Impacto da avaliação externa

Impacto da avaliação externa

Qual o impacto da avaliação externa no cotidiano escolar? 

POR INGRID MATUOKA  28/11/2023

 

Resumo: Escola pública de São Paulo (SP) enfrenta quase dois meses exclusivamente dedicados a instrumentos de avaliação externa. O caso retrata o descompasso entre estas provas e o trabalho pedagógico e cotidiano escolar de unidades por todo o Brasil, bem como a necessidade de repensar seu papel. 

As escolas de Ensino Fundamental da rede municipal de São Paulo (SP) foram submetidas a cerca de seis instrumentos de avaliação externa entre outubro e novembro deste ano, praticamente paralisando o trabalho pedagógico das unidades no período. O caso reacende a necessidade de refletir sobre o papel destas provas diante do desenvolvimento integral dos estudantes não apenas na capital paulista, mas em todo o país.

Na EMEF Espaço de Bitita, uma das unidades que recebeu as seis avaliações entre outubro e novembro, o coordenador pedagógico Carlos Eduardo Fernandes relata que algumas provas levaram cinco dias para serem feitas, em geral tomando entre uma e três horas da jornada escolar diária, inviabilizando qualquer trabalho pedagógico de qualidade com os estudantes em seguida.

Outra questão foi a infraestrutura tecnológica disponível para realizar as avaliações propostas em formato digital. “Temos 19 turmas de Ensino Fundamental para fazer as provas utilizando os nossos 20 computadores”, relata Carlos Eduardo. 

Alguns conteúdos das avaliações também não dialogavam com o Projeto Político Pedagógico da escola. “Uma das perguntas dizia que quem está no mercado de trabalho informal é porque prefere, como se fosse uma qualidade não ter acesso a uma série de garantias de direitos”, aponta o coordenador pedagógico.

As avaliações aconteceram no período de celebração do Novembro Negro, quando acontece a culminância dos vários projetos de educação para as relações étnico-raciais desenvolvidos pela escola ao longo do ano. “Os projetos da escola ficaram em segundo lugar. Tivemos que abrir mão de ações fundamentais para concluir mostras de trabalho sobre esse tema estrutural para a escola e a sociedade”, lamenta Carlos Eduardo.

Ele também relembra os estudantes que foram aprovados para a segunda fase da Olimpíada Brasileira de Matemática e desistiram de participar para não terem que fazer mais uma prova. “Para os estudantes é devastador ser submetido a tantas avaliações longas”, observa o educador.

Para que servem as avaliações externas?

O caso da cidade de São Paulo este ano é um retrato do que várias escolas enfrentam todos os anos, de diferentes formas, para acomodar as exigências das avaliações externas ao trabalho pedagógico e o cotidiano escolar. 

Em nota, a Prefeitura de São Paulo, por Secretaria Municipal de Educação (SME), informou que as avaliações são “de extrema importância para mensurar e analisar as aprendizagens dos estudantes, que podem nortear ações para recuperação e avanços. As unidades escolares são informadas sobre as datas para que organizem seus calendários de modo que as atividades pedagógicas não sejam prejudicadas”. (Leia nota na íntegra ao final da reportagem)

Para Helena Singer, socióloga com mestrado e doutorado pela USP e pós-doutorado em Educação pela Unicamp, é preciso analisar o propósito e o impacto que as avaliações externas têm nas escolas e estudantes, algo que não foi feito desde que foram implementadas no Brasil.

O objetivo da avaliação externa é fornecer indicadores sobre a qualidade da educação ofertada. É assim que se produz o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), por exemplo.  

“Neste ponto, primeiro temos que discutir o que é qualidade da educação. É o aluno que vai bem na prova?”, aponta Helena, que também é Vice-presidente da Ashoka América Latina e coordenadora do Movimento de Inovação na Educação.

A especialista também questiona o processo das avaliações externas. Os estudantes que realizaram a prova este ano, por exemplo, não vão se beneficiar das alterações propostas a partir dos resultados, que levam cerca de dois anos para serem processados e devolvidos às unidades. Até lá, já serão novas turmas, com outros desafios.

“Secretários de Educação e equipes costumam ver como algo positivo porque dá insumos, mas ninguém pergunta para os estudantes, professores e famílias quais foram os benefícios diante dos esforços demandados. Os estudantes não participam do resultado final, mas são profundamente impactados. Em muitas escolas, inclusive, há uma cobrança forte em cima dos estudantes para eles atingirem certos resultados, como se a responsabilidade fosse só deles”, critica Helena.

Essa forma de atuação se insere em toda uma lógica de centralidade das Secretarias de Educação, que tratam as escolas como implementadoras de políticas e projetos, de certas visões formatadas e massificadas de currículo, pedagogia e metas, e ignoram o poder autoral dos professores e de quem pode dizer se aquela escola faz sentido.

“Existem outros indicadores, como os da Ação Educativa, que se produzem de forma participativa com a comunidade escolar, o que muda quem diz se essa é uma escola de qualidade ou não. O Escolas2030 também está engajando as escolas a produzirem seus próprios indicadores, definindo o que elas querem garantir de aprendizagem e como mensuram que as crianças estão desenvolvendo essas aprendizagens”, indica Helena.

Confira a nota da Prefeitura de São Paulo na íntegra: 

A Prefeitura de São Paulo, por Secretaria Municipal de Educação (SME), informa que as avaliações são de extrema importância para mensurar e analisar as aprendizagens dos estudantes, que podem nortear ações para recuperação e avanços. As unidades escolares são informadas sobre as datas para que organizem seus calendários de modo que as atividades pedagógicas não sejam prejudicadas.

A Prova SAEB (antiga Prova Brasil) e a SARESP são organizadas por outros órgãos. O SARESP será aplicado em 05/12 e ocorre anualmente no Estado de São Paulo, diferente do SAEB que ocorre a cada dois anos para todo o país.

Sobre o Teste Adaptativo Interativo (TAI) que se iniciou em setembro, não se configura como uma avaliação externa, servindo para avaliar e replanejar os conhecimentos dos estudantes.

A Prova São Paulo e a Provinha São Paulo são organizadas anualmente pela Rede Municipal de Educação (RME), onde a elaboração é definida pela Divisão de Avaliação. Servindo mensuram as proficiências dos estudantes do  2º ano do Ensino Fundamental até a 2ª série do Ensino Médio em língua portuguesa, matemática, ciências humanas, ciências naturais, além de produção de texto. Este ano, os estudantes da modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) participaram pela primeira vez.

Sendo feitas em formato híbrido, onde a Provinha São Paulo destinada aos estudantes dos 2º e 3º anos do Ensino Fundamental e aos estudantes da etapa de alfabetização do EJA são aplicadas no formato impresso.

Já a Prova São Paulo para os estudantes do 4º ano até a 2ª série do Ensino Médio, que possuem mais habilidades com os recursos tecnológicos, faz as avaliações no formato digital por meio dos tablets distribuídos pela SME e salas de informática da unidade escolar. Com exceção para a prova de produção de texto, que será no formato impresso para todos os estudantes da Rede Municipal, por necessitar da escrita manual.

Vale deixar claro que as escolas podem organizar as realizações das provas de acordo com suas necessidades, como organização e revezamento dos horários para utilização dos laboratórios de informática.

FONTE:

https://educacaointegral.org.br/reportagens/qual-o-impacto-da-avaliacao-externa-no-cotidiano-escolar/?fbclid=IwAR32_S5Y0DFnW96TyE2GSpVIpXrys3Hp0GhoZ-jwcHqEey6X1bto0FeKl3I 




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