavam deliberadamente hospitais. 

Cento e trinta jornalistas foram assassinados em Gaza. Eles são alvo preferencial das forças militares que atiram sobre todo ser vivente. Como testemunhas oculares dos crimes, os jornalistas tornam-se indesejáveis por disseminarem imagens e informações incômodas, que podem ser utilizadas como provas do genocídio e de crimes contra a humanidade em tribunais internacionais. Por isso, é preciso afastá-los da cena do crime ou calá-los para sempre.

Todos os dias, vemos manobras dos neonazistas que governam Israel para aniquilar de vez o povo palestino: acusação sem provas de que funcionários da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA) participaram dos ataques do 7 de outubro e bloqueio no território israelense dos caminhões de ajuda humanitária com remédios e alimentos. Os caminhões se enfileiram para tentar passar a fronteira do inferno em que Gaza foi transformada. E cidadãos israelenses se interpõem para bloquear a passagem da ajuda humanitária internacional.

Cumplicidade americana

Os Estados Unidos, principal fornecedor de armas a Israel, participam ativamente do massacre do povo palestino. Uma carnificina que mata médicos, jornalistas, bombardeia hospitais, escolas da ONU, destruindo sob bombas edifícios, campos e infraestrutura de cidades. Por onde passam os aviões de Israel a despejar toneladas de bombas americanas só restam ruínas. 

A extrema-direita que governa Israel não tem mais pudor em declarar que os palestinos têm que desaparecer das terras que os israelenses consideram suas usando a Bíblia como um livro de história e citando Deus como o proprietário anterior que lhes transmitiu a posse da terra. 

Todos os dias, os ministros de Netanyahu dizem explicitamente que os palestinos devem deixar a “terra prometida”. 

Agora, segundo reportagem do Le Monde, passaram a organizar reuniões em Jerusalém para tratar do futuro de Gaza e da reconstrução das antigas colônias, transferidas por Ariel Sharon em 2005.

Entrevistada pelo site Mediapart, a historiadora e antropóloga americana Ilana Feldman, mostrou-se cética quanto ao pós-guerra: 

« Não penso que a comunidade internacional abandonou seus velhos esquemas de pensar este conflito. Falar de uma ‘solução a dois Estados’ é insuficiente, pois o governo israelense atual já foi claro sobre o fato de que não quer a criação de um Estado Palestino. »

Antes que a solução política definitiva seja encontrada, é necessário o cessar-fogo definitivo para proteger os civis palestinos do genocídio em curso.

Foto em destaque: Pessoas clamam por comida na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza.
© Unicef/Abed Zagout.




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