Glauber Braga

Glauber Braga

 

 

Glauber Braga, na noite de quarta, 10 de dezembro, se sentiu como os jacobinos da Revolução Francesa, antes de serem guilhotinados pelos Girondinos ao fim de 1794. Como parlamentar, ele se deparou com a REP 5/24, a Representação enviada ao plenário, após o Parecer que o responsabilizou por quebra de decoro, ao agredir fisicamente um militante do MBL, em abril de 2024.

Glauber, eleito pelo PSOL, nunca foi citado no Orçamento secreto, mencionado em escândalos de corrupção ou suspeito de desvios de emendas parlamentares. O deputado também não está na lista dos deputados que mais gastam recursos públicos no seu gabinete e nem é campeão, ou está entre os campeões, do uso de diárias. Isto pode ser resumido na frase “Glauber não responde por corrupção ou por quebra de decoro”, de José Guimarães, do PT de CE, líder do governo, em uma tentativa de salvar Glauber no cadafalso.

Em uma sessão conturbada, que envolvia diversos interesses, o deputado Hildo Rocha, do PMDB, do MA, abriu as falas, avaliando que a cassação de Glauber seria um erro. Hildo foi mais longe, lembrando que “Os três deputados do PL, presos por esquema de corrupção continuam sem cassação, que só será analisada em março”. O parlamentar lembrava três deputados do PL, detidos por cobrar propina sob emendas parlamentares para a saúde. Os três, da Extrema Direita, acostumados a chamar Lula de ladrão, foram pegos cobrando propina sob verbas que deveriam ir para a saúde pública. A Procuradoria-Geral da República (PGR) pede a condenação dos três: Josimar Maranhãozinho (PL-MA), Pastor Gil (PL-MA) e do suplente Bosco Costa (PL-SE), por corrupção passiva e organização criminosa. Segundo o MP, eles teriam captado mais de 1,5 milhão em 6 milhões enviados para a saúde pública. Estranhamente, no Parlamento não havia pressa alguma para cassa-los, enquanto se cogitava mandar Glauber, do PSOL, para fora do mesmo parlamento.

A noite de quarta se estendia, quando o deputado Fernando Mineiro, do PT do RN, lembrou que enquanto Glauber Braga caminhava para a cassação, o mesmo parlamento, horas antes, havia perdoado os que tramaram um Golpe de Estado e um plano que visava a morte do presidente eleito, seu vice e de um ministro do STF. Na noite de terça, sob relatoria do Paulinho da Força, havia entrado em votação, e sido aprovado, o projeto que visava anistiar os golpistas do 8 de janeiro de 2023. PL aprovado, ele pode permitir que Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão, saia livre com apenas 2,5 anos de cadeia.

Glauber, por sua vez, não estava metido em Golpe de Estado e nem em um plano para matar o presidente eleito. Talvez isto, complicasse a sua situação, em um parlamento onde a lógica, tal qual como a ética, são rarefeitos. Glauber estava lá por ter agredido um militante de Extrema Direita que o havia perseguido e espalhado boatos sobre sua mãe, a ex-prefeita de Friburgo, Saudade Braga, falecida em maio de 2024. Jandira Feghali, do PcdoB do Rio, com a seriedade e sobriedade de sempre, lembrou Saudade, que viva e morta, foi vítima das mentiras do MBL. Mãe de Glauber, Saudade sofria de Alzheimer, quando jovens ligados ao Movimento Brasil Livre passaram a espalhar calúnias sobre ela, a acusando de ter sido presa por desvio de verbas da saúde. Saudade já estava em estado avançado de demência e incapaz de falar, ou organizar o pensamento, quando a internet foi tomada de notícias falsas sobre corrupção a envolvendo. Importante: nunca, houve qualquer menção à corrupção na gestão de Saudade, enquanto prefeita.

Em fevereiro de 2020, o Estado de São Paulo, publicou matéria mostrando que as acusações eram todas falsas. Como Saudade já não podia vir a público se defender, ou responder, as mentiras se espalharam rapidamente. Feghali, assim como Hildo, lembrou que cassar o deputado por uma agressão física contra um indivíduo que o perseguia, e que foi atrás dele por sete vezes, além de agredir moralmente a sua mãe, era um ato desproporcional. Ouviu risadas e impropérios de uma bancada do PL que queria a votação sobre a cassação de Glauber, a qualquer custo.

Há alguma sinceridade na Direita brasileira: Laura Carneiro, do PSD do Rio, que não é amiga de Glauber, lembrou que se fosse ela, não teria dado um chute, mas sim, um tapa na cara de quem ofendesse a sua mãe, doente e com Alzheimer. Benedita da Silva, do PT do Rio, lembrou da atuação de Saudade Braga, durante enchentes em Friburgo, no Rio. Médica de formação, Saudade teve olhar especial para as questões que envolvem a saúde pública, enquanto prefeita. Uma delas, o saneamento.

O deputado Reimon, do PT do Rio, lembrou que diante de um “Congresso inimigo do povo”, Glauber poderia ser cassado, mas não calado. Reimon lembrou que deputados que bateram na esposa, ou foram filmados agredindo outros deputados e até mesmo as suas esposas, foram perdoados pelo Conselho de Ética. Maria do Rosário, do PT do RS, lembrou que “alguém que se define como liberal, não poderia trabalhar pela injustiça”, querendo escoar as tradições liberais do século 18, quando foram eles que mais combateram as injustiças frente ao Absolutismo. A parlamentar gaúcha, infelizmente, se equivocou: ninguém da bancada do PL sabe o que é ser liberal, ou o Liberalismo. O nome do Partido, “Liberal”, nunca sequer foi interpretado. Os liberais do passado, e os conservadores de outrora, se reviram no túmulo, ao ver um Zé Trovão falando. Mas é o que se tem para hoje e para 2026.

Fausto Pinato, do PP de São Paulo, que chamou Glauber Braga de “arrogante e prepotente”, disse que não é amigo e nem quer ser do deputado do Rio, mas clamou pelo mínimo de lógica, pedindo a suspensão do mandato por seis meses, e não cassação. Segundo Pinato, não há lógica em cassar alguém por ter agredido uma pessoa que ofendia a sua mãe, vítima de Alzheimer.

A fala de Pinato, um conservador, fora em vão. Quem pedia a cassação de Glauber, não queria dialogo. O primeiro a falar foi Gustavo Gayer, aquele deputado que dirigindo embriagado, já deixara uma mulher tetraplégica. Anos depois, o mesmo Gayer foi pego dirigindo bêbado, de novo! Gayer, por obvio pediu a cassação de Glauber e antecedeu um Bibo Nunes, do PL gaúcho, que se disse “num ringue onde luta pelo Brasil”. Bibo é aquele que diz que usa o carro mais caro fornecido pelo dinheiro público, uma BMW, porque disse que se pode, ele faz. Berrou pedindo a cabeça de Glauber. Mais uma vez, o Rio Grande do Sul se destacou: a gente fica pensando, ao ouvir gente como Bibo falando, o que pensa alguém que vai até uma urna para votar nele.

Mas o pior de todos, viria em seguida: Paulo Bilinski, do PL. Delegado de São Paulo, eleito por 76 mil eleitores, ele se tornou uma referência bolsonarista, após ter matado a própria namorada em uma troca de tiros. Em 2020, após uma discussão, Priscila Barrios, amante de armas como ele, também bolsonarista, teria tentado mata-lo com seis tiros. Bilinski reagiu ao ataque e a matou. Este fato o tornou famoso em todo o país e acabou contribuindo para que se elegesse deputado federal. Bilinski é famoso por declarações estapafúrdias, e também se orgulha de lembrar que seu avô, ucraniano, lutou contra os comunistas durante a Segunda Guerra Mundial – ao lado dos nazistas, é bom que se lembre. Por obvio, pediu a cassação de Glauber.

A noite seguia, e ainda veríamos Kim Kataguiri, aquela figura sebosa do União Brasil de São Paulo, que é favor de Estado mínimo, mas que não larga a teta pública. Kim se tornou famoso no processo de impeachment de Dilma Roussef. Usando o discurso da Anti-política, fundador do MBL, ele ficou nacionalmente ainda mais famoso por ter defendido a existência de um partido nazista no Brasil. Traduzindo: Nazista pode. O que não pode, o que é imoral e mancha a Câmara para Kim, é deputado de Esquerda que reage ao ser agredido e perseguido por um extremista.

Mas calma: Tudo pode piorar, com o Aquecimento Global. Sempre há uma tempestade em Brasília. Depois de Kim, viria Zé Trovão, do PL de SC. Conhecido por defender a Família tradicional e a pena de morte para traficantes, Zé já apareceu em uma foto acompanhado de uma bela carreira de cocaína. Como é de seu estilo gritou, que o governo Lula estava “distribuindo emendas para quem votasse pela absolvição de Glauber”. Conhecido por dizer coisas sem sentido, Trovão ficou gritando isto sem que os seus próprios colegas dessem muita atenção. Zé Trovão é como Carla Zambelli: a turma os elege, e o próprio PL carrega o fardo. Também teve o Coronel Assis, do União Brasil, de Mato Grosso, que pediu a cabeça de Glauber, mas que semana passada vociferou contra a prisão de Bolsonaro, simplesmente minimizando um Golpe de Estado. Para Assis, Glauber consegue ser mais perigoso do que 2 mil aloprados depredando a Praça dos Três Poderes.

Patético também seria Gilvan da Federal, do PL do ES, que agarrado na bandeira do Brasil, chamou Glauber de “vagabundo e criminoso, covarde e canalha” e abriu o seu voto dizendo “PT e PSOL são a desgraça do Brasil”. Gilvan precisava dividir um pouco de sua brutalidade policial, e acabou dando um soco no microfone. Sendo o bruto que sempre foi, ainda berrou “Bolsonaro livre, Deus, Pátria e Liberdade”. Para seu eleitorado, é o que basta. O cara poderia votar para privatizar escola pública, acabar com décimo terceiro e férias, e acabar com a aposentadoria, mas se gritasse “Deus, Pátria e Liberdade”, se elegeria facilmente.

Nicolas Ferreira, do PL do MG, que hoje cresce politicamente mais do que os filhos de Bolsonaro, negou que Glauber agiu em defesa da mãe. O chamando de mentiroso, simplesmente deixou a objetividade do voto contra ou a favor da cassação de Glauber, para fazer uma lista de todos os parlamentares de Esquerda que gostaria de ver cassados. Carlos Jordy, do PL do Rio, que anda com a camiseta de Ustra, como se o torturador fosse um astro pop, também pediu a cabeça de Glauber.

Carlos Jordy, que falaria em seguida, na minha concepção, é o pior de todos por usar camiseta de torturador da Ditadura. Para Jordy, Glauber agredir um Stalker é uma afronta ao parlamento. Engraçado é que Jordy, ele próprio, foi alvo da PF há um ano e acha que isto não afronta o seu cargo eleitoral. Os assessores de Jordy e de Sóstenes Cavalcanti, também do PL, foram flagrados num esquema de desvio de cotas parlamentares. Sóstenes, que se elege com o voto das igrejas evangélicas, inclusive, lembrou ser cristão, e argumentou que traz da sua crença o perdão, mas também “a lei da semeadura” – e, segundo ele, Glauber “semeou” a cassação. Por isto, entre dar o perdão e a corda para o cadafalso, daria a corda sem perdão – e sem trocadilho.

Mauricio Marcon, do Podemos do RS, viria em seguida. Mais uma vez, a gente se pergunta é quem elege Marcon e qual o argumento para ir à uma urna votar nele. Marcon afirmou que “Psolistas fazem fiasco e mimimi”, defendeu a cassação acima de tudo, e disse que “quem tem dó, é piano”. Trocadilho à parte, era mais um “cristão” sem capacidade de ser fraterno. Pelo contrário, ele ainda disse que votaria pela cassação, porque Glauber, “se tivesse faca teria matado outro”. Ou seja: Glauber seria o primeiro deputado punido antes de cometer crime, justamente porque o plenário acha que ele pode cometer algum crime. Marcon, punitivista até por antecipação, é bom que se lembre, está cassado em segunda instância, no RS, por usar candidaturas laranjas para fraudar a cota de gênero.

Luiz Lima, do Novo do RJ, que era bom dentro das piscinas, como atleta, admitiu o voto pela cassação por vingança, a que ele chamou “voto de equivalência, pelo o que eles desejam para a gente”. Lima repetiu aquela história do retardado bolsonarista que diz que comunista come criança e fuzila opositor. Sem exagero, ele é tipo um peixe: para ficar tendo utilidade para o mundo, tem de ficar de molho. Se Luiz Lima sair da água, aparece para falar coisa sem sentido, e votar contra os interesses do povo.

O deputado Pedro Paulo, do PSD do Rio, famoso por sua luta para acabar com o funcionalismo através do PL da Reforma administrativa, subiu à tribuna, para falar contra a cassação de Glauber. Ele é relator do PL que acabará com a estabilidade no emprego de milhões de pessoas, extinguirá concursos e permitirá que CCs ocupem cargos como médicos e professores dentro da órbita pública. O deputado lembrou, entretanto, que é preciso defender “o direito ao contraditório”, afirmou respeitar a trajetória de Glauber, e que não se pode fazer voto por questões policiais.

Pedro Paulo apresentou apoiou a um Destaque proposto também pelo PSOL de que Glauber fosse suspenso por seis meses e não cassado. Enquanto Padro Paulo se posicionava contra a cassação, a bancada do PSD, entretanto, ficava livre para votar como queria, conforme a cara do partido: um balaio de gatos. Tarcísio Motta, do PSOL do Rio, lembrou que a suspensão por seis meses não seria o ideal, e que a considerava injusta, mas concordou que era o que o PSOL poderia obter naquele momento.

Diante da proposta do Destaque, da suspensão, Paulo Magalhães, do PSD da Bahia, relator, defendeu a cassação, mantendo o parecer que veio da Comissão de Ética.

O União Brasil rachou durante este destaque: inicialmente votaria pelo SIM do destaque, ou seja, pela suspensão, mas depois, pressionado pelo PL, liberou os seus deputados. O Deputado Gilson Daniel, do Podemos do ES, orientou o voto SIM pelo destaque, ainda que a sua legenda estivesse liberada para votar como entendesse. O Deputado Acácio Favacho, do PMDB do Amapá, defendeu o Destaque, orientando pela suspensão, ou se houvesse cassação, que se tornasse um parâmetro para todos da Câmara.

Duda Salabert, do PDT de MG, assim como Maria do Rosário, apostou na rarefeita inteligência do Congresso nacional. A parlamentar lembrou Creonte, rei da mitologia grega, que impôs medidas autoritárias, ao qual Antígona não obedeceu – Antígona dizia que a moral estava acima da lei. A mesma Antígona, segundo Salabert, condenada à morte por Creonte, rei de Tebas, seria um parâmetro para Glauber, “condenado à morte política”. Alencar Santana, do PT de São Paulo, lembrou que Glauber seria o primeiro parlamentar preso na Câmara, por uma agressão a um provocador. E estamos falando de Brasília!

O Partido Novo, orientado pelo deputado federal Ricardo Salles, de São Paulo, pediu a cassação de Glauber – Salles, é bom que se lembre, ficou famoso por dizer que enquanto o povo estava preocupado com a COVID, era hora de “Passar a boiada” e depredar o meio ambiente ao máximo. Ministro do Meio ambiente de Bolsonaro, ele acabaria sendo alvo de uma operação da PF por desvio de madeira da floresta amazônica.

Orlando Silva, do PcdoB, votou pela Bancada negra, e aceitou o Destaque. Carlos Zarattini, do PT de São Paulo, também orientou o voto SIM ao destaque. Já a Minoria, orientada pelo Sargento Gonçalves, do PL do RN, disse que Glauber pagaria o preço por “um filiado do PSOL que esfaqueou Bolsonaro”, invocando o maluco Adélio Bispo, que atacou o Jair Messias – sem trocadilho algum. Zé Trovão deixou claro que votaria pela cassação de Glauber, também, porque a Esquerda votaria, em seguida, a cassação de Zambelli – “Hoje nós vamos cassar Glauber Braga” gritava o rapaz com chapéu de cowboy. Zé ainda falou que “André Siciliano estava oferecendo dinheiro do governo para absolver Glauber”. Ninguém deu muita bola, a não ser Hildo Rocha, do PMDB, que em resposta, exigiu a lista dos deputados que receberam a proposta ou o dinheiro, lembrando que Zé Trovão é contumaz em promover este tipo de boato. “Se Vossa excelência não disser o nome, até deputados do PL poderão ser acusados”. Silêncio total.

Arlindo Chinaglia, do PT de São Paulo, lembrou que o voto contra Glauber foi “um comportamento de bando”, onde deputados da Extrema Direita, votaram pela lógica da punição ideológica, por Glauber ser de Esquerda (Hoje no PSOL, mas eleito pela primeira vez pelo PSB). Chinaglia lembrou que Daniel Silveira, tão ecoado nos votos do PL, foi cassado pelo STF, e que não havia parâmetro de comparação entre o bombado Daniel Silveira, e Glauber.

A deputada Celia Xakriabá, do PSOL de MG, lembrou que o movimento pela cassação de Glauber era, por parâmetro ideológico, o mesmo movimento que eliminava indígenas e quilombolas de suas terras, cassando, também, o seu direito de existência. Talíria Patrone, do PSOL do Rio, propôs uma alternativa de advertência, mas não uma cassação. Pompeo de Mattos, do PDT do RS, propôs uma saída: pena de advertência ou suspensão, mas “nunca a pena Capital”.

O líder do PSB, Pedro Campos, de Pernambuco, orientou voto Não à cassação. Ele lembrou que “o mandato de Glauber é um incômodo” até em certas pautas do PSB, mas não se tratava de cassa-lo por isto. O Voto Não também foi a orientação da Bancada da Maioria, liderada por Helder Salomão, do PT do ES. Já o Bloco da Minoria, liderado pelo deputado Sargento Gonçalves, do PL do RN, orientaria o voto SIM pela cassação. Samia Bomfim, do PSOL de São Paulo, esposa de Glauber, recordou que em apenas um ano, ela e o marido se depararam com diversas tragédias familiares, e que este processo, coincidia com a perseguição que Glauber sofrera dentro do Parlamento desde que denunciou o então presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira, do PP de Alagoas.

Durante a primeira votação, entretanto, após 3 horas de embate, a Cassação caiu e entrou o debate do Destaque. Foram 226 deputados que votaram pelo Destaque, propondo a Suspensão de seis meses e não a cassação. Outros 220, votaram pelo Parecer, defendendo a Cassação do mandato. Marcel Van Hattem, do Novo do RS, não aceitou o resultado e tentou evitar o Destaque. Hattem é aquele rapaz germânico, adorado pela Extrema Direita gaúcha e catarinense, e que matou uma pessoa no trânsito há quase 20 anos. Em 2006, ainda vereador em Dois irmãos, uma das terras onde perambulou Joseph Mengele após a Segunda Guerra Mundial, ele atropelou e matou um mecânico na volta para casa, vindo de Porto Alegre. O homem atingido, ficaria sete meses em coma antes da morte. O caso voltou à tona em 2015, dez anos atrás, quando a família do trabalhador morto, alegou ter ficado desamparada e sem nenhuma forma de indenização.

Como não avançou a queixa de Marcel van Hattem, Hugo Motta, do Republicanos da Bahia, presidindo a Câmara, chamou então para a segunda votação, já sem a Cassação. Agora haveria absolvição ou suspensão por seis meses. O PL, momentos antes da votação, rachou, porque Sóstenes não aceitou que o vice líder do PL tivesse votado pelo Destaque. Renildo Calheiros, do PcdoB de Pernambuco, lembraria ainda que o caso de Glauber era lembrado constitucionalmente pelo “Legítimo Direito de Defesa” e não por agressão.

Com 318 votos favoráveis e 141 contrários, o plenário da Câmara aprovou enfim, a suspensão do mandato de Glauber, pelo artigo 10 da Câmara. Mas Glauber, que era o destaque da noite, não seria a única pauta. Assim que Glauber se livrou da cassação, começaram os debates sobre a questão de fundo daquela quarta: Carla Zambelli. Figura sebosa, cassada pelo STF, condenada por invadir o sistema do Conselho nacional de Justiça, e ainda perseguir, armada, um homem, em 29 de outubro de 2022, Zambelli se tornou um problema para a sua bancada. Foi o próprio Jair Bolsonaro que a jogou na água, dizendo que o seu ato em 29 de outubro, véspera da eleição, contribuiu para a sua derrota nas urnas. Como foi recordista de votos, entretanto, a sua votação trouxe consigo mais três parlamentares. Entre eles, Paulo Bilinski.

Cabo Gilberto Silva, do PL da Paraíba, que havia votado pela cassação de Braga, foi o primeiro a pedir a absolvição de Zambelli. Líddice da Mata, do PSB da Paraíba, assim como Pompeo de Mattos, lembrou que mesmo que se ainda houvesse algo a fazer por Zambelli, ela seria cassada por faltas, já que está presa na Itália desde agosto. A Bancada do PSOL defendeu que a pauta da cassação de Zambelli fosse mantida. Marcel Van Hattem, do Novo do RS, pediu a retirada da pauta e que não fosse votada a cassação. Hattem, em um discurso ilógico, alegou que agora era o momento da Esquerda mostrar a sua clemência. O mesmo argumento foi usado por Jordy.

Falaria ainda o relator do REP 2/25, Claudio Cajado, do PP da Bahia. No entanto, Zambelli receberia, após tudo o que fez, armou e disse, os votos benevolentes da Direita e da Extrema Direita, que optaram por não cassa-la em plenário. Entendeu-se que Zambelli, ou os três deputados do PL pegos cobrando propinas não envergonhavam o Parlamento, mas sim, o chute que Glauber deu em um playboy extremista do MBL.

Ao assistir isto tudo, por 4 horas, imaginei Cristo voltando e tentando alimentar o povo: na Câmara, não seria cassado. Seria logo morto. Isto aconteceu com Tibério Graco, morto em 133 AC, por defender no Paramento romano, a Reforma agrária e a Justiça social. Para os Senadores romanos, e até para alguns dos tribunos da Plebe, Tibério havia ofendido demasiadamente os valores da República, de Roma, e do Senado por pensar no povo.

Talvez Glauber seja o mesmo caso. Ele está em Brasília. E o Senado é logo ali ao lado.




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