Impactos da pandemia na vida de jovens
Impactos da pandemia na vida de jovens no Brasil
Por Gabriel Grabowski / Publicado em 5 de agosto de 2020
Foto: Valter Campanato/ Arquivo Agência Brasil
Efetivamente ser jovem e estudante no Brasil está cada vez mais difícil. Com crise ou sem crise e, independentemente de métodos, indicadores ou fontes que utilizarmos, todos indicam que eles sofrem os maiores impactos da desigualdade social e tecnológica, de redução de renda e aumento do desemprego, da violência policial e da exclusão educacional.
Analisando e referenciando-se em recentes pesquisas sobre os impactos da pandemia na vida e na educação dos estudantes, o cenário é estarrecedor. Enquanto a maioria das famílias, instituições de ensino, governos e mercados continuam preocupados com cenários econômicos e projetando ganhos no futuro, a preocupação imediata dos estudantes é sobreviver.
“As instituições de ensino querem que eu aprenda um monte de coisas, sendo que a minha prioridade agora é sobreviver. E eu preciso sobreviver nesse momento, eu não preciso aprender coisa nova, não tem o porquê eu estar focado em conteúdos muito específicos”, diz um jovem participante da Pesquisa Juventudes e a Pandemia do Coronavírus, publicada em junho de 2020.
Nesta pesquisa, liderada pelo Conselho Nacional da Juventude (Conjuve), outras evidencias se sobressaem entre os jovens, tais como: medo de perder um familiar preocupa 75% dos jovens e 48% temem perder sua saúde; a ansiedade, o tédio e a impaciência foram apontados como os sentimentos mais presentes durante o isolamento social; os principais desafios dos jovens para estudar em casa não estão na falta de tempo ou no aparato tecnológico disponível, mas no equilíbrio emocional, na dificuldade de organização para o estudo a distância e a falta de um ambiente tranquilo em casa; e o acolhimento aparece como o sentimento mais positivo, que pode estar relacionado tanto ao convívio familiar quanto às interações remotas.
Enfrentando barreiras
Para além das atividades escolares, em torno de 40% dos jovens têm buscado formas de aprendizado por conta própria, seja requisitando vídeos ou fazendo cursos on-line e consultando livros impressos ou digitais, contra outros 15% dos jovens que não estão estudando por conta própria durante o distanciamento social.
As barreiras para a continuidade dos estudos são tamanhas que, questionados sobre a volta às aulas após o fim do isolamento social, três a cada 10 jovens confessam que já pensaram em não retornar; 52% não pretendem fazer o Enem, 17% estão indecisos e somente 31% pretendem fazer as provas; sete a cada 10 jovens estão pessimistas em relação à economia brasileira após a pandemia e metade dos respondentes consideram que o governo do país vai piorar um pouco ou muito um ano depois de a pandemia acabar.
Os jovens estão um pouco mais otimistas em relação ao mundo do trabalho: cinco a cada 10 imaginam que o modo como trabalhamos vai melhorar um pouco ou muito. E cinco a cada 10 jovens concordam que novas dinâmicas de ensino-aprendizagem podem surgir tanto no mundo do trabalho como nas formas de estudos e, também, cinco a cada 10 consideram que a pandemia pode trazer mais prestígio, reconhecimento e investimentos para a ciência e pesquisa e para a saúde pública. Já quatro a cada 10 veem que a sociedade pode passar a valorizar mais os profissionais da educação.
Para ajudar nessa nova rotina de estudos, seis a cada 10 jovens consideram que escolas e faculdades devem priorizar atividades para lidar com as emoções (57%) e, cinco a cada 10 pedem estratégias para gestão de tempo e organização (49%).
A exposição dos jovens ao vírus não é escolha: “não é que queremos estar no meio do vírus, somos obrigados todos os dias para sair da sua casa, do seu aconchego, para ir pro serviço, de segunda a sexta, de fazer compras, de pagar algum boleto, então é isso. É tudo englobado, a vida continua por mais difícil que seja, a vida continua com os hábitos diferentes” diz outro jovem ouvido na pesquisa.
Outra recente pesquisa, a da Pnad da Educação 2019, publicada em julho de 2020, apresenta uma outra face da realidade educacional que se impõe sobre as juventudes brasileira e requer atenção e prioridade na sua reversão. Dos 50 milhões de jovens entre 14 a 29 anos, 10,1 milhões não completam alguma das etapas da educação básica, seja por abandono ou por nunca a terem frequentado. Desse total, 71,7% são pretos ou pardos. Então, como implementar a avaliação de desempenho e meritocracia neste país como alguns ainda insistem?
Evasão escolar
E, ao examinar os motivos apontados pela Pnad/IBGE para a evasão escolar, nos deparamos com o seguinte cenário: 39,1% abandonam a escola por necessidade de trabalhar; 29.2% por falta de interesse e, entre as mulheres, 23,8% por gravidez e 11,5% por afazeres domésticos. Já considerando as 46,9 milhões de pessoas de 15 a 29 anos de idade, 22,1% não trabalhavam, não estudavam, nem se qualificavam e, mais da metade das pessoas de 25 anos ou mais não completaram o ensino médio no Brasil.
Dos que completam o ensino médio, 82% não acessam o ensino superior. As últimas pesquisas do IBGE demonstram que o jovem brasileiro não estuda não é porque não quer, mas porque precisa trabalhar e gerar renda. Portanto, reformas do ensino médio e superior que culpabilizam os estudantes, as escolas, os currículos, os professores e as estratégias de ensino erram por intenção ou por ignorância.
Outro estudo intitulado Políticas públicas para redução do abandono e evasão escolar de jovens (Insper/SP) aponta que, no Brasil, há atualmente cerca de 10,3 milhões de jovens entre 15 e 17 anos. No entanto, 1,5 milhão de jovens sequer se matricula no início do ano letivo; apenas 8,8 milhões de jovens matriculam-se e desse total, outros 0,7 milhão abandonam a escola antes do final do ano letivo. Como resultado dessa elevada evasão e abandono, apenas 6,1 milhões de jovens entre 15 e 17 anos (59% do total) concluem a educação média com, no máximo, um ano de atraso.
Essas estatísticas, agregadas a uma lógica de educação de jovens visando meramente sucessos profissionais individuais, centrando numa formação tecnicista instrumental e não de acordo com as necessidades de longo prazo como seres conscientes, desconstrói os projetos e ideias dos jovens no presente e no futuro.
Portanto, neste contexto de pandemia e escolas fechadas, é dever ético de todos os educadores e instituições de formação realizar a práxis da escuta pedagógica do jovem estudante em busca da compreensão, de alívio e de cuidado de sua vida e da saúde física e mental.
Sobreviver e Vida com qualidade importam!