Hackeamento do TJRS
Investigação sobre hackeamento do TJRS não descarta motivações políticas
Prazos legais de processos seguem suspensos após ciberataque contra Justiça no RS, inclusive petições e processos que envolvem a pandemia e o retorno presencial nas escolas
Por Flavio Ilha / Publicado em 30 de abril de 2021
As atividades da Justiça, na modalidade regular, por sistemas informatizados, está toda suspensa. A orientação ainda é de proibição de acesso pelos funcionários. Os sistemas eProc, eThemis, SEEU e SEI não foram afetados, de acordo com o Tribunal.
A resolução suspendendo os prazos processuais e administrativos foi publicada na noite de quarta-feira. Ficou suspensa, até que nova determinação reestabeleça o sistema, a fluência de prazos processuais nos processos físicos e eletrônicos tanto na área judicial como administrativa.
Dados aprisionados e pedido de resgate
Os dados estão aprisionados por um sistema que emite, de hora em hora, uma mensagem de que o sistema só será liberado com um pagamento de resgate em bitcoins (moeda digital). Não há informação sobre o valor do resgate.
O ataque já dura quase 72 horas. Mas os criminosos cibernéticos não fizeram nenhum contato formal com os técnicos do TJ para exigir o resgate. O presidente do Conselho de Comunicação do TJ, desembargador Antonio Vinicius Amaro da Silveira, estranhou a motivação econômica do ciberataque.
“Pedidos de resgate normalmente envolvem grandes empresas privadas. E ainda que essa fosse a meta, o TJ jamais pagaria (resgate)”, afirmou. Em nota, o Tribunal informou que estão sendo adotadas todas as medidas possíveis para “o breve restabelecimento da normalidade, bem como para a identificação das causas e dos autores do ato criminoso”.
Possíveis motivações estão sendo investigadas
Equipes técnicas e o Núcleo de Inteligência do TJ estão trabalhando desde a manhã de quarta-feira no caso, quando servidores do Tribunal relataram as primeiras dificuldades com o sistema. O ataque foi concretizado de madrugada. O órgão também solicitou apoio especializado ao Conselho Nacional de Justiça.
Outras motivações para o crime estão sendo especuladas, entre elas o interesse de facções criminosas gaúchas em atrasar processos de transferência de líderes de facções para outros estados.
Também há a possibilidade que o objetivo do ataque seja acesso aos dados pessoais de integrantes do Judiciário. Servidores já relataram tentativas de acesso a contas bancárias e a e-mails pessoais.
TJRS foi alvo de protesto contra suspensão de aulas presenciais
Um ataque com motivações políticas não foi descartado, na medida que o TJ foi alvo de protestos na semana passada devido à manutenção da suspensão das aulas presenciais no Estado. Também houve protestos em frente à residência de uma juíza, que decidiu contra o retorno das aulas presenciais em bandeira preta.
Estão paradas, portanto, todas as iniciativas judiciais que visam suspender o retorno das aulas presenciais no estado a partir do novo decreto do governo estadual, que mudou a cor da bandeira, de preta para vermelha por meio de manobra do governo que permitiu a reabertura das escolas. Sindicatos de trabalhadores em educação associação de mães entraram com petições neste sentido.
A Polícia Civil anunciou nesta manhã, 30 de abril, o reforço na equipe da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos (DRCI) para apurar o ataque. Além disso, o TJRS informou o retorno do Sistema SEI para usuários externos e internos do sistema, mas segue vedado o acesso remoto e o uso das estações de trabalho dentro da rede.
O TJRS confirmou ainda que estão suspensos os prazos processuais e administrativos. “As equipes técnicas do TJRS seguem trabalhando para restabelecer a normalidade o mais breve possível”, concluiu a instituição.